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dacs com la croix international | 27 Jul 2022
Igreja ainda é “muito clerical, patriarcal e hierárquica”, diz teóloga Africana
Entrevista com a Irmã Anne Béatrice Faye CIC, membro da Comissão Teológica da Assembleia Sinodal Internacional de 2023 em Roma.
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  © Kamboissoa Samboé/ LCA)

Muitas partes da Igreja Católica ainda são “muito clericais, patriarcais e hierárquicas”, de acordo com uma importante teóloga de África.

E ela diz que é um obstáculo para fazer uso do carisma de todos os membros da Igreja.

“No dia-a-dia, são os leigos – e especialmente as mulheres – que fazem a Igreja avançar”, diz a Irmã Anne Béatrice Faye, membro da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Castres.

A religiosa senegalesa é membro da Comissão Teológica da Assembleia Sinodal internacional que será realizada em Outubro de 2023 em Roma.

Também faz parte do conselho editorial da prestigiada revista teológica internacional Continuum.

A Irmã Béatriec recentemente juntou-se a outros teólogos em Nairobi, Quénia, para o 2º Congresso Católico Pan-Africano de Teologia, Sociedade e Vida Pastoral.

O tema do encontro de 18 a 23 de Julho foi “Caminhando juntos por uma Igreja vital em África e no mundo”, organizado pela Rede Pan-Africana de Teologia Católica e Pastoral (PACTPAN) e pelos seus parceiros.

A Irmã falou com Lucie Sarr do La Croix Africa sobre este congresso e o estado da teologia na Igreja no continente africano.

 

Fale-nos sobre o tema do congresso “Caminhando juntos por uma Igreja vital em África e no mundo”.

Assim que falamos de África, coloca-se sempre a questão da homogeneidade das culturas e da diversidade das suas realizações. Na realidade, não há uma, mas muitas “Áfricas”, ou seja, tantas situações, quantos países. O continente é diverso do ponto de vista geográfico, histórico, económico, cultural e geopolítico. Ainda que as representações oscilem entre o afropessimismo de guerras, epidemias, violências, desastres naturais, crises ambientais e fomes, vemos sobretudo um continente emergente que conta com o dinamismo das suas mulheres e dos seus jovens. Mais de três em cada cinco africanos têm menos de 35 anos. Esta conferência procurou examinar este complexo contexto sócio-político e como a Igreja em África é uma testemunha, ou contra-testemunha, da mensagem do Evangelho na política e nos movimentos da sociedade civil. Por outras palavras, o que significa ser “uma Igreja vital”? Como podemos, inspirados pelo Evangelho, criar igrejas locais vivas em África que possam mediar na sociedade? As mensagens do Papa Francisco e do Cardeal Mario Grech — secretário geral do Sínodo dos Bispos — no início do congresso foram ao mesmo tempo uma alegria, um encorajamento e um lembrete das nossas raízes na Igreja universal. Para o Papa, este congresso é um sinal de uma Igreja africana em movimento e uma forma de realizar os sonhos africanos: “Reunirmo-nos para discernir o que Deus nos diz hoje, não apenas para atender às necessidades desafiadoras com certeza, mas também para fazer sonhos Africanos serem realizados (sonhos sociais, culturais, ecológicos e eclesiais) já é um sinal de uma Igreja africana em saída”. Ele esperava que deste congresso, que propõe uma teologia da sabedoria, pudessem emergir os caminhos que a Igreja precisa, por exemplo, para rever as estruturas e estilos de liderança nas nossas dioceses, paróquias, comunidades eclesiais de base, congregações religiosas e casas que revitalizem a Igreja.

 

Quais são as soluções possíveis para a Igreja em África quando se trata de melhor levar em conta a proteção de crianças e pessoas vulneráveis ​​e uma melhor participação das mulheres nos órgãos de decisão?

Articular as histórias que emergem das comunidades cristãs na África permite-nos detectar os sinais das pegadas de Deus nas nossas Igrejas e nas nossas vidas pessoais. Apesar da violência, experiências poderosas foram partilhadas durante este congresso. Por exemplo, estiveram Emmanuel Katongole (Uganda) na inovação da sua quinta, “o sorriso de Deus” com o orfanato iniciado pela Irmã Angélique Namaika (Congo) e “a costura da esperança” acompanhada pela Irmã Rosemary Nyirumbe (Uganda). Essas diferentes experiências, às vezes ocultas, são sinais de esperança e vitalidade para as nossas Igrejas locais. Podem servir como pontos de referência para a Igreja hoje no seu cuidado com crianças e mulheres. Uma das orientações é a de uma Igreja que acompanha. Não há dúvida de que este “caminhar juntos” permite que as Igrejas locais proclamem o Evangelho seguindo a missão de Jesus Cristo. De facto, com a sua vida, Jesus mostrou que veio para os pobres, os pequenos, os marginalizados, os pecadores, os doentes, os sem voz e aqueles que têm dificuldades com a Igreja. Reconhecemos que não é nada fácil dizer “companheiros de viagem”, ouvir-nos como iguais e falar com coragem por respeito à hierarquia. Por exemplo, na Igreja-Família de Deus em África, composta por bispos, sacerdotes, fiéis católicos e religiosos, os jovens devem reconhecer publicamente que são iguais na Igreja e que têm opiniões e carismas diferentes. Diariamente, são os leigos – e especialmente as mulheres – que fazem a Igreja avançar. No entanto, apesar do progresso óbvio nesta área, algumas Igrejas ainda parecem excessivamente clericais, patriarcais e hierárquicas. Daí a conversa rica entre os participantes sobre o papel crucial da mulher na sociedade e na Igreja em África. Quanto às crianças, apesar da violência que sofrem, continuam a ser o centro dos cuidados familiares e comunitários em África. Os vários oradores do congresso sublinharam a importância dada às crianças por Jesus nos Evangelhos. Ele apresentou-os como modelos de discipulado autêntico, especialmente em termos de inocência, simplicidade e confiança absoluta. Também lhes deu um lugar de prioridade na comunidade e advertiu seriamente contra todas as formas de abuso, alienação e maus-tratos de crianças. A visão da sociedade africana tradicional sobre as crianças não é muito diferente dos padrões bíblicos. No entanto, apesar da sua importância na vida familiar, o seu valor é muitas vezes esquecido.

 

Alguns católicos em África sentem que há uma lacuna entre a teologia africana actual e as preocupações do povo. O que acha disto?

Certamente, muitas vezes há uma lacuna entre a reflexão teológica e as preocupações dos católicos comuns em África. Quando África coloca a teologia africana em questão, os teólogos são instados a fazer uma mudança na colocação teológica. Devem redefinir o seu método e a sua finalidade. Isso requer escutar a complexidade da experiência quotidiana dos povos africanos, para decifrar os lugares antropológicos e as suas fracturas socioculturais, políticas e económicas. Esta pedagogia do olhar permite-nos entrar na inteligência da fé a partir das questões e necessidades dos homens e mulheres do nosso continente. Por exemplo, como é que as nossas Igrejas na África defendem, cuidam e fornecem apoio socioespiritual a pessoas vulneráveis ​​e vítimas de exploração de todos os tipos? Como é que os líderes da Igreja em África se podem tornar bons pastores e servos fiéis do povo mesmo além das fronteiras da Igreja? Que tipo de formação deve ser oferecida aos actuais e futuros líderes da Igreja para abordar o clericalismo e promover uma Igreja vibrante onde todos — independentemente do sexo, idade, estatuto e tribo — se sintam valorizados?

 

Entrevista de Lucie Sarr, publicada no La Croix International a 26 de Julho de 2022.

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Palavras-Chave:
Sínodo  •  Papa Francisco  •  Teologia  •  África
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