Arquidiocese de Braga -

10 fevereiro 2021

Narrativas de quarentena de um jovem universitário (2ª temporada)

Fotografia

Departamento da Pastoral Universitária

Francisco Ferreira, Engenharia do Ambiente (FEUP)

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A humanidade tem vindo a enfrentar problemas cada vez mais desafiantes. Desde as alterações climáticas, a conflitos e guerras, até às desigualdades económicas e sociais, são vários os temas que constituem grandes preocupações na atualidade. Como se não bastasse, nos últimos tempos, surgiu a Covid-19, um desafio implacável, de difícil solução.  

A pandemia tem provocado inúmeros desafios ao mundo, de entre os quais se destacam o isolamento social e sentimentos negativos, tais como a ansiedade, o medo e a incerteza. Estamos a passar por uma fase difícil, muito dura, cuja passagem depende da resiliência de cada um de nós. A onda da pandemia abalou-nos, tal como as outras ondas neste oceano de desafios, mas não devemos deixar que isso nos derrote. Na verdade, o distanciamento social não implica o distanciamento dos outros, dos sentimentos, da inter-ajuda, da fé e do espírito de mudança.

Recordo uma passagem do Capítulo VIII da encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, que diz o seguinte: “O culto sincero e humilde a Deus leva, não à discriminação, ao ódio e à violência, mas ao respeito pela sacralidade da vida, ao respeito pela dignidade e a liberdade dos outros e a um solícito compromisso em prol do bem-estar de todos”.  

Desde novo que aprendi que o conceito da “solidariedade” vai estar sempre presente e vai ser importante nas nossas vidas. Enquanto espécie humana, o nosso desenvolvimento histórico datou sempre pela colaboração e entreajuda. Somos seres sociais. De facto, não estamos sozinhos nesta viagem extraordinária que é a vida e devemos reconhecer quando precisamos de ajuda, ao mesmo tempo que devemos reconhecer quando é da nossa responsabilidade, e dever, o ajudar o outro. O mundo deve ser de todos, para todos. Só assim poderemos prosperar uns com os outros.  

É neste espírito que surgiu, em mim, a vontade de integrar o grupo de missão 2021 do Projeto Sementes, numa vontade de cultivar a esperança na vida dos outros e de aceitar este desafio. O desafio de mergulhar na onda e perceber que existe uma realidade debaixo de água. Uma realidade que exige o melhor de nós, no sentido de trabalharmos unidos com o propósito de construir um mundo melhor.  

O voluntariado é saber que, perante as desigualdades que existem no mundo, devemos abraçar o papel cuja responsabilidade é corrigi-las, fazer o melhor possível para as atenuar. Isto porque nós podemos estar hoje bem, mas amanhã precisar de ajuda. Daí termos de nos apoiar uns aos outros. Provocar a mudança. Mergulhar neste princípio, e entregar o nosso coração à missão que Deus tem para nós. Missão essa que toca a todos, sendo que cada um de nós deve entender que é preciso dar para receber. E há muita gente que precisa de receber, que precisa da nossa ajuda. Um dia ouvi uma frase que me marcou bastante: “O momento em que deixamos de lutar uns pelos outros, é o momento em que perdemos a nossa humanidade.” Não podia ser mais verdade. Temos de entender que a nossa liberdade termina onde começa a do outro, daí a responsabilidade que temos de lutar por um mundo melhor. Devemos ser a Luz de Deus na Terra e ser a mudança que queremos ver no mundo.

O projeto Sementes deste ano é o exemplo vivo de que há algo que nos unifica enquanto jovens que ambicionam a partilha, a solidariedade, a amizade e, acima de tudo, a vontade mudar o mundo. Jovens motivados para levar o projeto para a frente, para marcar a diferença. Isso será mesmo o que mais me fascina. E certamente que vamos semear a mudança. Juntos.

Francisco Ferreira, 5ºano no Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente (FEUP)