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Pe. Jorge Vilaça | Braga| 22 Nov 2018
Calçar os sapatos dos outros
Pe. Jorge Vilaça, CMAB
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1. Todos conhecemos pessoas com “bom coração”, que vivem só para os outros, sentem pelos outros, “resolvem” com empenho os problemas e dúvidas dos outros. Quando não conseguem efetivamente ajudar sentem-se mal, frequentemente culpadas. Descentradas, activas, simpáticas, boas ouvintes, sensíveis, são atraídas (mutuamente) por pessoas e situações negativas, em todo o tempo, momento e lugar. Eis algumas hipóteses de gestão desta hipertensão espiritual:

a) aprenderem a lidar com isso, interiormente, através do sistema tentativa-erro;

b) procurarem ajuda para compreenderem o que sentem e fazem e tirarem partido disso;

c) tornarem-se vítimas ou, no limite, doentes.

2. É bastante comum encontrar estas pessoas simpáticas, de bom coração, em ambientes espirituais e religiosos e nos mais diversos serviços de auxílio aos outros, sobretudo se muito necessitados. São simpáticas, envolvem-se, trabalham, interessam-se. Obviamente que há muitos modos de analisar esses “bons corações”, numa amplitude que vai das questões do “berço” até à efusão do Espírito Santo, passando por corpos abertos e fechados. Detenhamo-nos hoje na definição de algumas palavras equívocas afins ao “bom coração”, também do ponto de vista espiritual.

3. Apatia, simpatia, antipatia, empatia, ecpatia: estas são algumas das muitas palavras que conservam a etimologia grega pathos (paixão, sofrimento). Ainda que do ponto de vista psicológico se prestem a muitas explicações, na linguagem comum associamos a apatia à indiferença, a simpatia e a antipatia à boa ou má educação e a empatia à sintonia entre pessoas. Em comum têm o grau de implicação emocional nos relacionamentos: a pessoa apática aparentemente não se envolve; a antipática distancia-se, porventura agredindo; a simpática mistura-se até se confundir; a empática envolve-se e depois diferencia-se. Nitidamente preferimos ser e encontrar pessoas empáticas. São raras, contudo.

4. A empatia é, de facto, uma ferramenta imprescindível em qualquer tipo de relacionamento. Por natureza ou por treino diário, a empatia é uma atitude (cognitiva, afectiva, comportamental) que se caracteriza pela recusa da tendência paternalista (“tens de fazer assim”), pela compreensão da posição dos outros e pela transmissão dessa compreensão (misericórdia). Não é, sublinhe-se, aprovação do que é dito/feito mas o esforço por entender o ponto de vista alheio e comunica-lo. Dito de maneira prática, “calçar os sapatos dos outros”, a que alguém acrescentou acertadamente “sem se esquecer que os sapatos são dos outros” (diferenciação). Nesta última frase reside uma das questões fundamentais: não esquecer que os sapatos são dos outros!

5. E a ecpatia? J. L. González de Rivera Revuelta introduziu esta última palavra porque a empatia, a disposição interior que permite entrar no coração do outro, ver com os seus olhos, ouvir com os seus ouvidos e captar bem o que o outro sente no seu mundo interior e comunicar tal compreensão, deriva muito facilmente para a inundação da vida daquele que se propõe ajudar. Sim, é difícil descalçar os sapatos do outro, sobretudo se nos aproximamos com misericórdia. Ek-patheia, ecpatia, “sentir fora”, “voltar a calçar os seus próprios sapatos”, é – segundo o autor – “o processo mental de exclusão ativa dos sentimentos induzidos pelos outros”. Uma ferramenta, portanto, para compensar ou regular a empatia, para clarificar os seus limites. Faz lembrar o bom samaritano que, vendo o homem caído, se aproximou dele e o cuidou... mas depois o entregou a um outro.

6. O Dia Internacional do Voluntariado celebra-se no próximo dia 5 de Dezembro: só um em cada dez portugueses faz voluntariado, uma das médias mais baixas da Europa... Ainda assim, mais de um milhão de voluntários! Bons corações que calçam os sapatos dos outros, os ajudam, mas que devolvem os sapatos ao dono.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 22 de novembro de 2018.

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