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O cardeal Jean-Claude Hollerich não gosta de ser chamado de “Eminência”, o tratamento usual dado aos cardeais. “Isso são coisas de Roma. Chame-me padre”, diz o jesuíta de 64 anos. É Arcebispo do Luxemburgo, Presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE) e Relator Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Hollerich participou recentemente num simpósio realizado em Roma para marcar o 60º aniversário do início do Concílio Vaticano II.
Porque nos esquecemos de muitas coisas. Toda a sinodalidade de Francisco vem do Concílio: é um tesouro para atualizar a Igreja. Devemos aproveitar esse tesouro que não conhecemos suficientemente bem. O congresso é muito útil para relembrar e atualizar, e também para conhecer o contexto intercontinental e intercultural do Concílio e como tem sido aplicado em diferentes lugares. Houve uma altura em que parecia que a teologia já não oferecia novidades, mas pudemos ver novos esforços colaborativos que aprecio muito em vários continentes e países. São grandes contribuições de teólogos que nos deram muito o que pensar.
A Igreja da América Latina está hoje mais avançada e mais popular do que na Europa, onde nos consideramos uma elite, mas onde ainda temos muito a aprender e vivemos uma descristianização. Podemos aprender muito com os esforços que estão a ser feitos na América Latina com experiências como as Comunidades Eclesiais de Base, o CELAM e o Sínodo da Amazónia. Também na Ásia há muitos avanços, com um continente de grande diversidade religiosa e social, onde a Igreja é pequena. Também aqui na Europa é, mas as pessoas ainda não perceberam. Ali a Igreja tem uma vitalidade maravilhosa. Essas visões de fora ajudam-nos muito a imaginar a Igreja na Europa.
Não sou profeta, mas se vemos que a reforma litúrgica aprovada no Concílio de Trento levou 200 anos para ser admitida na Europa, podemos pensar que estamos apenas no início. É verdade, porém, que os tempos aceleraram e que o Concílio se desenvolveu na era da modernidade e agora estamos na pós-modernidade. Se não tivéssemos aquele ponto de reforma que foi o Concílio Vaticano II, a Igreja hoje seria uma pequena seita, desconhecida da maioria das pessoas.
(…) Estou convencido de que o Concílio Vaticano II salvou a Igreja. Sem essa assembleia ter-se-ia reduzido a um grupo que realiza belos ritos, mas sobre o qual ninguém sabe nada. Hoje devemos adaptar-nos às mudanças nas estruturas mentais. As pessoas ainda estão interessadas no Evangelho e devemos redescobrir a autenticidade de ser verdadeiramente discípulos de Jesus.
Sim, e muitas. As mais fortes vêm dos tradicionalistas, que curiosamente também são um fenómeno pós-moderno. Eles escolhem apenas um ponto de referência da história, sem olhar para o antes e para o depois. Esquecem-se de como se desenvolve o crescimento da tradição. É um pouco como o que acontece com as séries da Netflix: contam-te uma parte da história, mas é inventada, não é real. Por isso não é por acaso que os movimentos tradicionalistas atraiam jovens da França e dos Estados Unidos.
Sim. Os jovens verdadeiramente cristãos são uma minoria tão pequena que precisam de uma identidade. Não lhes dar uma identidade é terrível, mas devemos garantir que seja sempre uma identidade aberta e sem condenar ninguém. Ter uma identidade é bom, mas as identidades são múltiplas, o que não é fácil.
A uma renovação, a dar espaço ao Espírito Santo na Igreja. Sempre houve espaço, mas nem sempre o ouvimos. O Espírito Santo não está reservado apenas para a hierarquia, mas atua na Igreja para todos. Devemos levar em conta o que dizem todos os batizados e não ficarmos sozinhos com a voz parcial do que dizem os bispos. Eles estão ao serviço do Santo Povo de Deus, pelo que devem sempre ouvir, compreender e chegar a um consenso. Recentemente tivemos um encontro em Frascati da Secretaria do Sínodo e foi maravilhoso. Em breve será publicado um documento que me deixou muito feliz por refletir o modelo da Igreja sinodal.
Entrevista de Darío Menor, publicada no Vida Nueva Digital a 17 de Outubro de 2022.
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