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24 Set 2022
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Homilia na Abertura Regional do Ano Escutista
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1. Ser próximo na caridade

Um voluntário, em África, contou uma experiência que vivenciou na altura da distribuição de comida. A situação era caótica. Ele via que a comida estava a acabar e que as pessoas estavam desesperadas com o medo de morrer à fome. A última pessoa da fila era uma rapariga de nove anos. Quando chegou a sua vez, só restava uma banana. Entregaram-lha. Ela descascou a banana, deu metade ao irmão mais novo e a outra metade à mais nova. Depois, pôs-se a lamber a casca de banana. O voluntário confessou que, naquele preciso momento, começou a acreditar em Deus.

Jesus descreve uma situação inquietante. Um homem rico, sem nome, e Lázaro, um mendigo, vivem perto um do outro, mas estão separados pelo abismo da indiferença. O homem rico está vestido de púrpura e linho fino, o corpo de Lázaro está coberto de feridas. O rico vive encerrado em si próprio, banqueteando-se de si próprio, empanturrado de si e daquilo que possui. Lázaro estava lá, à sua porta, mas não há espaço para a atenção no coração do rico. Está lá fora. Esse é o problema. Tem-no à sua frente, mas não o vê. Lázaro está ali mesmo, faminto e abandonado, mas ele não consegue atravessar a porta para cuidar de Lázaro.

Aquele homem rico é incapaz de abrir a porta da sua casa e se deixar afetar pela situação miserável de Lázaro. Não tinha visto que ele necessitava de migalhas para saciar a sua fome. Ora, é esse não ver que cria o abismo da indiferença.

A riqueza não é um mal, e a pobreza não é uma virtude, mas não é aceitável que não procuremos quebrar a indiferença que não nos aproxima e, mais grave ainda, que não superemos a insensibilidade diante do sofrimento. Aliás, quando refletimos sobre o nosso século, tal como advertia Martin Luther King, o mais grave parece não ser as ações dos maus, mas o escandaloso silêncio dos bons.

A mensagem de Jesus é clara: não à obsessão pela segurança, mas sim ao esforço arriscado e exigente para viver de maneira humana e humanizadora. É uma tentação vivermos sempre a evitar problemas, procurando tranquilidade, não nos comprometendo com nada que nos possa complicar a vida, limitando-nos a defender o nosso bem-estarzinho.

2. 100 anos de vida repartida

Hoje, reunidos no Núcleo de Braga, local que, a 27 de maio de 1923, viu nascer o Corpo de Scouts Católicos, através do Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e o Dr. Avelino Gonçalves, quero recordar-vos que nós só somos o que partilhamos. Não há maior riqueza que possamos receber do que a de termos aprendido a darmo-nos. Aliás, como aquela irmã que repartiu o único alimento existente – uma banana – com os irmãos e, não lhe restando nada mais, se põe a lamber a casca de banana.

A nossa vida é chamada a ser repartida. O mundo precisa que nós façamos da nossa vida dom. A quem serve a nossa vida? A quem servem os nossos talentos? Por quem dás a tua vida? O sonho de Jesus é que a nossa vida não se esgote só nas nossas necessidades e confortos.

Nós não nos salvamos sozinhos, procurando unicamente o nosso bem-estar, construindo muros de indiferença. Nas palavras do Papa Francisco, no seu programático discurso em Lampedusa, estamos todos afetados pela globalização da indiferença, que torna invisíveis tantos irmãos que estão à distância da nossa aproximação, mas de quem nós não nos fazemos próximos! Esta época em tornou-nos vizinhos, mas não nos fez irmãos!

Mantemo-nos alerta para amar como Jesus amou. Nós somos discípulos deste amor. Amar, ao jeito de Cristo, não é fazer apenas isto ou aquilo. É fazer tudo. Nós vivemos demasiado à defesa, a fazer contas do que tu me deste e do que eu te dou, vivendo excessivamente limitados à retribuição, amando somente aqueles que nos amam. E, deste modo, submersos nos nossos cálculos, perdemos a vida.

3. Discípulos de Jesus e escuteiros audazes

O Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida. É um dos vossos comprometedores princípios. O que expressa verdadeiramente a fé são as ações que praticamos no nosso quotidiano. E como testemunhamos a nossa fé? No que somos e naquilo que vivemos. Nos nossos gestos, nos nossos desejos, nos nossos projetos nós testemunhamos Cristo e, assim, o nosso amor transformar-se-á em serviço.

A um passo do Centenário do CNE e das JMJ, com São Nuno de Santa Maria, vosso Patrono, com o venerável Bernardo de Vasconcelos, Patrono dos Jovens da nossa Arquidiocese, e com o vosso envolvimento na comunidade, desejo que sejam fonte de inspiração pela forma como, hoje, criativamente, reinventais o amor cristão.

E, se assim for, como discípulos de Jesus e escuteiros audazes, podemos dizer com Pedro Casaldáliga: no final do meu caminho apenas me dirão: Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei as minhas mãos vazias e o coração cheio de nomes.

† José Cordeiro, Arcebispo Primaz

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