Arquidiocese de Braga -

20 novembro 2008

500 anos do Hospital

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D. Jorge Ortiga

" uma medicina com fins-

\n1 – Em 1508 D. Diogo de Sousa toma conta da obra, iniciada pelo Cón. Diogo Gonçalves, da edificação do Hospital, fornecendo-lhe todos os meios necessários para a sua manutenção e entregou-lhe um Estatuto pelo qual se devia governar.
- Entregou a administração à Câmara Municipal ou Câmara Eclesiástica, uma vez que o poder se encontrava unificado numa única instituição.
- Pelos objectivos a que respondeu era uma Albergaria.
- O mesmo D. Diogo de Sousa, sendo o fundador da Misericórdia ou não, organizou e formou a Confraria da Misericórdia (com a Capela em 1514)
- O Beato Bartolomeu dos Mártires em 19 de Outubro de 1559, num dos seus primeiros actos de governo, anexou e uniu perpetuamente o Hospital à Irmandade da Misericórdia.
A história, como mestra da vida, ajuda-nos a compreender o presente. Quero deixar duas interpelações.
1 – Quando o Beato Bartolomeu dos Mártires confiou à Misericórdia o Hospital de S. Marcos, estava a corresponsabilizar, dando corpo à ideia de que era a Igreja que cuidava dos doentes por intermédio duma Associação de fiéis. A Misericórdia protagonizava a missão da Igreja como Associação da Igreja que era. Os Arcebispos sempre reconheceram e confirmaram esta acção da Igreja junto dos doentes até à altura em que passou para o Governo.
Podemos concluir que nada do que é humano é estranho à Igreja que se compromete pela hierarquia ou confiando ao espírito associativo que os seus fiéis sempre exercitaram como presença da mesma Igreja. Trata-se da autonomia e consciência laical como verdadeira expressão pública da Igreja que é Povo de Deus e não só hierarquia sacerdotal. Aqui temos o exemplo da Misericórdia; outros devem surgir num tempo de indiferentismo. Urge estar no mundo, sem ser do mundo.
2 – Não estando nas mãos da Igreja na actualidade, há um aspecto que importa sublinhar. Alguns países, nomeadamente os Estados unidos, começam a elaborar o que chamam a “Filosofia da Medicina”. Um dos seus cultivadores, o italiano de nascença mas radicado nos Estados Unidos, Edmondo Pellegrino, tem uma afirmação muito paradigmática: “A medicina tem excessos de meios e míngua de fins”. Com efeito, verificamos que hoje se procura dotar a medicina de todos os meios técnicos, mas não se procura sublinhar a importância de objectivos, ou seja, valores que lhe darão a marca de verdadeiro serviço à humanidade. Como consequência, nem sempre se aposta na personalização da medicina, onde a pessoa é considerada em quem a exerce e em quem dela beneficia. O doente deve ser sujeito da medicina assim como o médico e o pessoal técnico também o são.
Quando o doente é sujeito, ele é aceite como pessoa onde a dimensão humana necessita dos cuidados espirituais. Daí que a assistência espiritual nunca poderá ser considerada como facultativo mas, sempre no exercício duma liberdade humana e religiosa, tem de integrar os cuidados a prestar-lhe como algo estruturante e resultado da filosofia que não reduz o doente a simples corpo ou matéria.
Conjugando estas duas observações, formulo votos, quase como conclusões destas Comemorações dos 500 anos, que a Igreja continue presente, como direito dos doentes, nos cuidados a prestar nos nossos estabelecimentos e que o faça através duma assistência religiosa verdadeiramente competente e interpretada por sacerdotes e leigos, individualmente ou dum modo associado.
Deste modo seremos fiéis ao passado e construímos um futuro da sociedade portuguesa e bracarense através duma medicina com fins, ou seja, realizadora dum humanismo integral.
Braga, 20-11-08
† D. Jorge Ortiga, A. P.