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DACS com JN e Renascença | 6 Out 2016
Oficial: Guterres aclamado como Secretário-Geral da ONU
António Guterres venceu ontem a votação dos membros do Conselho de Segurança da ONU para novo Secretário-Geral da organização.
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António Guterres ficou definitivamente à frente e não recolheu nenhum veto na sexta votação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque, para eleger o próximo Secretário-Geral da organização.

Guterres recebeu 13 votos de encorajamento e dois sem opinião. Entre os membros permanentes (China, Rússia, França, Reino Unido e Estados Unidos) houve quatro votos de encorajamento e um sem opinião.

Após a votação formal, o Conselho de Segurança fará a recomendação à Assembleia Geral, órgão ao qual compete ratificar a escolha ou não, embora esta última hipótese nunca tenha aconteecido.

Ainda não há data para essa votação, mas, por essa altura, a Assembleia Geral deverá indicar a duração do mandato.

Fotografia: EPA/Martial Trezinni

Habitualmente, o presidente do Conselho de Segurança informa o presidente da Assembleia Geral sobre a decisão tomada, que, por sua vez, informa os 193 Estados-Membros da organização, sendo depois votado o nome proposto à porta fechada. Nessa altura, António Guterres precisa apenas de uma maioria simples dos votos para ser eleito secretário-geral.

O candidato português venceu as cinco primeiras votações para o cargo, que aconteceram a 21 de Julho, 5 de Agosto, 29 de Agosto, 9 de Setembro e 26 de Setembro.

Quinta-feira, pelas 15 horas (hora em Portugal continental), será realizada a votação formal que irá aclamar formalmente António Guterres como o nome desejado para suceder ao sul-coreano Ban Ki-moon.

 

Os testemunhos dos embaixadores

Depois de hora e meia de encontro, e pela primeira vez na história da organização, os 15 embaixadores dos países com assento no Conselho de Segurança falaram aos jornalistas para anunciar o nome de Guterres. "Senhoras e senhores, estão a testemunhar uma cena histórica. Nunca foi feito desta forma. Este foi um processo de selecção muito importante", frisou o embaixador russo.

O presidente do Conselho de Segurança disse aos jornalistas, no final da sexta votação, que o organismo esperava recomendar "por aclamação" o nome de António Guterres no dia de hoje. "Hoje, depois da nossa sexta votação, temos um favorito claro e o seu nome é António Guterres. Decidimos avançar para um voto formal amanhã de manhã [quinta-feira] e esperamos fazê-lo por aclamação", disse aos jornalistas Vitaly Churkin.

Fotografia: SIC

A embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU afirmou que os 15 países membros do Conselho de Segurança decidiram unir-se em volta de António Guterres pelas provas que este deu na sua carreira e durante a campanha. "As pessoas queriam unir-se em volta de uma pessoa que impressionou ao longo de todo o processo e impressionou a vários níveis de serviço", disse Samantha Powell aos jornalistas.

Hoje, depois da nossa sexta votação, temos um favorito claro e o seu nome é António Guterres.

Vitaly Churkin

O embaixador de França no Conselho de Segurança, François Delattre, afirmou que a escolha de António Guterres é uma "boa notícia para as Nações Unidas".

O representante permanente do Reino Unido no Conselho de Segurança, Matthew Rycroft, indicou que o português será um "secretário-geral muito forte e eficaz".

 

As vozes portuguesas

Fotografia: SIC

Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, não escondeu a alegria pela eleição de António Guterres. "Acreditamos que as qualidades pessoais, a enorme experiência política, quer nacional quer internacional, e o enorme conhecimento que o engenheiro Guterres tem das grandes questões mundiais e do modo de funcionamento e das necessidades de reforma das Nações Unidas, tudo isso se iria impor ao longo do processo eleitoral. (...) O resultado é tão transparente como o método. O engenheiro Guterres é eleito, na prática, com 13 votos a favor e nenhum contra. Isso é um elemento de orgulho adicional e de emoção", concluiu.

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu com satisfação à eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas.

“António Guterres é, de facto, excepcional. Ele é excepcional. Isto é muito bom para as Nações Unidas, mas é muito bom para Portugal. É muito bom para as Nações Unidas, porque é o melhor que é eleito e nós muitas vezes temos a sensação de que, a nível internacional, por causa dos equilíbrios, dos pesos e contrapesos, nem sempre é o melhor a ser escolhido. Aqui é o melhor a ser escolhido”, afirmou convictamente.

“E que coincidência, no 5 de Outubro! Não podia haver melhor notícia para a democracia e para Portugal”, concluiu.

D. Jorge Ortiga e António Guterres reunidos em 1998.

Assim como Marcelo Rebelo de Sousa, também o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, manifestou grande felicidade pelo acontecimento. "É um grande momento de alegria, muito especial também pela amizade particular que nos une. E é também uma grande honra para o país, que talvez ajude a elevar o espírito dos portugueses", afirmou.

O prelado teceu também rasgados elogios às qualidades e competências do novo Secretário-Geral da ONU. "A aclamação de Guterres é a consagração do mérito e qualidades que tem vindo a demonstrar no seu trabalho ao longo dos últimos anos, sobretudo no ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Penso que neste novo cargo dará um contributo muito positivo de e a todos os povos. O desenvolvimento que irá, certamente implementar - e que tem frisado ao longo dos anos - poderá ser um verdadeiro motor da paz entre todos os povos. Não tenho dúvidas que será um suporte humanístico excepcional e de que tanto necessitamos", concluiu.

António Guterres é, de facto, excepcional. Ele é excepcional. Aqui é o melhor a ser escolhido.

Marcelo Rebelo de Sousa

E antes da eleição... António Guterres em Braga

Os “Olhares sobre... a Educação”, no âmbito da Nova Ágora, decorreram no dia 04 de Março de 2016 e lotaram por completo o Grande Auditório do Parque de Exposições de Braga (PEB). Foram perto de mil as pessoas que assistiram à troca de ideias e reflexões entre António Guterres, Laborinho Lúcio e Marçal Grilo. A moderar o debate esteve a jornalista Fátima Campos Ferreira. Recuperamos hoje as afirmações de António Guterres na altura.

O ex-Primeiro-Ministro apresentou-se muito bem-disposto no PEB, brincando e dizendo que, devido a uma constipação e à pertinência das apresentações anteriores, a assistência iria ficar desiludida com a sua comunicação.

"Num país como Portugal a educação tem que ser prioridade absoluta de qualquer projecto político e de qualquer estratégia de desenvolvimento. A educação, a formação, a ciência e a cultura são uma condição absolutamente indispensável para que Portugal possa vencer o seu atraso estrutural e os desafios que lhe são expostos de uma forma particularmente dramática. Mas não estou convencido que esta convicção seja partilhada pela maioria dos portugueses e pela generalidade da nossa sociedade", começou por dizer António Guterres.

O engenheiro fez de seguida uma viagem pelo tempo, onde revelou dados de um estudo realizado há 21 anos que o surpreenderam pelo facto de a educação ocupar o terceiro ou quarto lugar nas prioridades dos portugueses em relação às políticas sociais, atrás da saúde, da segurança social, e, por vezes, da habitação.

"Penso que mudou muita coisa na sociedade portuguesa entretanto, mas continuo convencido que os portugueses não dão, ainda, suficiente prioridade e não têm suficiente exigência em relação aos poderes públicos, às instituições, em matéria de educação. No entanto, é absolutamente evidente que os casos no mundo de países que foram capazes de vencer o atraso, de dar um salto qualitativo de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, como a Coreia do Sul, Singapura ou Irlanda, foram casos de países que fizeram, décadas antes, um investimento maciço em educação. Aqueles que não o fizeram, não conseguiram recuperar atraso", afirmou.

O candidato a secretário-geral da ONU referiu ainda que a única forma de ter êxito numa sociedade de conhecimento como aquela em que Portugal vive, é se o país constituir uma sociedade educativa, o que passa pelas escolas, pelas famílias e pelas instituições.

"Passa pela capacidade de, todos nós, termos um papel activo no desenvolvimento da educação nas novas gerações no nosso país. Houve por parte das elites portuguesas durante muito tempo uma despreocupação em relação à educação da população em geral. Naturalmente, isso transmitiu-se a todos e propagou a ideia de que a educação não terá sido assim tão importante. No mesmo estudo de há 21 anos, para os portugueses, o factor mais importante para se subir na vida era... a sorte. Isto é importante para compreender porque é que durante muito tempo não fizemos o investimento que devíamos ter feito na educação da população portuguesa em geral e dos nossos filhos em particular", explicou, arrancando um sorriso à plateia.

Sobre educação e desigualdade, António Guterres falou da sua experiência ao longo dos últimos dez anos e admitiu que, em várias coisas, é muito diferente pensar na educação em Portugal e outros países. Apresentou ainda dados alarmantes que indicaram que, dos refugiados que o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) apoia, só dois terços das crianças têm acesso ao ensino básico, um terço ao ensino secundário e 1% ao ensino superior.

"Visitei muitas escolas em campos de refugiados com duzentos alunos por sala de aula. Há ainda zonas do mundo que têm sistemas educativos que são apenas virtuais. Com baixo acesso ao ensino e com uma qualidade absolutamente deplorável. Isso é particularmente grave tendo em conta o progresso tecnológico a que temos assistido e mesmo o crescimento económico das últimas décadas. A globalização levou a um acréscimo das desigualdades. Porventura menos entre países e mais dentro dos próprios países. Serão os sistemas educativos que temos um factor de superação dessas desigualdades ou um factor de reprodução das mesmas de geração em geração?", questionou.

Guterres sublinhou ainda que a questão passa a ser particularmente importante nas sociedades europeias porque estas se têm transformado progressivamente em sociedades multiétnicas, culturais e religiosas.

"Penso que isso é um bem. Sou daqueles que acreditam que a diversidade é uma riqueza, que esse carácter «multi» é algo que enriquece as nossas sociedades. Mas para que haja coesão social assim, é absolutamente indispensável um enorme investimento político, económico, social, cultural e educativo. Se o investimento não ocorrer, há um enorme risco de a diversidade conduzir à confrontação, à oposição e a situações que hoje encontramos por essa Europa fora. É aí que a questão decisiva dos valores se põe".

O engenheiro referiu que na Europa há ainda muitas comunidades periféricas ou minoritárias com condições desiguais, com muitos mais problemas de desemprego, ilustrando este quadro com a história de um jovem de aparência árabe que quando tenta preencher uma vaga de emprego de um estabelecimento, não consegue porque lhe é dito de imediato que as posições já estão ocupadas.

É indispensável ultrapassar isto e que os valores da tolerância ou da solidariedade sejam reafirmados nas nossas sociedades europeias e que a escola seja um factor decisivo, de integração e de afirmação desses mesmos valores.

António Guterres

"O facto de as pessoas pertencerem a minorias étnicas ou religiosas causa-lhes uma maior segregação. É indispensável ultrapassar isto e que os valores da tolerância ou da solidariedade sejam reafirmados nas nossas sociedades europeias e que a escola seja um factor decisivo, de integração e de afirmação desses mesmos valores. Infelizmente estamos muito longe de que isso aconteça. E vemos, mesmo nos países europeus mais desenvolvidos, o avanço das forças políticas que fazem da xenofobia, do racismo e do ódio ao estrangeiro uma bandeira eleitoral fundamental. Estão a cavar problemas muito sérios nos seus próprios países", alertou.


António Guterres aludiu ainda às responsabilidades políticas e às consequências que podem advir das declarações de personalidades públicas que referem não querer acolher refugiados muçulmanos no seu país.

"Quando líderes políticos dizem que não querem refugiados muçulmanos num país em que há uma minoria muçulmana importante, quando manifestamente hostilizam partes da sua própria comunidade, em particular se essa é muçulmana, estão a dar a maior ajuda que se pode imaginar aos grupos terroristas do Estado Islâmico e outros que hoje têm uma capacidade de recrutamento dentro das fronteiras da própria Europa e que facilmente utilizam estas formas de segregação, de ódio, de marginalização para recrutar", continuou.

Tal como havia acontecido com Marçal Grilo e Laborinho Lúcio, o candidato  a secretário-geral da ONU terminou a sua intervenção com uma mensagem de esperança e um desafio aos presentes.

António Guterres deixou mensagem de esperança e afirmou que, se o povo português for capaz de transmitir a sua tão própria maneira de ser, de profunda tolerância e ainda com valores de solidariedade muito significativos, Portugal terá as condições reunidas para um futuro bem melhor do que o presente deixa antever.

"Nesta crise de valores em que vivemos, a capacidade de afirmar os valores da tolerância e da solidariedade é indispensável. A escola tem aí um papel decisivo. Essa é uma das razões pelas quais penso que podemos ter algumas razões de optimismo em relação ao futuro do nosso país. Nós não nos pomos a nós próprios falsos problemas de identidade, forjámos a nossa identidade numa encruzilhada de civilizações, há portugueses espalhados por todo o mundo. Nunca vi forças políticas em Portugal ganharem votos à custa do populismo ou xenofobia, nunca vi o racismo ter uma expressão política institucional. Importa aprofundar a consciência de que a nossa própria identidade é diversa, esta consciência de que é na diversidade que nos enriquecemos. Se formos capazes de a transmitir esta maneira de ser tão portuguesa, de profunda tolerância e ainda com valores de solidariedade muito significativos, a um sistema educativo e de investir maciçamente nele, de mobilizar toda a sociedade para que ela seja uma sociedade educativa, penso que estaremos em condições de garantir um futuro melhor do que aquele que, olhando para as dificuldades do presente, por vezes nos atrevemos a antever", concluiu.

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