Mapa do Site Condições de Utilização © Arquidiocese de Braga. Todos os direitos reservados
Já na primeira leitura, do Livro dos Provérbios, capítulo 8, a Sabedoria aparece como a ponte que nos une a Deus. E o texto da Carta aos Romanos leva-nos a pensar que essa ponte que nos une a Deus é Jesus Cristo. Por Ele, estamos unidos a Deus. E por meio dele recebemos a fé e a esperança.
Mas há mais: «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Romanos 5, 5). E assim, é colocado diante de nós o mistério da Trindade de Deus. O Pai é Deus. O Filho é Deus. O Espírito Santo é Deus. Não são três deuses. É sim, a maravilha da comunidade de Deus. O Deus da paz faz-nos justos por meio de Jesus Cristo e derrama sobre nós o amor por meio do Espírito. A Trindade é dinamismo, atividade e entrega.
O evangelho leva-nos ao contexto da Ceia primeira, como gosta de dizer Dom António Couto. E a mensagem de Jesus remete-nos para a origem: «Tudo o que o Pai tem é meu». O Espírito tomará do que pertence a ambos e comunicá-lo-á aos discípulos. Assim, a Trindade apresenta-se e faz-se doação e ensino, verdade e vida.
Como bom Mestre, Jesus sabe muito bem que os discípulos não estão capacitados, por si só, para captarem toda a riqueza e profundidade da sua mensagem: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há de guiar-vos para a verdade completa». E assim se nos diz que as nossas verdades de fé não são sempre fáceis de acreditar, proclamar e viver.
A fé é um dom, mas esse dom supõe uma preparação e exige uma resposta. Além disso, é-nos ainda anunciada a possibilidade e a alegria de chegar à verdade plena, pelo que a nossa vida deve estar marcada pela esperança. Vamos percorrendo caminho, guiados pela luz do Espírito que nos descobre a Sabedoria (Jesus Cristo) e a Misericórdia de Deus (Pai).
A Trindade é a nossa origem e o nosso fim. Estamos impregnados de uma relação de amor, porque vimos, não de um Deus solitário, mas de um Deus de amor. Estamos chamados a uma comunhão de amor, construída através de toda a vida – e por isso a solidão é um limite, e toda falência de amor é uma derrota.
O amor pelo qual fomos feitos é o próprio Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Não é um Deus solitário, mas um Deus de amor, um Deus relação, um Deus misericordioso e piedoso.
Segue-se então que, viver a nossa vida orientada aos três – Pai, Filho e Espírito Santo – viver a nossa vida em companhia da Trindade significa alimentar a esperança de atingir a meta. A meta existe. Não é um árido sonho. A meta é o todo, não o escuro do nada ou a insatisfação do parcial. A meta está ao nosso alcance, não por mérito nosso, mas por dom de Cristo Salvador.
Radicados num presente que contém fragmentos de Deus, mas ainda provisório, nós orientamo-nos para um futuro que pertence a Deus e, portanto, também a nós com Deus. Por isso os crentes traçam todos os dias sobre si o sinal da cruz, o sinal do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para se recordarem que, se podem esperar, o devem a Ele: «Tudo aquilo que o Pai possui é meu, por isso disse que o Espírito Santo tomará do que é meu e vo-lo anunciará» (Evangelho). Os verbos no futuro indicam a meta colocada no futuro. Receberemos de Deus aquilo que é seu: a perfeição da liberdade, do amor, da vida. Já não é um sonho vão, nem uma esperança vazia.
Traçamos o sinal trinitário sobre nós, para vivermos já agora em comunhão com Ele e para não perder a esperança que ilumina os nossos olhos. Já não haverá mais tormentos, mas puro êxtase. Não mais meias verdades, mas a verdade plena, porque a Verdade sobre a vida, sobre o homem e sobre o mundo é a Trindade na sua Sabedoria, no seu Espírito e na Comunhão do amor, finalmente libertos da corrupção e da morte; finalmente, amantes continuamente amados, felizes para a eternidade, e não para um momento apenas. A casa Trinitária será a nossa vida.
Acreditar no amor trinitário é viver crescendo como homens e mulheres imersos no amor gratuito do Pai; seguir Jesus na sua obediência ao Pai e no amor incondicional aos irmãos, e deixar-nos guiar sempre pelo seu Espírito, dando frutos de amor, alegria e paz.
Acreditar na Trindade é reproduzir os gestos criadores do Pai, levando aos outros a vida e a felicidade, partilhando o que somos e o que temos, e dando o maior fruto possível. Para isso, é imprescindível viver combatendo o egoísmo e crescendo cada vez mais em generosidade.