
Quer dar uma ideia à Arquidiocese de Braga com o objectivo de melhorar a sua comunidade?
Estes nossos encontros da Nova Ágora nunca tiveram um intuito meramente religioso. Querem ser expressão de uma Igreja que está entre o povo. Sabe que a sua marca identitária passa pela sinodalidade, ou seja, vontade de caminhar juntos dentro das suas instâncias mas também na relação com o mundo. Temos o nosso caminho. Sabemos que existentes outros, diferentes mas não concorrentes. Com todos queremos estabelecer pontes, desde as diferentes manifestações culturais ao mundo da ciência e da investigação, da política à economia. Trabalhamos pela dignidade de toda a pessoa humana e fixamo-nos no bem comum como o bem de todos e de cada um.
Hoje, não posso deixar de estruturar esta saudação, a todos quantos nos seguem pela internet, a partir da festa religiosas que celebramos. Celebramos a festa de S. José. Não sei se foi uma mera coincidência. Na verdade, olhamos para ele como o padroeiro do trabalhadores, alguém que trabalhou para sustentar uma família no meio de muitos problemas e dificuldades. Também não é por acaso que iniciamos hoje um ano dedicado à família, para reflectir sobre sua identidade a partir do documento do Papa Francisco intitulado Amoris Laetitia, A alegria do amor. Daí que, com esta sessão, gostaria de convocar as famílias cristãs para um trabalho de reflexão sobre o que deve ser a família, hoje, e atrevo-me a endereçar idêntico convite a outras pessoas que acreditam no valor da família neste contexto social em que vivemos. Fica, para nós, solenemente aberto este ano familiar que nos vai ajudar a caminhar com as famílias numa atitude chamada samaritana, ou seja, que quer individualizar as feridas que incomodam os lares para as carregar com eles rumo a uma solução geradora de felicidade.
A experiência da pandemia veio pôr em evidência a centralidade da família e a sua missão como verdadeira Igreja a realizar-se nos contornos dos lares e a mostrar a urgência de estabelecer laços de comunhão e de estímulos variados para que a sociedade, assim como também a Igreja, cresça como uma autêntica família de famílias. Penso que ninguém duvida que a dureza destes dias se tornou mais suave nos locais onde existiu um verdadeira rectaguarda familiar… e que tudo se complicou, ainda mais, quando a solidão determinou isolamentos e carência de afectos.
A partir da família compreendemos a importância do trabalho. Ele é um elemento fundamental para a dignidade das pessoas, de modo que podemos afirmar que sem ele não há dignidade de vida. Sabemos que o trabalho é um direito mas também sabemos que nem todo o tipo de trabalho dignifica. Há trabalhos indignos que são sinais de exploração humana, como são aqueles sem condições para trabalhar, a exploração das mulheres, aquelas que entregam o seu corpo à prostituição, quem vive da corrupção. Esta dignidade supõe uma igualdade de retribuição salarial entre homens e mulheres e um respeito pelos direitos que se foram conquistando ao longo dos anos, uma conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal, a inclusão das pessoas com necessidades especiais, nomeadamente nas limitações a nível de mobilidade, com tudo o que isto implica, no mercado do trabalho.
Na referida encíclica, o Papa Francisco afirma que “o trabalho torna possível simultaneamente o desenvolvimento da sociedade, o sustento da família e também a sua estabilidade e fecundidade”. Isto faz com que o trabalho seja digno quando olha para a família e permite que nada lhe falte de essencial. É por tudo isto que “o desemprego e a precariedade laboral geram sofrimento” e afectam a “serenidade das famílias”. Desemprego e precariedade: duas grandes preocupações que a pandemia veio tornar mais visíveis.
A precariedade tem muitos rostos. Contratos temporários, contratos a prazo, contratos a termo certo, recibos verdes, bolsas de investigação, estágios curriculares que se alargam a todas as faixas etárias. Creio que a lista não está completa. Muitos consideram estas realidades um verdadeiro flagelo dado que, entre outras coisas, os trabalhadores com contratos precários são os que auferem menores salários, colocando as pessoas e suas famílias no limiar da pobreza. O trabalho precário gera insegurança e fragilidade laboral. Há quem diga que a flexibilização do mercado do trabalho e a intensificação da precariedade laboral são os dois grandes problemas que importa abordar para uma sociedade mais justa e igual.
Não quis intrometer-me nem antecipar as exposições e diálogos. Foi só sublinhar a importância de alguns elementos neste tempo de crise económica a ter incidências sociais que podem agravar o bem estar de muitos portugueses. As comunicações e diálogo sequente, sempre aberto a receber outras ideias através dos meios digitais, serão uma ajuda para que a Arquidiocese de Braga caminhe com o povo e seus problemas. Não os conseguiremos resolver. A sensibilização já é um serviço muito concreto. Deixo uma certeza com palavras do Papa. “Onde houver um trabalhador ali estarão o interesse e o olhar de amor do Senhor e da Igreja”.
Quero agradecer as reflexões que serão oferecidas pelos nossos convidados. A sua experiência e competência serão a garantia de que iremos reflectir de um modo sério e comprometido. O acolhimento que prestaremos às suas comunicações são a melhor gratidão a dizer-lhe que nos enriqueceram e que partiremos com vontade de trabalhar por um mundo mais humano.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
P. Paulo Alexandre Terroso Silva
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