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5 Jul 2021
Renovação paroquial
Homilia por ocasião na inauguração 
do espaço P. Abílio Gomes Correia
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Dou graças a Deus pela paróquia de S. Mamede de Este querer manter viva a pessoa e a obra do Pe. Abílio Gomes Correia. Nunca o poderemos esquecer. A Arquidiocese de Braga e a Igreja Universal devem conhecer o seu testemunho de pastor zeloso e de intrépido defensor da renovação da Igreja. Precisamos de conhecer a sua vida e obra para imitar a sua fidelidade a Deus e pedir graças que sejam consideradas milagres. Não podemos pecar por negligência. É uma tarefa da paróquia e de toda a Arquidiocese. Estando comprometidos na aventura da renovação arquidiocesana, precisamos de modelos mas sobretudo de intercessores. A tarefa é grande. Todos os esforços serão poucos. O Pe. Abílio Correia deverá ser o guia e companheiro na renovação paroquial e aquele a quem confiamos os problemas de saúde ou de qualquer dificuldade. Mais uma vez, agradeço à comunidade arquidiocesana que peça graças a Deus por intermédio deste pastor zeloso e santo. Deus não deixará de nos atender.


O Evangelho de hoje mostra a admiração dos conterrâneos de Cristo que não queriam entender quem Ele era e o que estava a realizar. Para muitos era, pura e simplesmente, o filho do carpinteiro mas todos se interrogavam “de onde lhe vem tudo isto?”. Isto podemos aplicar ao Pe. Abílio. Sabemos um pouco do que fez. Dizia-nos um cronista que era “homem de saúde de ferro, alto, fisicamente bem constituído, apreciador das coisas boas e belas, capaz de suportar grandes cargas de trabalho, de aguentar, impávido e sereno, as maiores contrariedades. Perante as adversidades nunca cruzava os braços e lutava, teimosamente até resolver os problemas”.


Sabemos que viveu num período crítico da história da Igreja. Ordena-se em tempos revolucionários de passagem da monarquia para a república e vive numa época em que a Igreja é espoliada dos seus bens. Os sacerdotes, como ele, são perseguidos e obrigados a fugir das suas paróquias e as comunidades mergulham num clima de apatia e resignação perante tantas afrontas que tiveram de suportar. Era necessário reconstruir as Igrejas, não só na dimensão material dos edifícios decadentes, mas sobretudo na vitalidade das comunidades. É nesta altura, e em circunstâncias tão adversas, que a Arquidiocese oferece uma plêiade de sacerdotes que investem todas as suas energias neste dever de recuperar tudo o que tinha sido destruído. A história destes heróis anónimos e perdidos nos remotos espaços da Arquidiocese necessita de ser feita. Em todos residia uma grande paixão pela Igreja e os sacrifícios não os detinham.


De uma crise profunda de abandono de alguns sacerdotes e fiéis pelas campanhas ideológicas que os iludiam com teorias sedutoras, a maioria mostrou-se fiel e não se contentou em repetir fórmulas catequéticas ou celebrações rotineiras mas encontrou caminhos novos para uma nova época. Foram fiéis à tradição mas descobriram outros caminhos que voltaram a entusiasmar os cristãos adormecidos ou a trazê-los de novo à alegria de professar a fé.


O Pe. Abílio entra nesta galeria. Nesta comunidade vivenciou um verdadeiro laboratório de renovação eclesial que se tornou referência a nível arquidiocesano e nacional. Inovou com ousadia. Fundou movimentos, nomeadamente, a Agregação da Adoração do Santíssimo Sacramento. Cria e dirige revistas, o Mensageiro Eucarístico. Organiza congressos. Foi, essencialmente, um reconstrutor da Igreja.


Vivemos um tempo similar. Não temos uma primeira guerra mundial nem as convulsões dramáticas da República com tudo o que provocou. Só que, se já vínhamos assistindo a uma verdadeira mudança de época, a pandemia veio mostrar todos os contornos de um novo tempo que importa enfrentar. O Pe. Abílio transformou esta comunidade e a Arquidiocese. Hoje teremos de construir paróquias novas, com novos dinamismos mas sobretudo fiéis ao projecto que o Espírito Santo vai delineando para o hoje histórico. Tudo pode estar a convidar a regressar aos tempos passados. É imperioso. Precisamos de um novo modelo de comunidade. Rezemos ao Pe. Abílio para que inspire os nossos sacerdotes nos novos caminhos a percorrer. Que o seu exemplo frutifique e que os sacerdotes acreditem numa nova imagem de paróquia.


Por onde devemos andar neste novo presente das comunidades paroquiais? Recolho, apenas, três lições do Pe. Abílio. Outras poderia surgir. Bastam estas:


1. “Foi aos pés do pobre Sacrário desta pobre Igreja que passei tantas horas, tantos dias e tantas noites inolvidáveis”. E “foi nesta freguesia junto ao pobre Sacrário da sua Igreja que tudo se fundou”. O Pe. Abílio só tirava três horas para dormir. Muitas e longas horas eram passadas num recanto que vós, paroquianos, conheceis muito bem. Hoje, perante o muito que há para fazer, a tentação do activismo acompanha-nos com veemência. Há pouca oração pessoal e muito menos comunitária. Contentamo-nos com eucaristias rápidas e o sacrário não é acompanhado. A oração deixou de estar nas agendas quotidianas das pessoas e das famílias. Há exemplos novos maravilhosos. Só que são poucos aqueles que rezam em casa, a caminho do trabalho, no silêncio de uma igreja da cidade ou das nossas aldeias. Estas fecharam-se. Necessitamos de zeladores que as mantenham abertas, garantindo-lhes segurança. Não bastam as eucaristias. Precisamos de momentos de oração. Necessitamos de lausperenes vividos. A oração poderá ser feita em moldes diferentes. O que importa é que rezemos. A obra da renovação não é nossa. Há muita coisa e muitas pessoas que querem que ela não aconteça. Não será que as comunidades paroquiais deveriam ter pequenos grupos que, de um modo permanente e estável, se dedicassem à oração tornando-se verdadeiros adoradores e intercessores junto de Deus? Hoje o Pe. Abílio semearia esta ideia.


2. A partir da oração compreenderemos a importância da reflexão. Renovar significa encontrar-se com ideias novas e confrontar-se com quem pensa de um modo diferente. Os novos caminhos necessitam de ser pensados. E a Igreja daquela época inventou os Congressos e o Pe. Abílio foi a alma desta aventura na organização, na angariação de fundos e na realização. No tempo de D. Manuel Vieira de Matos, e sempre com a coragem do Pe. Abílio, realizaram-se, durante 17 anos, 25 Congressos em Braga, 15 diocesanos e 10 nacionais. As temáticas foram diversificadas. Como Congressos Arquidiocesanos: Obras Católicas, Associação de Pregadores da Arquidiocese de Braga, Juventude Católica de Braga, Conferências de S. Vicente de Paulo, Eucarístico, Música Sacra, Juventude, Conferências Vicentinas. Como Nacionais: Federação das Juventudes Católicas – Centro Católico Português, Eucarístico Nacional, Mariano, Assistentes do Corpo Nacional de Escutas, Litúrgico Nacional Romano - Bracarense, Apostolado da Oração, Missionário, Catequese.


Estes Congressos foram um “instrumento válido de formação cristã, celebração da fé e indução do espírito militante católico, através de grandes assembleias e celebrações festivas.”. “Foram muitos os frutos alcançados. Conseguiu-se um renovamento patrimonial e humano incalculável” (Pe. Pedro Marques).

Não estaremos a necessitar de algo que venha promover uma reflexão sinodal sobre a Igreja que somos e a que queremos ser? Não estaremos a precisar de um sério confronto com os novos problemas que afetam a vida das pessoas e das comunidades? O Pe. Abílio não deixará de nos acompanhar e sugerir caminhos a percorrer.


3. A oração e a reflexão na vida do Pe. Abílio e da Igreja naquela época não eram actividades fechadas em considerações espirituais e intelectuais. Estavam sempre acompanhadas pela atenção e preocupação em matar a fome aos necessitados. A atenção aos pobres é uma página sublime da Igreja naquela época. As crises nunca são meramente políticas. O povo é que sofre e tem de aguentar. Hoje temos um conjunto de redes sociais que procuram ser respostas. Só que não ignoramos o dramatismo da situação social das nossas populações. Naquele tempo inculcava-se aos cristãos o dever das esmolas e todas as famílias tinham esta preocupação. As Conferências Vicentinas e os Patronatos completavam esta solicitude. Era difícil responder a tantas prioridades mas as comunidades eram os únicos refúgios que acolhiam e atenuavam as desgraças. Importa ter consciência. Não há renovação paroquial sem compromisso social. Nunca se ama a Deus que não se vê, se não se ama o próximo que se vê. Estes dois amores condicionam-se reciprocamente e tornam-se um só na solicitude e solidariedade para com todos. O Pe. Abílio encorajar-nos-à a ser capazes de ver e de responder a todas as formas de pobreza.

Neste aniversário do Pe. Abílio, querendo avivar a sua memória e pedir às comunidades paroquiais que o acolham como verdadeiro patrono e modelo, aludi à situação de decadência em que se encontrava a Igreja. Em todos os lugares foram surgindo verdadeiros pastores inovadores, não com teorias novas mas com respostas diferentes.

Sintetizei a vida do P.e Abílio em três gestos e atitudes. Oração, particularmente eucarística, reflexão pessoal e colegial e intervenção social. Neste tempo de pandemia, com todas as implicações na vida das nossas comunidades, rezo e proponho à comunidade arquidiocesana a obra deste Venerável. Vamos conhecê-lo no seu testemunho. Imitá-lo na sua vocação de verdadeiro profeta. Invocá-lo pedindo graças para que a sua canonização aconteça. Está nas nossas mãos. A esta comunidade toca uma tarefa especial. Importa divulgar e dar a conhecer. Não faltam meios. Assim surjam homens e mulheres, rapazes e raparigas, que peguem no seu testemunho e o dêem a conhecer à nossa diocese e não só. Uma nova imagem da Igreja, através do seu rosto visível que são as paróquias, é absolutamente necessária. Com o Pe. Abílio Correia seremos capazes de a encontrar. Se foi o homem dos Congressos porque não sonhar com a realização de um grande Congresso que estude a sua obra e a actualize com os novos desafios que são colocados à fisionomia tradicional das paróquias? Talvez em 2024, Centenário do I Congresso Eucarístico Nacional e 25º aniversário do II Congresso Eucarístico.

Não seria mais um Congresso Eucarístico. Mas um sobre a vida e a obra deste Cura d’Ars português. Se a renovação da Igreja é inadiável, isto acontece a partir das paróquias. E aqui o caminho a percorrer terá de ser sinodal. Alguns dirão que não deveria fazer esta proposta. É uma ideia que a Arquidiocese, de um modo sinodal, acolherá ou não. Que o Pe. Abílio nos dê força e coragem.


† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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