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11 Fev 2021
Reconhecer, cuidar, agradecer
Mensagem para o Dia Mundial do Doente
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O Papa S. João Paulo II determinou que, no dia 11 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, se celebrasse o Dia Mundial do Doente, o qual atingiu já a vigésima nona vez edição. Sempre teve uma importância especial. Este ano, por razões óbvias, merece que lhe dediquemos uma atenção peculiar. É uma proposta operativa para cada pessoa, individualmente, mas também para as comunidades e instituições.

Para facilitar uma reflexão, deixo três atitudes a ter em consideração. Reconhecer, cuidar, agradecer.

1. A pandemia veio manifestar a vulnerabilidade e a precariedade da vida humana. O avanço da técnica e dos conhecimentos científicos pareciam mostrar o contrário. Viveu-se numa errónea autossuficiência que foi gerando a convicção de que nada era impossível resolver. Haveria sempre solução para todas as enfermidades, com mais ou menos gastos pessoais ou do Estado. Hoje todos reconhecemos que a fragilidade é intrinsecamente humana. É uma possibilidade para todos e em todos os momentos da vida. Ninguém consegue subtrair-se à inevitabilidade da doença. Não são precisos argumentos para o demonstrar. Basta reconhecer e não viver com ilusões. Somos humanos e isto arrasta consigo a possibilidade de sermos portadores de doenças.

2. Desta certeza imana uma atitude comportamental. Teremos de cuidar da doença. A fragilidade humana pode ser vencida ou acompanhada. Em primeiro lugar, cada um tem a responsabilidade de cuidar de si, não apenas após ter adoecido, mas com atitudes preventivas que manifestam atenção ao modo como se vive. Sabemos que existem muitas inadvertências quotidianas que são ou poderão ser geradoras de mal-estar. Hábitos alimentares saudáveis e um estilo de vida equilibrado pode dar qualidade de vida e evitar consequências negativas. Trata-se de uma responsabilidade pessoal que só o próprio pode assumir. O Dia Mundial do Doente exige este compromisso para que a doença não se desenvolva desnecessariamente. 

Em segundo lugar, importa cultivar uma cultura do criado como dever que toca à sociedade e a cada um. O Papa Francisco, na mensagem que preparou para este dia, afirma: “Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com eficiência animada pelo amor fraterno”. É uma responsabilidade do Estado que tem o dever de providenciar serviços médicos ao serviço de todos, particularmente dos mais frágeis. Tudo deve ser tendencialmente gratuito e universal. Sabemos que estamos muito longe de alcançar este objectivo, se bem que temos de reconhecer muita qualidade nos serviços que são prestados. O Santo Padre não deixa de reconhecer a “insuficiência dos sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes”, lembrando que “investir recursos nos cuidados e na assistência às pessoas doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem comum primário”.

Não podemos escudar-nos com a responsabilidade do Estado. Todos somos cuidadores. Muitos fazem-no de um modo profissional e outros como expressão de amor familiar ou ao próximo. Não podemos fugir a esta responsabilidade que nasce ou deve nascer da certeza de que pertencemos a uma única família. Sabemos que estamos num tempo onde se cultivou e continua a cultivar o individualismo, pensando que é critério para a felicidade humana. Uma das grandes lições que teremos de tirar da pandemia é que ela veio mostrar a nossa interdependência. Todos os dias ouvimos dizer que ou nos salvamos todos juntos ou nos condenamos todos juntos. Ninguém consegue isolar-se e tornar-se uma ilha protegida de todas as invectivas. Somos um corpo onde o bem de uns afecta o bem dos outros e onde o mal nunca é individual pois torna-se ameaça para todos. Nem sempre o sabemos explicar mas é mesmo assim. 

Não basta cuidar de si e entrar em confinamento. Temos de cuidar dos outros, sabendo que estamos a cuidar de nós. Fazê-lo quotidiana e espontaneamente ou envolvendo-nos em processos de voluntariado onde a vida e o tempo se oferece em gratuidade e dedicação. Se isto é uma certeza a que a pandemia veio dar mais evidência, para os cristãos trata-se de um dever oriundo da fraternidade universal que exige que privilegiemos o amor concreto e talvez sacrificado como sinal identitário da nossa fé. Sem amor não somos cristãos. Mas o amor não é uma teoria, um discurso bonito, um simples discurso teórico. O Santo Padre elaborou a sua mensagem a partir do texto de Mateus. “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”, retirado do episódio onde Cristo denuncia a hipocrisia daqueles que “dizem e não fazem”. É fácil falar da fraternidade e da necessidade de cuidar dos doentes. Importam as obras e, neste caso concreto, urge cuidar dos frágeis, vulneráveis, doentes…

3. A Arquidiocese de Braga está a pedir a todos os cristãos que, neste ano pastoral, trabalhem responsavelmente para dar à Igreja um rosto sinodal e samaritano. O que se pretende? Com sinodal estamos a sublinhar que devemos caminhar juntos com todos; com samaritano afirmamos o compromisso de ver e de encher-se de compaixão por todos os feridos que se encontram à margem da vida. Por isso estamos unidos com quem sofre, em experiência de profunda comunhão e solidariedade. E gostaria que, nestes dias, todos os doentes tivessem a certeza de que estou com eles e interpelo muitos outros para que expressem idênticos sentimentos. 

Quero, particularmente, expressar gratidão a quantos os assistem nos espaços dos nossos hospitais, lares, unidades de cuidados intensivos ou quaisquer outras instâncias onde se cuida da doença e doentes e, de um modo ainda mais sentido, àqueles e àqueles que tratam das pessoas doentes em casa, familiares ou não. Desejo que esta gratidão não aconteça somente neste período de pandemia. Esperamos que ela seja ultrapassada. As pessoas com doenças continuarão a existir. São rostos concretos a merecer todo o carinho e dedicação.

Que nunca se cansem e que saibam que são acompanhados por muitos que lhes querem bem, como forma de lhes agradecer. O Dia Mundial do Doente é, apenas, para gritar mais alto o que formulamos quotidianamente. Obrigado pelo vosso trabalho. Continuem. A fraternidade e o amor exigem que o façam.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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