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O Bispo Charles Morerod, um teólogo dominicano que tem sido o pastor de 700.000 católicos desde 2011, decidiu recentemente substituir os padres que têm servido como Vigários Episcopais por leigos que serão "representantes oficiais do bispo".
A mudança acontecerá brevemente em dois dos quatro cantões da diocese. Um deles é o cantão de Vaud, onde o teólogo Philippe Becquart dirige o programa de educação de adultos. Ele e Gregory Solari – um teólogo-filósofo, director da publicação religiosa Ad Solem e um dos formadores do programa – falou sobre os novos desenvolvimentos com Mélinée Le Priol, do La Croix International.
Philippe Becquart: O processo diocesano iniciado pelo nosso Bispo está na verdade vinculado especificamente aos cantões. Aqui, no cantão de Vaud, tudo começou com um pedido muito concreto em 2018 do Vigário Episcopal, o Padre Christophe Godel. Houve problemas de governação em certas unidades pastorais (agrupamentos de paróquias) e tensões entre ministros ordenados e agentes pastorais leigos. Por isso, o sacerdote chamou alguns teólogos com responsabilidades pastorais – nós os dois incluídos – para o ajudarem a encontrar soluções. Aos poucos, o que começou como uma reflexão sobre a governação tornou-se um grupo de trabalho mais global.
Gregory Solari: É preciso dizer que naquela altura o Papa Francisco começou a falar cada vez mais sobre a sinodalidade. A releitura do seu discurso de Outubro de 2015 para o 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos foi decisiva. Vimos nele uma resposta do Espírito Santo ao que percebemos no terreno como uma emergência: perceber que o que está no centro da Igreja é o povo de Deus. Durante uma reunião do conselho consultivo em Genebra, em Maio de 2019, apresentámos as nossas conclusões ao bispo Morerod.
Philippe Becquart: Sem dizer que “inspirámos” o bispo, creio que contribuímos para a consciência da urgência da transformação pastoral. Além das considerações práticas que poderiam justificar esta reorganização (como a preocupação de ter mais padres “jovens” nas paróquias e, portanto, mais leigos no comando), trabalhamos muito na compreensão teológica e pastoral da sinodalidade como uma forma de renovação para a Igreja local.
Gregory Solari: O gatilho foi definitivamente a pandemia de Covid-19, que provocou este momento de pausa durante o qual o Bispo Morerod disse a si mesmo: “Este é o momento, devemos ir em frente!”. Acima de tudo, a crise de saúde revelou a fragilidade do trabalho pastoral no terreno, que estava muito centrado nos sacramentos: quando estes não puderam ser ministrados, os católicos ficaram confusos.
Philippe Becquart: A pandemia permitiu que muitos baptizados assumissem a sua responsabilidade. Privados dos sacramentos, tivemos que nos consciencializar do papel que cada um de nós deve desempenhar na difusão da Palavra de Deus e na prática da caridade. Precisávamos de reinvestir, portanto, na nossa missão de baptizados. Outro elemento contextual que acelerou a reorganização da nossa diocese foi a crise dos abusos sexuais. Foi um verdadeiro choque para o nosso Bispo, que esteve na vanguarda em termos de respostas institucionais.
Philippe Becquart: Não é tanto um ponto de chegada, mas um ponto de partida. A nomeação de Michel Racloz, um teólogo leigo e homem de família, como representante do Bispo é um pré-requisito para outras mudanças que estão a ser consideradas. Mas isto não era óbvio! Em vez disso, o Vaticano, como o conselho consultivo dos bispos diocesanos, preferiu os leigos assumissem o papel de “coordenadores administrativos diocesanos”. Dar aos leigos responsabilidades administrativas e financeiras é geralmente aceite, mas dar-lhes responsabilidades pastorais é outra coisa... Mas foi o que aconteceu em Maio com o anúncio desses novos “representantes do bispo”.
Gregory Solari: Esta abordagem preocupa tanto os padres, como os fiéis. Isso é normal: a sinodalidade representa uma mudança de paradigma em relação ao que sempre conhecemos; isso perturba as nossas percepções. Para mim, um dos grandes projectos dos próximos anos é repensar a teologia do presbitério. Enquanto o Vaticano II reavaliou o papel dos bispos e dos fiéis, a “camada intermediária”, a dos sacerdotes, foi um tanto ou quanto esquecida.
Gregory Solari: Sim, acho que sim. Em primeiro lugar, porque a democracia directa está muito bem estabelecida na Suíça. Em segundo lugar, porque a ala reformada está em maioria e essas igrejas há muito que desejam ser mais sinodais do que nós somos. O contexto eclesial e cultural da Suíça francófona pode, portanto, torná-la um laboratório fecundo.
Philippe Becquart: Claro, não nós não estamos a inventar nada. Já na década de 1990, o Arcebispo Albert Rouet criou as “comunidades locais” em Poitiers, que foram uma espécie de campo de prova para a sinodalidade!
Em todo o caso, esse tipo de experiência é um acto de fé: abandonamos um modelo anterior sem saber realmente o que vamos encontrar. O que caracteriza o caminho que aqui percorremos nos últimos três anos em relação a uma sinodalidade maior é a surpresa que marca cada passo em direcção a uma maior responsabilidade de todos os baptizados.
Este é um momento decisivo para a Igreja.
Entrevista de Mélinée Le Priol, publicada no La Croix International a 30 de Julho de 2021.
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