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Colaborador | 13 Dez 2010
A IGREJA PORTUGUESA COMPROMETIDA NA COOPERAÇÃO
Discurso do Sr. D. Jorge Ortiga nas Comemorações dos 20 da Fundação Fé e Cooperação (FEC) em Lisboa.
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          Dentro dos desafios pastorais colocados à Igreja para repensar a pastoral em tempo de mudança civilizacional destaca-se a necessidade de revigorar a consciência missionária. Uma consciência sempre permanente na Igreja universal como exigência derivada da própria fé. Portugal construiu a sua história dos últimos cinco séculos seguindo este ímpeto missionário, abrindo novos caminhos civilizacionais.

         O Santo Padre na sua vinda a Portugal, em variados momentos e lugares, apelou para que o ardor missionário regressasse às nossas comunidades na correspondência à vocação cristã de propor Cristo a todos os povos. Cada cristão assume-se como missionário e aceita e trabalha para ser uma “presença irradiante do Evangelho” no lugar onde Deus o colocou. Esta universalidade de intérpretes e de exercício em todos os lugares, volta a ser referência na última Exortação Pós-Sinodal. “Todos nos damos conta de quão necessário é que a luz de Cristo ilumine cada âmbito da humanidade: a família, a escola, a cultura, o trabalho, o tempo livre e os outros sectores da vida social. Não se trata de anunciar uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova” (V.D. 93).

         Se encontramos aqui um paradigma estruturante da nova pastoral, a universalidade da missão não pode fixar-nos nos horizontes dos nossos mundos. O amor de Cristo deve ser testemunhado em todas as latitudes e as caravelas portuguesas são, novamente, símbolo para partir ao encontro de novos mundos e, particularmente, daqueles com os quais nos sintamos identificados pela língua.

Para isso surgiu, há 20 anos, a Fundação Fé e Cultura (FEC) que, interpelada pelos sinais dos tempos de anunciar Deus através da promoção dum desenvolvimento integral, se renovou para Fundação Evangelização e Cooperação. A alteração não aconteceu como simples operação cosmética e pelo gosto de mudar. Pretendeu confirmar uma experiência de cooperação em várias áreas e abrir-se a novos campos de intervenção por onde o Evangelho aconselha a andar.

Sentimo-nos confortados com as Palavras do Santo Padre aos Bispos “É louvável o esforço que fazem para ajudar dioceses mais necessitadas, sobretudo dos países lusófonos”. Daí que iremos aceitar o desafio da recente Exortação sobre a Palavra: “A Igreja deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito (cf. 1Cor 2,5) e continuar profeticamente a defender o direito e a liberdade das pessoas escutarem a Palavra de Deus, procurando os meios mais eficazes para a proclamar, mesmo sob risco de perseguição. A todos a Igreja se sente devedora de anunciar a Palavra que salva (cf. Rm 1, 14).”

Esta interpelação indica-nos um itinerário com um sentido bem delineado do qual não podemos ter medo ou envergonhar-nos. A cooperação expressa que o desenvolvimento humano deverá encontrar as condições necessárias para falar de Deus. O Amor por si já é anúncio mas necessita de expressar-se em linguagem e gestos. Isto supõe um mínimo de formação de quem parte para o poder fazer com a sensibilidade de quem é enviado. Não impor mas propor um sentido cristão para a vida, sempre no exercício tolerante da diferença. “A nossa responsabilidade não se limita a sugerir ao mundo valores que compartilhamos; mas é preciso chegar ao anúncio explícito da Palavra de Deus.” “Por conseguinte a Boa Nova proclamada pelo testemunho de vida deverá, mais cedo ou mais tarde, ser anunciada pela palavra de vida. Não há verdadeira evangelização, se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem proclamados”. (E.W, 20; V.D. 98)

A FEC é detentora duma experiência que poucos conhecem, mesmo pessoas comprometidas na acção eclesial. Há mundos que já são percorridos com competência, profissionalismo e verdadeiro sentido de desenvolvimento para que os povos encontrem caminhos da certeza dum futuro melhor. A educação e a saúde testemunham muita audácia e sentido missionário de alta qualidade.

A celebração dos 20 anos deveria trazer, assim o entendo, uma confirmação destas experiências com a abertura, sem precipitações, a outros lugares situados noutros países e a outros âmbitos de serviço eclesial. A cooperação deve ser mais efectiva e alargada sempre no intuito de promover autonomia e capacidade de encarar o futuro com responsabilidade e segundo os talentos e qualidades próprias.

Os intérpretes desta cooperação podem e devem aumentar. A experiência de voluntariado, como oferta de competências por um determinado período de tempo, não só não empobrece quem parte mas como enriquece imenso quem espera por novas ofertas geradoras de um desenvolvimento sustentado. Reconhecemos o exagero de burocracias. Mas muitas dificuldades já foram ultrapassadas. Sentimos, porém, que o intercâmbio poderia ser mais facilitado sem fugir às exigências mínimas da legalidade. Urge promover um maior voluntariado. O próximo ano pode facilitar esta tarefa. O trabalho competente e presencial expressa a cooperação no sentido mais genuíno. Importa também incentivar à partilha através de patrocinadores dispostos a contribuir para a justa distribuição dos bens da criação. A crise não justifica que nos fechemos. Pode ser uma porta que se abre a novas aventuras com resultados para os dois lados. Interpelados pela ausência de bens essenciais torna-se fácil esperar dividendos através dum simples mercado no domínio das exportações e importações. A história já tem corredores comerciais onde o aproveitamento de alguns em vez de proporcionar autêntico desenvolvimento explora os mais necessitados. O diálogo e a cooperação devem ser mais abrangentes. A Igreja em Portugal pode e deve cooperar para que o desenvolvimento aconteça dentro de um humanismo que enriqueça quem dá e quem recebe.

Resumindo, 20 anos é tempo para nos congratularmos e reconhecermos o caminho percorrido. Com eles veio a experiência e uma maior compreensão das realidades com as suas necessidades. Agora há maior consciência e os caminhos a percorrer são desafiantes. Importa um novo ardor para quem está comprometido e envolvido nesta gratificante experiência. Só que teremos de envolver a Igreja que vive em Portugal para acreditar que ela cresce e ganha consistência quando se desprende e caminha por sendas que promovem humanamente e geram um humanismo aberto à transcendência.

Que os 20 anos gerem ambição e ousadia para que o Amor seja a resposta às necessidades geradoras de sentido.

 

Lisboa, 13-12-10

† Jorge Ortiga, A.P.

 

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