Arquidiocese de Braga -

5 junho 2016

A alegria do amor – 7

Fotografia Rido

Carlos Nuno Salgado Vaz

Crescer no amor conjugal

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Como caracterizar o amor que une os esposos? É um amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do sacramento do matrimónio. «É uma união afetiva, espiritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da amizade e a paixão erótica, embora seja capaz de subsistir mesmo quando os sentimentos e a paixão enfraquecem» (número 120).

Deus como que se espelha nos cônjuges quando celebram o sacramento do matrimónio. «Imprime neles as suas características e o caráter indelével do seu amor. O matrimónio é o ícone do amor de Deus por nós... nisto consiste o mistério do matrimónio: dos dois esposos, Deus faz uma só existência» (121).

Amizade maior

Francisco cita novamente Tomás de Aquino para afirmar que o amor dos esposos, depois do amor que nos une a Deus, é a «amizade maior». «É uma união que tem todas as características de uma boa amizade: busca do bem do outro, reciprocidade, intimidade, ternura, estabilidade e uma semelhança entre os amigos que se vai construindo com a vida partilhada».

E a isto, o matrimónio acrescenta uma exclusividade indissolúvel, que se exprime no projeto estável de partilhar e construir juntos toda a existência, pois na própria natureza do amor conjugal existe a abertura ao definitivo.

E assim se descobre que prometer um amor que dure para sempre é possível sempre que se descobre que há um desígnio maior que os próprios projetos, um desígnio que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada. O dom da graça permite atravessar todas as provações e manter-se fiel contra tudo (124).

Mais: «o matrimónio é uma amizade que inclui as características próprias da paixão, mas sempre orientada para uma união cada vez mais firme e intensa».

Aprende-se ainda que «a alegria matrimonial pode-se viver mesmo no meio do sofrimento, pois ela implica aceitar que o matrimónio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e de buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro» (126).

A beleza no matrimónio

Muito importantes são as considerações sobre a verdadeira conceção de beleza no matrimónio. A beleza consiste em captar e apreciar o valor sublime que tem o outro. Não coincide com os seus atrativos físicos ou psicológicos, mas permite-nos saborear o carácter sagrado da pessoa, sem a necessidade imperiosa de a possuir.

Deriva ainda daqui, afirma novamente Francisco citando Tomás de Aquino, que a «ternura é uma manifestação do amor que se liberta do desejo de posse egoísta... O amor pelo outro implica o gosto de contemplar e apreciar o que é belo e sagrado do seu ser pessoal, que existe para além das minhas necessidades» (127).

Novamente surpreende Francisco pela positiva ao afirmar: «A experiência estética do amor exprime-se naquele olhar que contempla o outro como fim em si mesmo, ainda que esteja doente, velho ou privado de atrativos sensíveis. O olhar que aprecia tem uma enorme importância e, recusá-lo, habitualmente faz dano». O verdadeiro amor abre os olhos e permite ver quanto vale um ser humano, para além de todas as limitações e defeitos (128).

Alegria

É muito importante experimentar e saborear que: «as alegrias mais intensas da vida surgem quando se pode provocar a felicidade dos outros, numa antecipação do Céu» (129). Além disso: «poucas alegrias humanas são tão profundas e festivas como quando duas pessoas que se amam conquistaram, conjuntamente, algo que lhes custou um grande esforço compartilhado» (130).

O Papa não ignora que: «comprometer-se de forma exclusiva e definitiva com outrem sempre encerra uma parcela de risco, de aposta ousada... este sim significa dizer ao outro que poderá sempre confiar, não será abandonado se perder atrativo, se tiver dificuldades ou se se apresentarem novas possibilidades de prazer ou de interesses egoístas» (132).

E nestas afirmações temos nós alguns dos desafios maiores do matrimónio que o quer ser de verdade. Muito mais se celebrado sacramentalmente, ou seja, com a promessa de uma fidelidade a toda a prova.

E o amor consolida-se e cresce se os esposos tiverem o saudável hábito de todos os dias se dizerem três palavras básicas: «com licença»; «obrigado»; «desculpa». São elas que protegem e alimentam o amor dia após dia (134).



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