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D. Jorge Ortiga | 17 Set 2007
Dar e dizer algo de novo às famílias
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As leituras proclamadas nesta eucaristia tornam-se referência para uma peregrinação arciprestal na qual peregrinamos, reflectimos e assumimos um Programa para as nossas vidas. Importa a oração mas também é fundamental «ouvir» os apelos de Deus para cada um e para as comunidades.
A Primeira Leitura recorda o que aconteceu variadíssimas vezes com o Povo de Israel. O «meu» povo «corrompeu-se» e desviou-se do caminho que lhes tracei, dizia Deus observando os comportamentos alheios à aliança que Deus com eles tinha estabelecido.
O Evangelho ousa propor uma estratégia que poderá parecer irreflectida. Trata-se de deixar as noventa e nove ovelhas fiéis e ir ao encontro da perdida para fazer festa pelo reencontro. Assim como a mulher deixa muitas outras actividades para ocupar-se na procura da dracma perdida e fazer festa pela alegria de a voltar a possuir.
S. Paulo reconhece a sua pequenez e incapacidades, mas agradece que Deus o tenha julgado digno de confiança e o tenha chamado para o Seu serviço.
A nossa reflexão vai naturalmente para uma aplicação destas propostas bíblicas ao mundo da família. Não porque não saibamos que a sua abrangência é maior. Mas sabemo-lo todos muito bem, queremos renovar o nosso empenho na ajuda às famílias para prosseguirmos o nosso Programa Pastoral.
Não sou pessimista e sei descortinar os avanços da humanidade que os últimos tempos nos proporcionam em diversas áreas da sociedade. Acontece, porém, que um diagnóstico sereno da realidade familiar diz-nos que as grandes mudanças aconteceram, dum modo verdadeiramente significativo, na família. Tenho consciência e impressiona-me o contexto dos lares cristãos e num ambiente marcadamente religioso como é o nosso. Também aqui se perdeu ou vai-se perdendo o sentido da fidelidade; a aceitação exigente da unidade e indissolubilidade atenua-se numa liberdade mal entendida; a comunhão de amor profundo entre esposos e entre pais e filhos superficializa-se; as pessoas coabitam com pouca profundidade; a responsabilidade numa verdadeira educação humana, cristã, académica nem sempre é partilhada permitindo-se uma mera preocupação pelo material e imediato; os idosos têm dificuldades em conviver e verificam-se muitas situações de conflitos e marginalidade.
Se a esta dimensão acrescentarmos problemas de ordem social como a pobreza que se vive em muitos lares, violência doméstica que atormenta muitas pessoas, diferentes possibilidades de acessos a uma escolarização, muitos casos de insucesso e abandono escolar, o deficiente apoio aos idosos particularmente do interior, o diminuto apoio à maternidade com um consequente envelhecimento das nossas comunidades, o desemprego e dificuldades em aceder ao mercado de trabalho que condiciona muitas vidas… reconhecemos que se exige uma participação mais responsável para que a alegria e segurança de viver regresse às nossas famílias.
São dados inquestionáveis que não nos podem deixar indiferentes. Como crentes teremos de reconhecer que muitas famílias se desviam dos caminhos traçados por Deus. Perante estas realidades não podemos cair na ilusão de que tudo está a correr bem ou limitarmo-nos a condenar estranhos a quem se atribui a culpa por estas situações. Deus convida-nos a que nos coloquemos do lado dos valores perenes e ousemos colocar-nos ao Seu serviço. Perante muitos que se afastam não podemos ser discípulos se não nos colocarmos em atitude de ir ao encontro com uma mensagem de solicitude e verdadeiro interesse para que as famílias continuem a ser esperança da humanidade.
Por onde passa a nossa intervenção? O Programa Pastoral aponta duas pistas.
1 – Em primeiro lugar o matrimónio deve ser acolhido com um «dom» que recebemos como ele é. Isto não significa passivismos mas exige muito trabalho na catequese, na dinâmica dos grupos de jovens, na preparação para o matrimónio, no acompanhamento das famílias nomeadamente aquelas que vivem em situação difícil, para que, na reflexão individual e conjunta, entendamos os verdadeiros parâmetros duma vocação que vista numa dimensão reducionista ou popularista parece utópica. Só muita reflexão permite compreender este maravilhoso dom da família. Conhecendo-o, amamos e amando-o somos capazes de ultrapassar as eventuais dificuldades.
2 – O acolhimento do dom leva à vivência de compromissos dentro da família e na comunidade paroquial.
Quero sublinhar um. Os pais são os primeiros educadores e devem assumir-se como tais aceitando que a Igreja e o Estado os ajudem na vivência desta obrigação. Ao iniciar um novo ano catequético e escolar é imperioso lembrar aos pais que eduquem com o testemunho e participando responsavelmente na catequese e na escola. As ocupações são muitas e o tempo é exíguo; o interesse e o acompanhamento é o mínimo que se pode pretender. A Igreja necessita de cristãos mais conscientes e a iniciação começa em casa; o futuro na qualidade de vida depende do gosto suscitado pela formação e qualificação.
A Igreja não pode limitar-se a esperar e responsabilizar. Ela tem de sair e tomar consciência dos problemas para encontrar soluções conjuntas. Daí que não me canse quando, dum modo talvez inoportuno, solicito aos Sacerdotes que procurem constituir equipas de pastoral familiar. O mesmo afirmo em relação aos casais. A estes digo: «quanto mais damos a Deus e à Igreja mais recebemos». Não podemos assistir passivamente a uma evolução que pretende impor-nos modos de viver alheios à fé e aos compromissos que a mesma impõe. Acredito que, em todas as comunidades, existam casais com talentos. Importa ir ao encontro e não ficar no altar no duplo sentido de convidar nas homilias e de pretender que a pastoral seja, simplesmente, sacramental. Necessitamos de deixar muitas coisas para nos encontrarmos com estes novos desafios. Continuo a repetir, a rotina só gera cansaço sem resultados concretos e provoca permanente desencanto.
O Evangelho convida-nos a deixar para encontrar algo de novo. Só assim a festa e alegria acontecerá. A Igreja tem a responsabilidade histórica de continuar a dar e dizer às famílias alguma novidade, ou seja, algo que não encontram noutro lugar. Que a Senhora do Alívio nos empenhe neste compromisso de oferecer às famílias uma verdadeira identidade cristã. Pode parecer que recusam. Mais tarde, saberão reconhecer o «dom» que fomos para elas e os compromissos assumidos em seu favor e outros que elas acolheram em benefício da humanidade.
Peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora do Alívio, 16-09-07.
† D. Jorge Ortiga, A. P.

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