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Carlos Nuno Salgado Vaz | 24 Dez 2016
Natal: festa profunda e gozosa
Celebrar cristamente o Natal é abrir o coração ao gozo de Deus e dos irmãos.
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Se há Palavra de Deus rica é a deste dia de Natal, em que podemos escutar as leituras das três missas previstas. Nesta reflexão, deter-nos-emos mais nas leituras da Missa do dia, com os textos de Isaías, Hebreus e o célebre Prólogo do evangelista João.

Para nós, cristãos, o Natal é e tem de ser muito mais que toda essa exterioridade e esse ambiente superficial e manipulado que se respira pelas nossas ruas. Natal é uma festa muito mais profunda e gozosa que todos os enfeites e prendas da nossa sociedade consumista.

O coração da festa de Natal está em saber fazer silêncio no nosso coração, abrir a nossa alma ao mistério de um Deus que se nos avizinha; alegrar-mo-nos pela vida que nos é oferecida, e saborear a festa da chegada de um Deus Amigo.

Não pode haver tristeza quando nasce a alegria

Afirmava com razão São Leão Magno que: «Não pode haver tristeza quando nasce a alegria». Não é uma alegria insossa e superficial, nem a alegria dos que estão alegres sem saberem porquê. O motivo da nossa verdadeira alegria é que Deus se fez homem e veio habitar entre nós. E só os que se abrem à proximidade de Deus e se deixam atrair pela sua ternura podem desfrutar da alegria. Uma alegria que nos liberta dos nossos medos, desconfianças e inibições diante de Deus.

Como podemos ter medo de um Deus que tanto se aproxima de nós, que se aproxima como um menino? Como recusar quem se nos oferece como um pequenino frágil e indefeso? 

Deus não veio armado de poder para se impor aos homens. Aproximou-se na ternura de uma criança que podemos acolher ou rechaçar. Faz-se carne, isto é, débil, frágil, perecível. O fazer-se carne não quer dizer apenas que se tornou um corpo mortal, revestido de músculos, mas que se fez um de nós, se tornou em tudo semelhante a nós, incluindo os sentimentos, as paixões, as emoções, os condicionamentos culturais, o cansaço, a fadiga, a ignorância, as tentações, os conflitos interiores. Em tudo semelhante a nós, excepto no pecado.

Deus é este menino entregado carinhosamente à humanidade, este pequenino que procura o nosso olhar para nos alegrar com o seu sorriso. Isto diz-nos muito mais de quem é realmente Deus para nós do que possa ser expresso pelas mais altas reflexões teológicas.

Contemplação

Se soubéssemos pôr-nos em silêncio realmente orante diante deste menino e acolher no mais fundo do nosso ser toda a proximidade e ternura de Deus, talvez conseguíssemos entender por que é que o coração do crente deve estar trespassado por uma alegria bem diferente da que aparentemente existe no meio ambiente que nos rodeia e condiciona nestes dias de Natal.

É de contemplação que nos fala o evangelista: «E o Verbo fez-se carne e pôs a sua tenda entre nós, e nós contemplamos (théomai) a Sua glória». (Dom António Couto) É o próprio Deus tornando-se comunicação, doação, encontro.

O nosso Deus não é auto-referencial, alguém voltado sobre si mesmo, auto-suficiente na sua gloriosa e impassível divindade. Pelo contrário, o seu dinamismo consiste em ser Ele a ter a iniciativa do diálogo, o que dá o primeiro passado prendando-nos com a sua Palavra. Uma Palavra compreensível porque está dita na história de Jesus, tão humano como nós. Uma Palavra autêntica e inesgotável, porque este Menino Jesus aprenderá a falar, e falará com palavras de vida eterna.

Diz o evangelista que «Na Palavra havia vida, e a vida era a luz dos homens». O que quer dizer que é fácil distinguir o que é Palavra de Deus e o que não o é. Se a palavra produz vida e humanidade, se orienta para o bem e a justiça, de certeza que é Palavra de Deus. Se engana e nos torna tristes, se divide e causa inimizade, faz alarde do seu poder e subjuga, não dá vida e até a escurece, de certeza que não é Palavra de Deus».

Abrir o coração

Celebrar cristamente o Natal é abrir o coração ao gozo de Deus e dos irmãos. Gozo e felicidade sobretudo para os pobres e simples do povo. São eles que melhor captam os sinais de Deus e a quem Deus mais ama.

Deus é gratuito e sem complicações. Por isso o captam melhor os simples, os que são capazes de amar os irmãos, os que têm maior disponibilidade para receber e partilhar o dom de Deus.

Necessitamos alma de pobre para que, vazios de nós mesmos, possamos ser cheios (plenificados) por Deus. Assim, saberemos agradecer, desfrutar e partilhar com os outros o melhor e mais valioso prémio, oferecido a todos: a paz e o amor do Senhor.

Não haverá Natal verdadeiro enquanto não se  realizar a libertação que Jesus traz ao nosso mundo, enquanto houver fome, dor, exploração, miséria, opressão, marginalização; enquanto tantos e tantos irmãos continuarem a viver em condições que ferem a dignidade humana; enquanto as crianças forem as vítimas preferidas da morte prematura. Todo este mundo de opressão é sinal de anti-Natal.

Paz

Celebraremos cristamente o Natal se construirmos a paz no nosso ambiente familiar, com os vizinhos, os amigos e companheiros de trabalho; se repartirmos amor aos outros sem esperar nada em troca; se acolhermos o pobre como sendo o próprio Cristo que nos interpela; se os velhinhos, os doentes, os que vivem sós e todos quantos sofrem por qualquer razão sentirem uma mão amiga que os acaricia, um sorriso afectuoso e o calor humano no nosso olhar. Porque o amor é o clima cristão. Se estivermos dentro desta atmosfera ambiental, de certeza que nos amaremos. Será Natal.

Desejo do mais fundo do coração um Santo Natal.

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Palavras-Chave:
Natal  •  Reflexão dominical  •  Verbo  •  Palavra  •  Luz  •  Contemplação  •  Paz  •  Coração  •  Alegria
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