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ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

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2 Fev 2020
O carisma que ilumina o mundo
Homilia no Dia Mundial da Vida Consagrada
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O 24º Dia Mundial da Vida Consagrada é sempre uma oportunidade para reflectirmos com seriedade sobre o dom da vocação de especial consagração. Cada um(a) deve vivê-lo para si na procura de uma autenticidade de vida que o(a) realiza interiormente e dá felicidade para o quotidiano. 

Mas, em simultâneo, teremos de viver este dom em Igreja com a responsabilidade de mostrar que continua a ser maravilhoso o dom do chamamento. Em questão está a alegria de ser consagrado(a) hoje, aqui e agora, e de testemunhar a actualidade dos carismas que foram surgindo ao longo da história da Igreja e que não envelheceram. Podemos ser menos e mais idosos, mas o dom que o Espírito concedeu a tantos fundadores, que hoje responsavelmente recordamos, continua repleto de uma eterna juventude. Importa, por isso, descobrir o melhor caminho a seguir para o mostrar. 

Os carismas não estão condenados a desaparecer. É essencial que os redescobramos na sua autenticidade e radicalidade, permitindo que o Espírito Santo os apresente no seu verdadeiro esplendor já experimentado nos tempos áureos que todas as Congregações e Institutos já tiveram. Mostremos, por isso, aqui nesta Basílica mas nas comunidades e nas nossas casas, que temos futuro. Pode parecer que os tempos são de crise. Muitos falam de um Inverno da vida consagrada. Não nos deixemos tomar pelo pessimismo. Mesmo que seja Inverno, chegaremos à Primavera, desde que seja o Espírito a conduzir-nos e não as nossas impressões pessoais tantas vezes marcadas pelo egoísmo e falta generosidade.

Louvemos a Deus pelo nosso carisma, abramo-nos às novidades para as quais o mesmo Deus nos vai conduzindo.

Com esta palavra de alento, aproximemo-nos do espírito da liturgia que hoje celebramos. Não nos prendamos a pormenores acidentais. Hoje recordámos aquele momento em que Maria vive a sua vocação. Deus chamou-a a ser a mãe de Jesus, não para que O conservasse para si. Foi somente instrumento para O oferecer ao mundo. Muitos o esperavam há muito tempo. Deus havia prometido que não morreriam sem O ver. Simeão e Ana são dois nomes dos muitos que recuperaram a alegria e o sentido da festa na vida. Maria oferece Deus na pessoa de Cristo e, a partir daquele dia, muitos encontram-se com a felicidade.

São muitos os carismas e Deus serve-se deles para se manifestar ao mundo. Nada tem valor se não orientado para esta oferta. É isso que está acontecer na nossa vida pessoal e comunitária? Parece que o mundo se afasta de Deus. Não é verdade! 

Sabemos que algumas das suas imagens já não convencem nem atraem. Há muito pó que se foi acumulando ao longo da História. Este é um primeiro trabalho que teremos de realizar: recuperar a verdadeira imagem de Deus como a única coisa que devemos oferecer. Recuperar não significa enveredar por caminhos que alguns consideram modernos. Cristo é de ontem, de hoje e de sempre. O que se impõe é a fidelidade ao Evangelho na radicalidade de acolher os seus conteúdos sem demasiadas interpretações humanas. Nós precisamos de Deus naquilo que Ele é e os outros precisam de O presenciar de um modo inequívoco e transparente. Radicalidade e transparência são imprescindíveis.

Neste percurso de recuperação da imagem de Deus a oferecer, pelo encanto da consagração, precisa-se de viver uma experiência forte, a partir de uma intensa espiritualidade mas em comunhão com os outros irmãos. Foi sempre assim. Outrora era tudo muito espontâneo. Hoje teremos de dar consistência a esta surgente de vida consagrada. Não é possível encontrar alegria na vida consagrada sem uma interioridade. Trata-se de uma responsabilidade pessoal mas, hoje, é necessário fazer juntos a experiência de Deus. Este juntos é programático e nunca pode ser esquecido. Até que ponto todos temos consciência desta atitude interior?

Fazemos uma experiência de Deus juntos para também juntos mostrarmos Deus ao mundo. Com os carismas, Deus quer comunicar a alegria do Evangelho. Precisamos, por isso, de sair pelas estradas dos homens tomados por um espírito contemplativo mas marcados também por uma empatia pelos homens e mulheres deste tempo concreto em que vivemos.

O amor pelos homens e mulheres favorece o encontro com Deus, assim como a vida espiritual. Nunca poderemos esquecer que só quem ama o próximo ama a Deus. As situações concretas das pessoas são nossas. Os seus problemas e dificuldades pertencem-nos. Os caminhos das comunidades religiosas acontecem na solidariedade. Na atenção aos outros continuamos a experiência de fraternidade que temos dentro das comunidades. Não sei se sou justo ao pensar que hoje existe um enorme deficit de fraternidade nas comunidades e, por isso, não ousamos mergulhar nos espaços sombrios da sociedade. Deus interessa-se pelos homens e quando nos entregamos a Ele levamos connosco tudo o que é humano.

O Programa Pastoral da Arquidiocese de Braga convida a levantar-se e semear esperança. Olho para os quase 700 consagrados a viver na Arquidiocese e parece que muito mais poderia ser feito. Semear esperança é sobretudo uma atitude de proximidade e a vida consagrada tem de se aproximar muito mais do que é humano. Tenho pedido às nossas comunidades paroquiais que se aproximem das famílias, dos jovens e daqueles que vivem em situação de precariedade seja material ou espiritual.

Consciente das dificuldades, acredito que as comunidades religiosas poderiam estar ainda mais próximas das famílias, dos jovens e dos pobres. Isto não perturba a interioridade. Antes pelo contrário, dá-lhe profundidade e autenticidade. Peço-vos ajuda: aproximai-vos dos jovens. Criai iniciativas. Caminhai com eles. Apaixonai-vos pela juventude que procura um sentido para a vida. A mensagem do Presidente da Comissão das Vocações e Ministérios recorda que somos consagrados para evangelizar. Fazei, por isso, que as vossas vidas se encham de um sentido profético. 

Estamos, também, à procura de caminhos de renovação eclesial. Outrora, e sabemos muito bem, o caminho pastoral estava rigorosamente delineado. Hoje teremos de estar em permanente atenção para compreender qual o caminho a percorrer. Agradeço as vossas orações para empreendermos uma relação com a originalidade do Evangelho. Sei, também, que o Espírito sopra onde quer e como quer. Ouso, por isso, solicitar a vossa reflexão, partilhando-a. O caminho da Igreja envolve a todos e com as vossas sugestões poderemos encontrar caminhos de evangelização adequados aos tempos actuais.

Quero terminar recordando-vos o dom que a Arquidiocese teve o ano passado, com a canonização de São Bartolomeu dos Mártires. Com ele e como ele, não queiramos conformar-nos a este mundo mas saibamos estar nele com consciência e responsabilidade, procurando arder em paixão por Deus e pelo Seu Reino, assim como iluminar com a força do testemunho comunitário. Façamos juntos uma experiência de Deus e juntos mostremos Deus ao mundo. 

Neste Dia do Consagrado, agradeço a Deus o dom da vossa vida e trabalho que realizais na Arquidiocese. Como Arcebispo, sinto-me no dever de vos dizer “muito obrigado”. Podeis contar comigo. Só juntos, em verdadeira unidade eclesial, somos luz que faz resplandecer Deus neste mundo sombrio. 

Que N. S. das Candeias nos acompanhe na fidelidade ao carisma e na responsabilidade de o colocar, alegremente, no coração do mundo.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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