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13 Set 2022
Beber do Evangelho nas fontes de Fátima
Homilia de D. José Cordeiro na Peregrinação Internacional Aniversária.
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  © Santuário de Fátima

1. Fátima, casa materna de misericórdia

O santuário remete-nos ao lugar santo como sítio, espaço que com intensidade particular manifesta o sagrado. É lugar do Outro possível onde intervém o Outro Invisível. O santuário tem o vigor de ser resposta às contrariedades do quotidiano; aparece como algo de novidade oferecido a todos, aberto aos anseios de todos. O povo tem respeito profundo pelos santuários. Eles são património cultural e espiritual a requerer uma pastoral mais cuidada, direcionada para a escuta. 

O santuário de Fátima é meta de muitos peregrinos que se sentem tocados no coração pela graça e pela misericórdia de Deus.

Nesta casa de Maria, a Igreja realiza uma pastoral bem cuidada mediante a Liturgia, principalmente a celebração da Eucaristia e da Penitência, a pregação da Palavra de Deus, a piedade popular, a peregrinação, a escuta e o testemunho da caridade.

É bom recordar, o que disse a Conferência Episcopal Portuguesa: «a mensagem de Fátima inspira a Igreja a encontrar e a aprofundar os traços do seu rosto mariano». De facto: «no trilho da imensa multidão dos peregrinos que desejam beber do Evangelho nas fontes de Fátima e se confiam ao cuidado materno da Senhora do Rosário, a Igreja rejubila com o dom do acontecimento de Fátima neste seu centenário», como sinal de Esperança para o nosso tempo.

Aqui somos convidados, como os pastorinhos, e em particular como São Francisco Marto, a deixar-nos surpreender com Deus: «Gostei muito de ver Nosso Senhor. Mas gostei mais de O ver naquela luz onde nós estávamos também».

2. Misericordiosos como Maria

A esperançosa Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Lisboa 2023, é iluminada pelo evangelho de São Lucas: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39). A vida é peregrinação! Levantar-se, ir e voltar são verbos de movimento com determinação e sentido de missão.

«Há pressa no ar e estamos dispostos ao sim, fazer como a Mãe!» Assim cantamos no hino da JMJ. A Virgem santa Maria, a jovem Mãe de Nazaré, é a primeira peregrina cristã.

A piedade mariana na Igreja não é velharia de antigamente, nem algo sem atualidade nesta Igreja do terceiro milénio. Deus veio ao mundo por Maria. A Igreja vê nela o seu modelo e protótipo. O Povo santo de Deus volta os seus olhos para Maria, a Mãe de Misericórdia, e canta, como Ela, alegre e confiadamente: «A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem». 

A verdadeira e autêntica devoção mariana é tornamo-nos como Maria, servidora alegre do Evangelho na vida quotidiana e em nossa própria casa, onde Deus nos surpreende. 

Entre todas as criaturas, Maria é quem melhor encarna o Evangelho da misericórdia e nos impele a uma cultura da misericórdia.

Ao longo da história cristã muitas orações a Maria imprimem a dimensão da misericórdia: a) Salve Regina: «Salve, Rainha, Mãe de misericórdia (…)  Eia, pois, Advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei»; b) Alma redemptoris mater: «ó sempre Virgem Maria, tende misericórdia dos pecadores».

Mãe da Misericórdia e Mãe da nossa fé «recordai-nos que quem crê nunca está sozinho».

Como Maria, sabemos que «a resposta do Evangelho é a Misericórdia» e «a misericórdia é o coração de Deus», lembra-o vivamente o Papa Francisco. 

Na verdade, como rezámos na Liturgia: «Se é grande a vossa misericórdia para aqueles que pecam, maior é a vossa bondade para aqueles que Vos servem fielmente» (Oração sobre o povo).

Experienciamos que: «o poder da oração é muito grande... Por oração entendo, não aquela que está só na boca, mas a que brota do fundo do coração...», afirmou São João Crisóstomo, Bispo e Doutor da Igreja, do qual hoje a Liturgia faz memória.

Ao peregrinarmos aqui a Fátima, neste 105º aniversário da quinta aparição, será que se reforçam os valores fundamentais da família, da educação para a paz, da sobriedade, da comunidade e da ecologia integral?

3. Testemunhas da misericórdia

No mundo em que «o milagre secularizou-se, as obras de misericórdia converteram-se em obras sociais» (J. A. Mourão), a Igreja é chamada a ser cada vez mais testemunha da misericórdia e da ternura no processo sinodal em que se encontra.

Na mudança de época que vivemos com todas as crises económicas, políticas, sociais, ecológicas e eclesiais, faz-nos bem peregrinar para ir em busca do essencial da vida.

A devoção ao Imaculado Coração de Maria converge para o centro do mistério da Redenção, ou seja, para o coração do Redentor morto na Cruz e, agora, ressuscitado entre nós. Neste mistério de graça e de misericórdia, a redenção é maior que o pecado do mundo, como foi repetidamente dito na mensagem de Fátima e rezado por santa Jacinta Marto: «Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria».

O coração de Maria, a Mãe da sinodalidade, é tão grande que lhe sai do peito. Assim é a iconografia do Imaculado Coração de Maria em Fátima. A nossa Mãe tem entranhas de amor e ternura, que impele os seus filhos a ser como Ela: a escutar o Espírito Santo e a escutarmo-nos uns aos outros.

Alguns meses atrás, no final de uma celebração eucarística que constava também da bênção às grávidas, uma jovem que ia ser mãe pela segunda vez, confidenciou-me com esta bela expressão: «o coração saltou-me do peito». Sim, testemunhar o amor é amar com um coração limpo, sempre ardente e iluminante.

A misericórdia implica obras. A fé pede-nos que sejamos capazes de passar das obras de misericórdia à misericórdia das obras. Assim, somos chamados a perdoar a quem nos ofendeu e a alcançar a paz para o coração para desta forma sermos felizes.

O peregrino é alguém que caminha e espera o encontro. Por sua vez, o encontro é a essência da fé no Amor a Cristo. Por isso, também os caminhos de Fátima são apenas uma etapa no caminho da vida em Cristo.

 

 † José Cordeiro, Arcebispo Primaz

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