Arquidiocese

ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

[+info e Calendário]

 

Desejo subscrever a newsletter da Arquidiocese de Braga
Sé de Braga| 3 Jan 2023
"Senhor, Eu Amo-te!"
Homilia de D. José Cordeiro na Celebração em Sufrágio e gratidão por Bento XVI - Sé de Braga, 3 de janeiro de 2023
PARTILHAR IMPRIMIR
  © Avelino Lima

Hoje, estamos aqui reunidos na nossa igreja Catedral, em sufrágio pelo Papa emérito Bento XVI, na comunhão com o Papa Francisco e com toda a Igreja. Simultaneamente damos graças a Deus pelo dom da sua vida e do seu ministério petrino. Neste dia 3 de janeiro, a Liturgia da Igreja celebra a memória do Santíssimo Nome de Jesus e lembramos também o 35º aniversário da ordenação episcopal do Arcebispo emérito D. Jorge Ortiga.

 

1. «Senhor, eu amo-Te»

Para o Papa Bento XVI, a teologia é a busca do Amado. As suas últimas palavras: «Senhor, eu amo-Te», confirmam a sua vida de busca da verdade na coerência da fé, esperança e caridade.

Ontem, ao comemorarmos os 150 anos do nascimento de Santa Teresa de Lisieux, lembramos no Carmelo de Braga que as últimas palavras de Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, uma das santas mais conhecidas e mais amadas, que viveu neste mundo só 24 anos, disse como últimas palavras: «Meus Deus, amo-Te!».

De facto, Bento XVI ao falar de Santa Teresinha na audiência geral de 6 de abril de 2011, comentou sabiamente: «estas últimas palavras da Santa são a chave de toda a sua doutrina, da sua interpretação do Evangelho. O ato de amor, expresso no seu último suspiro, era como o contínuo respiro da sua alma, como o pulsar do seu coração. As simples palavras “Jesus, amo-Te” estão no centro de todos os seus escritos. O ato de amor a Jesus imerge-a na Santíssima Trindade. (...) Com a humildade e a caridade, a fé e a esperança, Teresa entra continuamente no coração da Sagrada Escritura que encerra o Mistério de Cristo. E esta leitura da Bíblia, alimentada pela ciência do amor, não se opõe à ciência académica».

 

2. Simplicidade e firmeza

Bento XVI era um homem simples, discreto, humilde com gestos concretos, ao mesmo tempo com uma inteligência que ia diretamente ao essencial. Quem vê em profundidade caminha na simplicidade. Não precisa de muitos rodeios nem se perde nos conceitos. Ser simples é bem simples, mas não é nada fácil. E ser discípulo missionário de Cristo é ainda mais simples, mas é deveras uma missão difícil. Esta simplicidade cristã é, para o discípulo sinodal e samaritano, um ponto de chegada e nunca um ponto de partida.

A simplicidade confunde-se com a felicidade e com aquela beleza do coração que cada um de nós procura alcançar, quando se empenha em trabalhar o próprio interior. Khail Gibran refere que «a Simplicidade é o último degrau da sabedoria», poderíamos acrescentar, da beleza. Os calculismos, as manobras, os disfarces são para os que temem, para os que não põem a sua confiança no Senhor. Porque o discípulo de Cristo não procura ludibriar a sua fragilidade, mas expõe-se pela oração e pela escuta da Palavra, ao jorro da sua luz. Deus não quer senão embelezar-nos, à imagem do seu rosto.

 

3. Graça e alegria

Recordamos com viva alegria e gratidão as primeiras palavras na varanda da basílica de São Pedro, no dia 19 de abril de 2005: «Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações. Na alegria do Senhor Ressuscitado, confiantes na sua ajuda permanente, vamos em frente. O Senhor ajudar-nos-á. Maria, sua Mãe Santíssima, está connosco. Obrigado!»

É grande o que escreveu Bento XVI sobre Maria: «é a obediência de Maria que abre a porta a Deus» (...) «Só ela podia referir o evento da anunciação, que não tivera testemunhas humanas». Nos textos da anunciação, a alegria aparece como o dom próprio do Espirito Santo. «“Alegra-te, ó cheia de graça”. Esta ligação entre alegria e graça é outro aspeto digno de consideração, na saudação khaire, em grego, as duas palavras – alegria e graça (khara e kharis) – são formadas a partir da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas». (...) «A própria fé de Maria é uma fé “a caminho”». (...) «Maria aparece não só como a grande crente, mas também como a imagem da Igreja, que guarda a Palavra no seu coração e a transmite». Deus é simples e «o sinal da Nova Aliança é a humildade, a vida escondida: o sinal do grão de mostarda. O Filho de Deus vem na humildade. Os dois elementos andam juntos: a profunda continuidade na história da ação de Deus e a novidade do grão de mostarda escondido».

 

4. «Deram-Lhe o nome de Jesus»

O notável hino da carta aos Filipenses, que escutámos como primeira leitura, faz ecoar o imperativo de São Paulo: «tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus». É Jesus de Nazaré a esperança que salva: «ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai». Na verdade, Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. 

No seu testamento espiritual, Bento XVI convida a alargar a racionalidade e a interioridade, ao escrever: «Permanecei firmes na fé! Não vos deixeis confundir! (...) Jesus Cristo é realmente o caminho, a verdade e a vida – a Igreja, com todas as suas insuficiências, é realmente o Seu corpo».

São Bento, que escreveu na sua Regra: «nada, absolutamente nada anteponham a Cristo», foi escolhido por Bento XVI como o padroeiro do seu pontificado e sobre ele disse: «Procurando o verdadeiro progresso, ouvimos também hoje a Regra de São Bento como uma luz para o nosso caminho. O grande monge permanece um verdadeiro mestre em cuja escola podemos aprender a arte de viver o humanismo verdadeiro».

Como Pedro possamos dizer: «Tu sabes tudo. Tu bem sabes que sou deveras teu amigo» (Jo 21, 17), para dar a vida por todos, à imitação de Jesus, o bom, o belo e único Pastor, sabendo que só nos foi dada a missão de pastorear e não nos foi transferido o rebanho. Aqui reside o núcleo da graça da grandeza e da limitação no alegre seguimento de Jesus Cristo. Aqueles que receberam a graça de apascentar, isto é, nós os pastores, não deixamos de ser ovelhas e cordeiros de Cristo, porque sabemos que o Amor é tudo e Ele nos ama imensamente.


+ José Manuel Cordeiro, Arcebispo Primaz

PARTILHAR IMPRIMIR
Documentos para Download
Departamento Arquidiocesano para a Comunicação Social
Contactos
Director

P. Paulo Alexandre Terroso Silva

Morada

Rua de S. Domingos, 94 B
4710-435 Braga

TEL

253203180

FAX

253203190