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26 Jun 2015
Bom Jesus, Património da Humanidade
Discurso na Conferência Internacional do Bom Jesus "Vozes e contributos à candidatura a Património Mundial”
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  © Avelino Lima

Estamos a inaugurar uma conferência que propõe um objectivo muito específico: confirmar e reforçar a candidatura do Bom Jesus do Monte a Património da Humanidade. É uma causa que nos envolve e que, pela sua inquestionável pertinência, procuramos potenciar de todos os modos. Não o fazemos por vaidade ou pretensões regionalistas. Motiva-nos o reconhecimento e o anseio de multidões de pessoas que diariamente procuram esta estância.

A ideia do sagrado, enquanto necessidade de uma relação íntima e próxima com Deus, encontra variadíssimos sinais que confirmam que a Igreja impulsionou diversos artistas e criadores de património que hoje caracterizam lugares e espaços. Admitir esta realidade não é simples recordação histórica. É, pelo contrário, o reconhecimento inequívoco do contributo da fé para a construção da identidade cultural de um povo. A Igreja foi sempre uma presença dinâmica e colocou no coração do mundo as realidades materiais que a transcendem. Nasceram dela, são dela, mas ultrapassam-na para beneficiar a Humanidade.

Podemos, por isso, afirmar que conhecer e compreender a Europa é impossível sem aceitar a influência eclesial. A Igreja foi modelando e estimulando a cultura. Deu vida a civilizações com características distintivas e, ao mesmo tempo, respeitou a multiculturalidade. Acolheu o melhor desde a civilização romana e helénica até aos esplendores da Idade Média, assim como no pragmatismo da Modernidade, e acrescentou-lhe uma peculiaridade que a diferencia de muitas outras realidades.

Esta presença, em benefício da sociedade, atravessou todas as dimensões da vida humana, mas mais eloquentemente nas perspectivas artísticas e arquitectónicas. Dar valor, hoje, a estas expressões é sinónimo de uma cultura consciente, não apenas porque evoca a História mas também porque sintetiza os valores que acompanharam a evolução da Humanidade. Esquecer a fé que motivou tantas obras, creio não ser reducionista, é negligenciar a matriz cultural do nosso país. Este facto, que alguns podem não aceitar, deve ser reconhecido pela maioria dos portugueses.

Ainda que estas expressões artísticas encerrem um valor nelas próprias, o turismo veio exigir responsabilidades a que ninguém se pode furtar. Os tesouros devem ser trabalhados e colocados nas vitrinas do mundo. Não o fazer é de uma negligência imperdoável. Há realidades que, efectivamente, se tornaram, a partir do seu ponto original, um verdadeiro património da Humanidade. Impõe-se, por conseguinte, uma conclusão capaz de dissipar algumas interpelações mais subjectivas e desconsideradoras do verdadeiro sentido histórico do património.

Esta conferência deve ser mais um alerta que nos compromete a todos numa causa: reconhecer o valor patrimonial do Ex-libris da cidade de Braga. O Bom Jesus aparece em muitos programas turísticos mas deve aparecer ainda muito mais. Não é justo reservá-lo para nós ou dá-lo a conhecer de modo imperfeito. Daí o trabalho ingente da Igreja realizado nos últimos tempos, que ainda poucas autoridades o reconheceram. Este talvez não seja o momento para referências especiais. Estou convencido, todavia, que esquecer o Bom Jesus é esquecer Braga. Por esta razão, pensar que apenas a Igreja deve ocupar-se e preocupar-se com a causa do Bom Jesus denota uma desconsideração histórica para com um povo que aqui viveu e deu esplendor a um lugar privilegiado.

Atrevo-me a trazer à colação um pequeno texto do Papa Francisco: “Na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar à aparência. Em muitos países, a globalização comportou uma acelerada deterioração das raízes culturais com a invasão de tendências pertencentes a outras culturas, economicamente desenvolvidas mas eticamente debilitadas” (Evangelii Gaudium, 62). Com facilidade, hoje, visitamos o estrangeiro e tecemos elogios às coisas dos outros. Esquecemo-nos, infelizmente, das nas nossas riquezas e do nosso património. Damos por descontado o conhecimento quando, na verdade, o nosso conhecimentos é muito superficial. Interessa, pelo contrário, conhecer profundamente a nossa cultura para assim intervir numa cidadania responsável ou, o que também é verdade, num cristianismo de intervenção e autêntica inculturação. Será que ofende perguntar quantos bracarenses conhecem integralmente os diversos pormenores da riqueza do Bom Jesus?

Daí que a causa do Bom Jesus, como Património da Humanidade, devesse envolver todos os bracarenses, poderes civis, assim como os visitantes. O edificado patrimonial e o ambiente florestal causam estupefacção. Sabemos que o contributo dos antepassados deve ser enriquecido pelo presente. Não podemos contentar-nos com as críticas negativas perante pormenores de somenos importância. Mas esperamos e agradecemos um envolvimento nesta causa com sugestões e partilha. É hora de dar consistência à Liga dos Amigos do Bom Jesus. O pouco de muitos faz a diferença. E o amor de cada um, a este local, gerará um amor universal.

Também as instâncias governamentais, a nível local ou nacional, deveriam acreditar que a causa não é meramente religiosa. Com o Bom Jesus potencia-se a marca de Braga e de Portugal e suscita-se vontade de voltar e trazer outros, nacionais e estrangeiros. Não me refiro àquelas visitas de agências de viagem com o cronómetro na mão. Refiro-me a visitas demoradas, com tempo para desfrutar a genuína dimensão do património arquitectónico, o encanto da rica florestação, e que iremos enriquecer muito mais (assim muitos nos ajudem) com condições favoráveis para o lazer ou convívio familiar. Gosto de recordar que grandes homens da literatura, por exemplo Camilo Castelo Branco, se inspiraram com o silêncio bucólico destes lugares. A comunicação social deveria recolher todos os elementos característicos e os artistas da sétima arte encontrariam condições para realizar arte com contextos diversificados. A cultura musical pode ser experimentada e usufruída. Da parte da Igreja não deixarão de existir propostas. Mas aceitamos iniciativas, com a respectiva colaboração e patrocínio, desde que respeitem a dignidade que este lugar exige. Há muitas associações que se podem unir ao projecto: a Autarquia não pode despiciendo o valor do Bom Jesus para a economia local e o Governo nunca deve esquecer que por aqui também passa o nome de Portugal.

Poderia continuar a elencar actividades e sugestões. Basta-me repetir este alerta de que o Bom Jesus merece a atenção de todos e que deve ser usufruído por razões muito variadas, onde a vertente religiosa também poderá enriquecer a quem vive apressado e não consegue parar. Este local é um espaço de espiritualidade, uma espaço favorável para quem procura a esperança de viver e a coragem para encarar os problemas.

Há dias, permitam-me esta breve conclusão, uma pessoa contou-me que reza olhando sempre para as cinco direcções: para a frente, para saber cuidadosamente para onde nos dirigimos; para trás, para recordar conscientemente o passado; para baixo, para não, distraidamente, pisarmos a ninguém; para os lados, para serenamente verificarmos quem nos acompanha; para cima, para tranquilamente consciencializarmo-nos de que há alguém que nos olha e que cuida de nós.

Neste dia, gostaria de partir da certeza que o Bom Jesus é uma história de amor oferecido por Alguém que do alto nos segreda a Sua bondade e cuja voz nunca se pode desconsiderar. Reconhecer que muitos – a sociedade e a Igreja – nos acompanham lado a lado, trabalhando e criando todas as condições para que o Bom Jesus seja reconhecido como património da Humanidade. Garantir que respeitamos as raízes e que nos orgulhamos, sem pudor, das nossas origens, e da nossa identidade nacional, ou pelo menos, minhota. Acreditar que na nossa rectaguarda está uma plêiade de homens e mulheres que nos impelem para um presente responsável e que, por isso, lhes devemos gratidão por quanto ousaram construir. Perspectivar o futuro congregando esforços e olhando para a frente com a ousadia que as grandes causas exigem e merecem.

Que a singeleza, quase ingénua, destas minhas palavras, seja um pequeno contributo para esta grande causa do Bom Jesus, candidata a Património Mundial, e para que a Humanidade, feita de homens e de mulheres, oriundos de longe ou de perto, queira conhecer, com tempo e entusiasmo, esta jóia artística e cultural.

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