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DACS com Omnes | 14 Jul 2022
Pietro Angelo Muroni: “A liturgia revela o mistério e abre-nos à presença de Cristo”
O professor Pietro Angelo Muroni, decano de teologia da Pontifícia Universidade Urbaniana, desvenda nesta entrevista à "Omnes" os pontos-chave da “Desiderio desideravi”, o documento sobre a formação litúrgica de todos os fiéis.
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  © Pietro Angelo Muroni

Assim que leu a recente carta do Papa Francisco ao Povo de Deus sobre a liturgia, intitulada “Desiderio desideravi”, o professor Pietro Angelo Muroni, decano de teologia da Pontifícia Universidade Urbaniana, autor de inúmeros livros sobre fé e espiritualidade e sacerdote da diocese de Sassari, teve a certeza de que a importância deste documento reside no facto de não se dirigir apenas à hierarquia eclesiástica: “Afecta todo o Povo de Deus, porque a formação litúrgica deve interessar a todos, deve envolver-nos a todos. O Papa diz: a liturgia é a dimensão fundamental para a vida da Igreja”, diz.

É de tal modo assim, explica Muroni, que a carta “não quer ser um tratado de teologia litúrgica, não quer ter um viés académico. Em vez disso, o Papa quer que seja um elemento de reflexão para contemplar a beleza e a verdade da celebração cristã”.

 

Professor, então o Papa está a chamar o povo de Deus para regressar à verdadeira essência da liturgia?

Certamente. O Papa chama o povo de Deus a voltar ao espírito da liturgia, como a definiria o teólogo Romano Guardini. Não há muito tempo, o Papa recebeu em audiência os membros do Pontifício Instituto Litúrgico por ocasião do 60º aniversário da sua fundação e disse-lhes: cuidado quando a liturgia se torna um campo de batalha para questões que não são essenciais ou que até são obsoletas. Por isso, o Pontífice, diante do perigo do mundanismo espiritual, de que tratou também na sua primeira exortação apostólica Evangelii Gaudium, quer exortar-nos a todos a considerar a integridade daquilo que celebramos.

 

Quais são os outros elementos importantes deste documento?

Em primeiro lugar, insiste-se que a liturgia é a Obra de Deus, na qual Deus envolve o homem. O ponto número 7 da Sacrosanctum Concilium diz: nesta grande obra, na qual Deus, através do rito, vem ao homem para salvá-lo, Cristo une a sua Igreja, sua esposa. Portanto, é Deus que nos alcança, mas, ao mesmo tempo, Deus envolve a Igreja. Outro elemento importante do documento é precisamente o convite a redescobrir a beleza da liturgia. Nesse sentido, já na Evangelii Gaudium o Papa Francisco tinha sublinhado o facto de que a Igreja evangeliza – e evangeliza-se – com a beleza da liturgia.

 

O que quer o documento dizer quando fala sobre a beleza?

Uma beleza, explica o Papa na carta, que não é a busca do esteticismo, das formas belas. Embora a liturgia deva, sem dúvida, ser bela, não deve ser negligenciada. A redescoberta contínua da beleza da liturgia significa a redescoberta da beleza do mistério de Cristo celebrado na liturgia. Temos que nos entusiasmar com a liturgia, o que significa ir além da mera observância de regras e regulamentos.

 

Outro elemento importante é a encarnação?

Sim, porque a encarnação é o fundamento teológico da fé cristã, mas também de toda a liturgia. Ou seja, a liturgia não é incorpórea; a liturgia expressa-se através da humanidade do homem e também se expressa através de gestos, atitudes, sinais e símbolos que fazem parte da vida do homem. É bonito o que diz a Sacrosanctum Concilium no número 83: Cristo, assumindo a natureza humana, trouxe a esta terra de exílio aquele canto que se entoa eternamente nos lugares celestiais. A encarnação de Cristo torna-se o vínculo pelo qual nos unimos a Ele para nos unirmos ao Pai e à Igreja celestial.

 

O documento também mergulha na redescoberta do significado do mistério?

Claro que sim. O Papa pede que tenhamos cuidado com a fumegante expressão “sentido do mistério”. Por vezes, assinala o Pontífice, a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II é acusada de ter eliminado o sentido do mistério da celebração. Mas qual é o mistério para nós? A literatura paulina explica-nos que o mistério de Deus é Cristo, o próprio Cristo que revelou o Pai. É óbvio, então, que a liturgia continua a ser transcendente para nós, o homem nunca pode penetrar profundamente no que é celebrado na liturgia. Mas Cristo também veio através da liturgia, dos sacramentos, para se revelar, não para se esconder. A liturgia revela o mistério e abre-nos à presença de Cristo na sua Palavra, nas espécies eucarísticas, no sacerdote, no povo de Deus.

 

A carta também menciona a formação. Por que é importante?

Se não há formação litúrgica, o que se celebra não pode ser entendido com o coração. Se eu não entendo o que estou a fazer na liturgia, é difícil para mim respeitá-la. A formação é essencial, especialmente em seminários. Receio que certos desvios, como o pelagianismo e o gnosticismo, que se insinuam na liturgia, também dependam da falta de formação. Se educarmos bem os futuros sacerdotes no verdadeiro sentido da liturgia, teremos, como consequência, leigos formados no verdadeiro sentido da liturgia. De contrário, teremos sacerdotes que vivem a liturgia como algo que deve ser feito. Como diz o Papa nesta carta, é preciso formar-se para a liturgia, mas também formar-se com a liturgia.

Entrevista de Federico Piana, publicada em Omnes a 13 de Julho de 2022.

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