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ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

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27 Mar 2020
Sexta-feira da IV Semana da Quaresma
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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A história da Igreja apresenta-nos diferentes configurações da sua identidade ao longo dos tempos. Foi sempre a mesma Igreja mas com rostos diferentes, de harmonia com as exigências culturais das épocas. Ninguém ignora que viemos de um tempo onde a Igreja estava confiada exclusivamente aos padres. Eles é que sabiam, que ensinavam, que celebravam a liturgia e os cristãos eram meros assistentes e cumpridores de orientações pensadas e executadas a partir de cima. Era uma verdadeira pirâmide onde o povo se encontrava, na sua maioria, na base e os clérigos, do ponto alto, comandavam  e decidiam. 

Hoje, graças a Deus, começamos a pensar na inversão da pirâmide. É uma inevitabilidade, não porque corresponda aos gostos de alguns mas porque o Concílio Vaticano II o intuiu como verdadeira revolução. O povo de Deus foi colocado em primeiro lugar com a igualdade da vocação cristã que depois discorre para uma Igreja ministerial onde as responsabilidades são discernidas e interpretadas em comum. Sabemos que a doutrina é muito clara. Ainda falta muito mas, graças a Deus, que o Senhor nos concedeu esta hora maravilhosa que nos é dada a viver. Teoricamente o caminho está traçado. No concreto, vamos caminhando com avanços e recuos. A culpa poderá ser do clericalismo dos sacerdotes mas também do passivismo dos leigos. Urge acordar e saber que Deus e o mundo esperam uma Igreja diferente. Vemos muitas coisas a cair. Não fiquemos pasmados e lamentando-nos. Sabemos que nesta hora de crise, para a Igreja mas também para a sociedade civil, teremos de reconstruir a Igreja. S. Francisco de Assis ouviu semelhante interpelação de Deus. Pensou que se tratava dos edifícios. Só mais tarde compreendeu que o encargo era de dar vida ao Corpo de Cristo emprestando aos dinamismos internos um espírito novo.

Por vezes ficamos à espera que algo miraculoso possa acontecer. Creio que esta quarentena nos ajudará a reflectirmos sobre a verdadeira identidade da Igreja. Deixo ficar um outro pensamento das Irmãs Clarissas de Cadiz. “Olhe para dentro de si próprio, o espaço mais amplo para a pessoa se expandir e ser feliz está no seu coração. Não são necessários espaços exteriores, mas andar folgadamente no próprio mundo. Dê asas à criatividade, escute as suas próprias inspirações, e encontre a beleza de que se é capaz. Talvez ainda não tenha descoberto que da paz da alma brota  vida… a vida é criação de mais vida, comunicação de alegria e amor. Quando se acostumar a viver em si, já não quererá sair”.

Quase sempre navegamos no mundo exterior e empurramos as responsabilidades para os outros. Quando os sacerdotes, em primeiro lugar, entrarem dentro de si e a partir de dentro derem espaço à criatividade, o novo rosto aparecerá. Se os leigos conseguirem intuir que Deus está no centro e que tudo nasce desta primazia, então o entusiasmo será uma realidade, o caminho a percorrer será claro,  e não faltará generosidade com a força suficiente para vencer todas as contrariedades. Basta de nos acusarmos uns aos outros. Permitamos que seja Deus a orientar e a conduzir o povo. Somos, só e apenas, meros instrumentos que facilitam ou complicam que Deus fale e vá construindo a Igreja que deseja para esta época com características que ninguém é capaz de compreender convenientemente.

Jesus falava abertamente nas terras da Galileia, diz-nos o Evangelho de hoje, mesmo sabendo que o queriam matar. Tinha dentro de si assimilado o projecto do Pai. Depois nada o detinha. Também, segundo o livro da Sabedoria, os justos eram incomodados, censurados, repreendidos, considerados escória, provados com ultrajes e torturas, condenados à morte. Mas os ímpios enganam-se pois ignoram os segredos de Deus e nunca esperam que a santidade seja recompensada.

É esta a dinâmica que hoje os baptizados terão de assumir. Partir de dentro, alicerçar seriamente a sua vocação e depois deixar-se conduzir. Quando isto acontecer, a Igreja concretizará o que importa para o agora da sociedade. Haverá alegria para quem anuncia e para aqueles que ouvem. Trata-se de uma conversão a que não podemos fugir. Os momentos que estamos a viver mostram a caducidade de tanta coisa. Também a Igreja perde tempo a delinear estratégias, umas depois das outras, quando deveria olhar para dentro, ver mais longe e ser ousada propondo o Evangelho na sua radicalidade e nunca com interpretações meramente teóricas ou subjectivas. Vale a pena mudar de rota. Não podemos perder mais tempo. A Igreja é constituída por sacerdotes e leigos, numa dignidade comum que importa compreender. O trabalho pastoral deve mostrar o amor que temos dentro. Que isto aconteça verdadeiramente.


† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Introdução

Esta Sexta-feira ficará marcada nos anais da história da Igreja pelo convite do Santo Padre a uma oração de âmbito mundial. Tivemos oportunidade de a viver há momentos. O Papa Francisco quis oferecer uma benção ao mundo inteiro. Habitualmente só acontece no dia de Natal e no dia de Páscoa, chama-se bênção Urbi et orbi. Urbi porque dirigida à cidade de Roma, pela proximidade do Papa a esta cidade. E Orbi, ou seja, ao mundo, como expressão da universalidade da Igreja naquilo que é e na tomada de consciência da universalidade da sua missão.

Quando o Santo Padre a apresentou disse que deveria ser uma resposta à pandemia do vírus com a universalidade da oração. Fizemo-la, com toda a certeza, naquele momento mas queremos continuar com o mesmo espírito de resposta ao problema com a nossa oração diária. O Papa acrescentou ainda duas palavras que caracterizam esta oração quotidiana: compaixão e ternura. Com a compaixão, estava a dizer que a queremos oferecer a todas as vítimas. E com a ternura assumimos o dever da proximidade com todos, mesmo que separados fisicamente.

Que o Senhor Deus nos torne cristãos que sofrem com quem sofre e que a todos, nos modos que agora podemos concretizar, presentes nas suas vidas. 

Momento da paz

Quando iniciamos esta experiência maravilhosa da celebração da eucaristia diária, num clima de genuína comunhão, pensei delinear um itinerário para ir partilhando ideias a partir de um esquema pré-estabelecido sobre aquilo que devemos ser como Igreja. Depois quis deixar-me levar pelas questões que iam acontecendo. Perdi a ideia de algo estruturado para caminhar na espontaneidade. Hoje reservei o dia para pensar nos leigos. Creio que são poucos aqueles que têm uma noção clara sobre a sua identidade. Importa que muitos sintam a inquietação de descobrir a sua verdadeira vocação laical. Para hoje, e neste momento, apenas quero expressar comunhão e testemunhar gratidão a quantos já vivem o seu estatuto de membros vivos e responsáveis. A cada um quero, em nome de Cristo que a todos convida e envia, dizer: muito obrigado! Que Deus vos cumule com as Suas bênçãos.

Despedida

Vamos partir. Quero deixar o meu sonho de uma Igreja onde os leigos não são meramente colaboradores dos bispos ou dos sacerdotes. Há uma vocação original e maravilhosa. Só os próprios a podem compreender verdadeiramente. Precisam de aliar a reflexão e o compromisso. Urge uma formação que conduza a uma consciencialização e a um exercício dos diversos ministérios. São as asas com as quais se pode voar para a compreensão da vocação laical. Há uma plêiade enorme de leigos em todas as nossas comunidades. Importa que vivam a sua vocação com encanto e entusiasmo. Muitos outros têm espaço nas comunidades. Saibam que a porta está aberta para todos. Não queremos meros executores de ordens. Só caminharemos ao ritmo da Igreja que Deus quer para os dias de hoje quando caminharmos responsavelmente e sinodalmente. Queiramos sentir a profundidade de uma vocação admirável.

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