Arquidiocese de Braga -

4 março 2021

Narrativas de quarentena de uma jovem universitária (2ª temporada)

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Fotografia

Departamento da Pastoral Universitária

Fátima Zorro, Doutoramento em Engenharia de Materiais

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Início de 2021, um novo ano para a humanidade. Depois do tão atípico 2020 de que nos despedíamos, a esperança renovava-se, até já se iniciava a vacinação a nível nacional e nada faria esperar os números de infetados das últimas semanas de janeiro. Havia a expectativa de que aquelas doze badaladas nos trouxessem liberdade e alívio, como por magia, o que não aconteceu.

Agora de novo confinados, com uma fadiga psicológica agravada, “bombardeados” pela comunicação social, revoltados e, no meio desta incerteza, é normal sentirmo-nos um pouco perdidos. No entanto, no meio deste turbilhão de sensações, é crucial manter a positividade, a resiliência e em particular a paciência, vivendo um dia de cada vez, de modo a ultrapassar os desafios que nos são apresentados.

No meu caso específico, esses desafios encontram-se no âmbito da solidão e isolamento. Na verdade, com um dos grandes pilares da minha vida, a família, a 300 Km de distância e sem poder visitar ou sair com amigos é um desafio manter a sanidade e não deixar afetar-me por pensamentos negativos. Valham-nos as videochamadas, que não sendo o mesmo, é um apoio para colmatar este distanciamento.

De igual modo, também é bastante proeminente o efeito da pandemia, e particularmente deste segundo confinamento, no percurso académico que atualmente percorro. Prestes a iniciar o terceiro ano do doutoramento em Engenharia de Materiais, os desafios que se apresentam são mais que muitos. Esta etapa não se resume a assistir a aulas e estudar para testes, mas antes planear experiências, ir para o laboratório, testar hipóteses, retirar conclusões e continuar a tentar alcançar os objetivos. Toda a conjuntura atual de incerteza e as medidas de prevenção da transmissão do vírus resultam num atraso no alcance das metas estabelecidas, acabando por acrescentar uma carga adicional de pressão psicológica a uma fase académica já por si difícil. Ademais, toda esta etapa da minha vida académica também teria uma grande vertente social que ficou suspensa, desde conferências, a cursos extracurriculares ou o desenvolvimento de atividades em parceria com outras instituições.

Porém, não obstante todas as limitações e constrangimentos que a pandemia traz para a minha vida, esta é também a melhor altura para me concentrar nas motivações que me levaram a seguir este estilo de vida, o gosto por aprender, querer descobrir mais e, quem sabe, concentrar-me mais na procura em mim mesmo da capacidade de melhorar um pouco o mundo e a sociedade.

São também estes um dos motivos que me fizeram inscrever no grupo de missão 2021 do Projeto Sementes, no qual encontro a possibilidade de ajudar o próximo e atenuar as desigualdades através da cooperação com outras pessoas. O facto de se enquadrar num tipo de voluntariado com cariz missionário intensifica a vontade e o privilégio de estar envolvida, já que, desde cedo na minha vida, tive pessoas extraordinárias que me instruíram e transmitiram os valores da fé cristã. Partilhar esta experiência com outros jovens dispostos a doar o seu tempo é algo que me transmite muita esperança no futuro.

Agora, mais do que nunca, os princípios do voluntariado, a partilha, a generosidade, o respeito, a compaixão, devem ser colocados em prática por cada um de nós, nem que seja em pequenas ações do quotidiano, assim conseguiremos superar esta fase mais sombria. Até porque a noite é mais escura antes do amanhecer, mas haverá sempre um nascer do sol.