Arquidiocese de Braga -

4 fevereiro 2021

Missão de Ocua: “reinventar-se” perante a situação de crise

Fotografia

Bernardino Silva

Bernardino Silva, responsável da Missão Amar(es) de visita à Missão de Ocua

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Viajar para conhecer a Missão de Ocua, situada na Província de Cabo Delgado, em Moçambique, foi um momento de Orgulho e de Felicidade. Orgulho, porque se trata da mais recente paróquia da Arquidiocese de Braga, a 552ª e situa-se na diocese de Pemba e Felicidade, porque acompanho desde o começo a Missão de Ocua e, tinha imensa curiosidade em ver, escutar e sentir, por mim, o que já testemunhara a partir dos relatos dos voluntários que tinham vivido naquela região do povo Macua.

A Missão de Ocua encontra-se na região fronteiriça com a província de Nampula. Atualmente, está a gerir e a coordenar a paróquia de Santa Cecília de Ocua a Andreia Araújo, uma voluntária enviada pela Arquidiocese de Braga, juntamente com o sacerdote missionário Jeancy, congolês e o seminarista diocesano Moisés, moçambicano, ambos enviados pelo D. Luiz Fernando Lisboa, bispo de Pemba, a fim de apoiarem a Missão de Ocua uma vez que, infelizmente, o sacerdote Manuel Faria e a voluntária Fátima Castro que têm destino marcado para esta paróquia e realizar a missão de voluntariado, ainda não tiveram autorização para viajar desde Portugal para Moçambique.

Tanto poderia escrever sobre a Missão de Ocua mas, no essencial, o que importa é valorizar o que já foi executado e contribuir, se possível, com projetos sustentáveis para o futuro da missão. Um dos projetos a concretizar-se, é a construção da Escola que irá, assim, revitalizar uma indispensável área para o desenvolvimento, como é a educação. E será, por si só, um motivo de perspetivar o futuro da missão com um indispensável marco para a história da comunidade local. Relativamente à área da saúde, a Missão de Ocua tem um Posto de Saúde, que funciona cinco dias por semana, com um enfermeiro e um ajudante que permite responder às situações imediatas da população. O projeto de Aleitamento, também associado à Missão de Ocua, tem sido fundamental para tratar os problemas da sub-nutrição e no apoio à maternidade. Pastoralmente fiquei muito agradado com a envolvência das crianças e dos jovens, mesmo em tempo de pandemia. Participam ativamente nos ensaios do grupo coral, nas cerimónias religiosas e divertem-se nas atividades lúdicas através de jogos coletivos. Uma alegria contagiante a que vi, senti e que anseio voltar a apreciar.

Mas creio que, neste momento, a Missão de Ocua tem um enorme desafio, que é o de “reinventar-se” perante a situação de crise, e ajudar a criar estruturas dignas de acolhimento a todos os deslocados que estão a chegar à região, porque a situação em Cabo Delgado continua muito delicada, devido aos ataques dos grupos armados. Os deslocados são aos milhares e as aldeias que os acolhem são precárias, assim como as instalações das organizações internacionais no terreno. O território carece de muita ajuda humanitária e de maior atenção internacional, como recentemente denunciou o bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa. Contudo, é impressionante a solidariedade demonstrada pela população local ao nível do acolhimento. Justamente, quem pouco ou nada tem ainda consegue receber aqueles que chegam sem rigorosamente nada, ao fugirem de ataques atrozes e que tudo perderam.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 04 de fevereiro de 2021.


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