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DACS com Vatican News | 4 Jul 2022
Cardeal Hummes, que inspirou o Papa com o nome de Francisco, faleceu
O cardeal franciscano, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero faleceu hoje aos 87 anos após uma longa doença.
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  © DR

“Omnes vos fratres” (“Todos vocês irmãos”) lê-se no brasão episcopal, ecoando a expressão de São Francisco de Assis, “Todos irmãos”, que inspirou também a última encíclica do Papa. Um outro sinal evidente da unidade de propósito e pensamento que o unia ao outro Francisco, o pontífice reinante, cujo nome – resultado tão inédito no mundo há dez anos, sem precedente ou numeral – foi fruto de sua sugestão.

“D. Cláudio”, como o chamava carinhosamente quem conheceu o cardeal Cláudio Hummes, faleceu hoje. Deu a notícia “com muito pesar” o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolita de São Paulo, no Brasil, que numa mensagem nos convida a elevar orações como sinal de agradecimento pela vida laboriosa do cardeal falecido, pedindo a Deus que o acolha e lhe dê a vida eterna. O seu corpo, afirma Scherer, será exposto na catedral de São Paulo onde serão celebradas eucaristias para os fiéis.

 

Um coração para os pobres

O cardeal Hummes tinha 87 anos e um grande coração pulsante – e não há retórica ao dizer isto – pelos “pobres”. Os povos indígenas da Amazónia, como os missionários consagrados e leigos; os sedentos e famintos do Sul do mundo, como os trabalhadores mal pagos ou as vítimas das mudanças climáticas.

Tinha em mente esses pobres o tempo todo, mesmo nas últimas votações do Conclave de 2013 que elegeram o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Ao amigo argentino, sentado ao seu lado, quando atingiu o número de votos necessários para ser eleito, sussurrou-lhe ao ouvido: “Não se esqueça dos pobres”. Da intuição surgiu outra intuição do Papa recém-eleito para a escolha do nome. O próprio Francisco revelou aos jornalistas que encontrou a 16 de Março de 2013:

“Tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da Congregação para o Clero, o cardeal Claudio Hummes: um grande amigo, um grande amigo! Quando a coisa ficava um pouco perigosa, ele confortava-me. E quando os votos chegam a dois terços, vem o aplauso de sempre, porque o Papa foi eleito, e ele me abraça, beija-me e diz-me: “Não se esqueça dos pobres!”. E essa palavra entrou aqui: os pobres, os pobres. Então, imediatamente, em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis”.

 

Hummes e o pontificado de Francisco

Hummes alegrou-se com aquela eleição e ao Papa, através dos microfones da Rádio Vaticano, desejou “um pontificado prolongado”, porque, disse, “a Igreja precisa deste pontificado, a Igreja precisa deste projecto que ele manifesta e que pôs em marcha”.

Hummes sempre rezou pela Igreja, para que fosse sempre firme e unida, não cedendo a ameaças externas e internas.

“A Igreja defende a sua unidade como unidade de pluralidade. As divisões são más”, afirmou o cardeal diante de quem queria questionar a autoridade do Papa.

Nesta Igreja que desejava pobre e sempre “em saída”, o arcebispo emérito de São Paulo esperava que pudesse soar forte a voz das populações amazónicas, atormentadas pela desflorestação, projectos predatórios e doenças da terra e das pessoas, além de problemas pastorais.

Outro motivo de grande alegria para o cardeal foi, de facto, a convocação do Sínodo para a Região Pan-Amazónica em Outubro de 2019, uma oportunidade para concentrar a atenção colectiva numa parte do mundo muitas vezes esquecida.

Nomeado relator geral, no relatório introdutório propôs aos participantes da assembleia concentrar os seus trabalhos em novos caminhos para a Igreja na Amazónia: inculturação e interculturalidade, a questão da escassez de sacerdotes; o papel dos diáconos e das mulheres, o cuidado da Casa Comum no espírito da ecologia integral.

“Os povos indígenas demonstraram de muitas maneiras que desejam o apoio da Igreja na defesa e protecção dos seus direitos, na construção de seu futuro. E pedem que a Igreja seja uma aliada constante”, disse o cardeal no Sínodo.

“Aos povos indígenas devem ser restituídos e garantidos o direito de serem protagonistas da sua história, sujeitos e não objectos do espírito e da acção do colonialismo de ninguém”, afirmou.

Ao contrário daqueles que olharam apenas para os resultados imediatos do Sínodo, julgados insatisfatórios em relação aos pedidos de muitos dos participantes, Hummes olhou sempre para além da assembleia no Vaticano. Não no Sínodo, mas no processo que o Sínodo abriria na Amazónia e no mundo.

Nos últimos tempos, especialmente desde 2020, ano da sua nomeação como presidente da recém-criada Conferência Eclesial da Amazónia, insistiu na “aplicação” das indicações do Sínodo.

“O Sínodo é o ponto alto que ilumina o caminho. Mas continua agora, todo o processo continuará também na aplicação pós-sinodal, no território e em todos os lugares onde haja uma ligação”, disse sempre aos meios de comunicação vaticanos, através dos quais denunciou também os “graves problemas climáticos e crise ecológica” que realmente colocam em risco “o futuro do planeta e, portanto, o futuro da humanidade”.

O cardeal reiterou a mesma urgência numa carta de Julho de 2021, na qual pedia ao mundo que passasse do “ter de fazer”, portanto, de belas promessas, ao “fazer”, ou seja, acção concreta, porque as resoluções do Sínodo na Amazónia não caem em saco roto, mas encontram aplicação prática nas diversas comunidades.

“Não há problema em continuar a discernir o que devemos fazer, mas mesmo que isso seja bom, não é suficiente”, escreveu o cardeal.

 

A vida e o longo serviço na Igreja

Nascido em Montenegro, Rio Grande do Sul, de família de origem alemã, Auri Afonso – este é o seu nome de baptismo – assumiu o nome religioso Cláudio ao ingressar na Ordem dos Frades Menores em 1956.

Estudou Filosofia em Roma e especializou-se em ecumenismo no Bossey Institute em Genebra; foi professor, reitor, teólogo, bispo. Passou vinte e um anos, a partir de 1975, em Santo André, onde se destacou pela defesa dos trabalhadores, por apoiar os sindicatos e participar em greves como bispo encarregado da Pastoral Operária em todo o Brasil.

Em 1996 foi nomeado arcebispo de Fortaleza, no Ceará. Durante os seus dois anos de ministério foi responsável pela Família e Cultura na Conferência Episcopal Brasileira em Brasília. Foi, portanto, um dos arquitectos do II Encontro Mundial das Famílias com o Papa, realizado no Rio de Janeiro em 1997.

A 15 de Abril de 1998, João Paulo II nomeou-o como arcebispo metropolita de São Paulo, onde deu impulso à pastoral vocacional, à formação dos sacerdotes e à evangelização da cidade. O papel desempenhado no campo da comunicação de massa também é importante, porque a Igreja – afirmou – tinha de falar com a cidade, aproximando os católicos e levando o Evangelho às famílias.

Wojtyla também o criou cardeal a 21 de Fevereiro de 2001. Por isso, participou do Conclave em Abril de 2005 que elegeu Joseph Ratzinger. E o próprio Bento XVI nomeou-o prefeito da Congregação para o Clero em 2006, sucedendo ao cardeal Darío Castrillón Hoyos.

Nesta qualidade, organizou e promoveu o Ano Sacerdotal. Em Maio de 2007 participou na V Conferência Episcopal Latino-Americana, mais conhecida como Conferência de Aparecida, cujo relator do documento final foi o Cardeal Bergoglio.

Em 2010, Hummes renunciou ao cargo de prefeito e presidente do Conselho Internacional de Catequese, órgão vinculado à Congregação, ao atingir o limite de idade.

A 29 de Junho de 2020 foi eleito presidente da Conferência Eclesial da Amazónia, instituída com uma plataforma especial na internet como uma “ferramenta eficaz” para implementar muitas das propostas que surgiram do Sínodo e tornar-se “uma ponte que anima outras redes e iniciativas eclesiais e sócio-ambientais a nível continental e internacional”. Aquilo que D. Cláudio tentou fazer até aos últimos dias da sua vida terrena.

 

Artigo original de Salvatore Cernuzio, publicado a 4 de Julho de 2022 em Vatican News.

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