Arquidiocese de Braga -

31 dezembro 2020

Leitura Missionária da Carta Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco – 3.ª parte

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Departamento para as Missões

Frei José Dias de Lima OFM, membro do CMAB e ANIMAG

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Para o Papa Francisco, o missionário não deve impor as suas ideologias aos outros nem fazer a defesa violenta da verdade mas isso sim, reconhecer o primado do amor, pois, como afirma o papa, «o maior perigo é não amar». Acima de tudo, o discípulo missionário tenha a preocupação em cuidar das famílias, da nossa sociedade, do nosso povo, sem impor expectativas, exigências ou desejos de omnipotências, diante dos mais fracos, padecendo até na hora de tocar a carne do irmão, e de lutar para o erguer do seu sofrimento. Trata-se de uma missão-serviço, e, como diz o papa: «o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas».

O missionário deve viver a gratuidade fraterna, agindo ao jeito de Deus que, sem fazer aceção de pessoas, faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus (Mt 5, 45), seguindo o conselho de Jesus, que quer que a nossa esmola permaneça no segredo (Mt 6, 34) e, sobretudo porque deve dar de graça o que recebeu de graça (Mt 10, 8). Da consciência desta gratuidade surge a «cultura do encontro» que deve gerar um povo capaz de recolher as diferenças, através da batalha do encontro com as armas do diálogo.

Mas este diálogo, e esta «cultura do encontro» não dispensa a Igreja e, consequentemente, o discípulo missionário, de «despertar as forças espirituais» que possam fecundar a vida social, sem fazer política partidária, mas, também, sem renunciar, no caso dos leigos missionários, «à dimensão política da existência, que implica uma atenção ao bem comum e a preocupação pelo desenvolvimento humano integral». É isto, afinal, a Igreja que se deseja, uma igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos e das sacristias, para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação, em suma, «uma casa com as portas abertas, porque é mãe».

Portanto, temos uma identidade cristã à qual não devemos renunciar nunca, na hora de evangelizar. O fanatismo ideológico entrava a missão, e isso nunca deve acontecer. Sem renunciar à sua fé, o missionário deve tomar consciência de que a Igreja nada rejeita do que existe de verdadeiro e santo nas outras religiões e, como diz o papa «olha com respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que refletem, não raramente, um raio de verdade que ilumina todos os homens». No entanto, aquilo a que o Papa Francisco chama «a música do Evangelho» não deve deixar de ressoar aos ouvidos e ao coração do cristão na hora de anunciar as razões da sua esperança, uma música «que deve repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política, e na economia» onde somos convidados a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher.

O cristão católico, ou o missionário católico, deve sentir-se como tal, porque pertence à igreja católica, ou seja, universal e, por isso, em razão dessa pertença, deve sentir-se chamado a encarnar-se em todas as situações e assumir um caminho de fraternidade, compreendendo a beleza do convite ao amor universal, respeitando a liberdade religiosa e as outras opções de fé, mas firme nas razões da sua esperança, ao mesmo tempo que dá testemunho de um caminho de encontro entre as várias confissões cristãs, pois não pode esquecer o desejo de Jesus «que todos sejam um só» (Jo 17, 21).

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 31 de dezembro de 2020.


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