Arquidiocese de Braga -

17 setembro 2025

D. José Traquina apela a compromisso nacional para diminuir pobreza em Portugal

Fotografia DM

 DM - Jorge Oliveira

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana apelou, ontem, em Braga, a um compromisso nacional no combate à pobreza, aproveitando os estudos e diagnósticos promovidos por instituições da Igreja Católica como a Cáritas.

Falando na sessão de abertura da VII Semana de Formação Cáritas, que decorre no Auditório Vita, com cerca de 150 participantes de todo o país, 

D. José Traquina, questionou a razão pela qual Portugal continua a ser um dos países mais pobres da União Europeia (UE), defendendo que é preciso encarar a pobreza como uma prioridade nacional.

«Espero e desejo muito que nos próximos tempos haja alguma evolução. Sei de pessoas do Governo que estão interessadas e preocupadas em conseguir que Portugal supere a história dos 20% de pobreza. Já não se suporta mais tanta denúncia. Porque é que Portugal há de ser um dos países mais pobres da Europa?», questionou o bispo de Santarém.

Segundo dados do Eurostat de 2022, 20,1% da população portuguesa estava em risco de pobreza ou exclusão social, um valor ligeiramente abaixo da média europeia (21,6%), colocando o país na 12.ª posição entre os Estados-membros.

Migração não é causa da pobreza

Rejeitando a ideia de que a pobreza em Portugal se deve ao fenómeno migratório, o prelado destacou que o país tem, há décadas, uma elevada percentagem de cidadãos com rendimentos baixos. «Os imigrantes são um sinal de esperança, não são um mal para o país», assinalou, preconizando um esforço maior no acolhimento integração.  

Para D. José Traquina, Portugal precisa de evoluir no sentido da convergência com os restantes países da União Europeia, nomeadamente ao nível salarial, sublinhando que os baixos salários continuam a empurrar os jovens para a emigração.

«Se fazemos parte da União Europeia, porque é que há tanta diferença de remunerações entre Portugal e França, ou Portugal e outro país da Europa? Porque é que os jovens portugueses têm de emigrar para ter uma remuneração melhor noutro país da Europa?», questionou, defendendo um maior equilíbrio e justiça social.

O prelado lembrou também o problema do acesso à habitação, lamentando que  muitos jovens, mesmo com formação superior, não possam formar família por falta de condições financeiras para arrendar ou adquirir casa própria.

«Isto é um grande problema. Portugal tem de dar passos no sentido de gerar uma sociedade mais justa», defendeu.

Durante a sessão, D. José Traquina enalteceu o trabalho da Cáritas Nacional e das Cáritas Diocesanas, com a generosidade dos portugueses, recordando a resposta da Instituição em situações de emergência como os incêndios de 2017 e a pandemia de Covid-19.

Sob o lema “Esperança em Ação”, a VII Semana de Formação Cáritas pretende reforçar a capacidade de resposta da rede Cáritas a nível nacional, com a partilha de estratégias, metodologias e experiências locais.

Intervenção da Cáritas faz a diferença

A presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, sublinhou a importância deste encontro para potenciar recursos e melhorar a intervenção social da Igreja Católica.

«Cada território tem as suas especificidades e nós procuramos dar respostas concretas a problemas como a pobreza, a falta de habitação e a integração dos imigrantes», referiu, considerando os migrantes como um «trunfo fantástico» para o país.

Reconhecendo que o problema da habitação não é uniforme em todo o território, Rita Valadas admitiu que o desafio é enorme, num contexto em que a procura habitacional supera a oferta.

A sessão de abertura contou ainda com a presença do presidente da Comissão Arquidiocesana para o Desenvolvimento Humano Integral, o cónego Avelino Amorim, que desejou que deste encontro todos saiam «renovados no compromisso de ser esperança na ação».

Ana Santos, recém-empossada presidente da Cáritas Arquidiocesana de Braga, agradeceu a todos quantos estão neste encontro para «enriquecer» os seus conhecimentos e desejou que os trabalhos ajudem a «crescer» e a renovar a esperança» com «experiências valiosas».

Marcaram também presença o diretor do Centro Distrital da Segurança Social de Braga, João Ferreira, e a vereadora da Câmara Municipal de Braga, Carla Sepúlveda.  João Ferreira destacou o papel da Cáritas de Braga no apoio aos mais carenciados e o trabalho em rede que está a ser desenvolvido no apoio a cidadãos deslocados. Já Carla Sepúlveda transmitiu a disponibilidade do Município em colaborar com a Cáritas de Braga, que considerou um «parceiro de grande valor».