Arquidiocese de Braga -

10 dezembro 2020

Leitura Missionária da Carta Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco – 1.ª parte

Fotografia DACS

Frei José Dias de Lima OFM

Frei José Dias de Lima OFM, membro do CMAB e ANIMAG

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Será possível fazer uma leitura Missionária da Carta Encíclica «Fratelli Tutti» do Papa Francisco? Vejamos!

O episódio da visita de S. Francisco ao Sultão Malik-al-Kamil, num sinal de superação das distâncias de proveniência, nacionalidade, cor ou religião, tornou-se marcante e histórico, uma vez que, neste encontro, estava a grandeza do amor, que queria viver num desejo de abraçar a todos, mas sem negar a sua identidade cristã, mesmo entre sarracenos e infiéis. Que é isto senão missão? O Papa Francisco manifesta-se impressionado, ao afirmar como é que, há oitocentos anos, S. Francisco de Assis, espalhava o amor fraterno, mesmo com quem não partilhava a sua fé. E, digo eu, quem não fica impressionado com o papa, perante este gesto altamente profético, que se tornou uma referência a seguir, e reconhecido através dos tempos como exemplo de missão para a paz e para o amor? Isto, realmente, foi missão e é missão pois foi um ir ao encontro de todos, sem excluir ninguém e sem negar a identidade cristã.

Ao jeito de S. Francisco de Assis, segundo o Papa Francisco, o missionário, ou seja, o cristão, porque todo o cristão é missão, deve combater a cultura dos muros no coração, combater a cultura dos muros na terra e, consequentemente, deve combater a cultura do confronto, e implantar a cultura do encontro. Claro que o Papa, nesta Encíclica, se dirige a todos os homens de boa vontade e não apenas aos cristãos católicos, mas nós, os cristãos católicos, pelo imperativo do mandato missionário de Jesus, mais do que ninguém, devemos enveredar por esta diretriz missionária e tão franciscana.

Ora, segundo o Papa Francisco, no meio desta tragédia global, que é a pandemia do COVID-19, neste espírito de construir pontes e não muros ou barreiras, a comunidade mundial deve tomar consciência de que viajamos todos no mesmo barco e o mal de um só, prejudica a todos, porque ninguém se salva sozinho, e que, por isso a pertença como irmãos, pertença comum à qual ninguém se pode subtrair, é uma bênção. Só nesta consciência missionária, que nos deve fazer lutar por um mundo mais justo e mais fraterno, se poderá combater o princípio do «salve-se quem puder» ou «todos contra todos». Segundo o Papa, este «cada um por si», seria pior que uma pandemia.

Mas há uma afirmação do Papa Francisco, que denuncia esta dimensão missionária da Encíclica «Fratelli Tutti», é quando ele afirma categoricamente: «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo». Ou seja, o Santo Padre está a dizer a cada cristão, isto é, a cada discípulo de Cristo, que deve solidarizar-se com os mais fracos e mais frágeis. Para melhor entendermos este imperativo missionário de não ficar parado, mas de nos pormos a mexer ao encontro do próximo, que mais do que um simples «outro», é vizinho, e mais do que vizinho é irmão, o Papa faz uma explanação da missão que privilegia o encontro e as pontes, apresentando a Parábola do Bom Samaritano, como modelo desse gesto de ser missão através da dimensão do amor e da fraternidade ou, se quisermos, da "fraternura" isto é, da ternura fraterna.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 10 de dezembro de 2020.


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Igreja Viva 10 de Dezembro de 2020.pdf