Arquidiocese de Braga -
8 novembro 2021
O Sínodo e o discernimento pastoral

Artigo de D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga.
O Sínodo, em que estamos a participar, é mais um gesto corajoso do Papa Francisco. O tema desta “peregrinação” desdobra-se em três palavras, que são um autêntico programa de verificação e de relançamento de toda a vida eclesial: Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão.
O tema da sinodalidade tem três caraterísticas claras. É, em primeiro lugar, um tema generativo, e, portanto, radical, ou seja, deriva da substância da Igreja e não de alguns seus acidentes. Trata-se de um atributo da Igreja, de uma caraterística sua que deriva da sua natureza de ser comunhão, é uma dimensão constitutiva da Igreja. Não se trata de um tema periférico, mas essencial.
Em segundo lugar, há que afirmar que é um tema sistémico e não setorial, porque diz respeito ao modo global de ser Igreja e ao modo de agir na Igreja e como Igreja, ou seja, do seu “estilo” de ser ela mesma e de estar no mundo. Ou seja, diz respeito à vida e à missão da Igreja.
Em terceiro lugar, recordemos que é um tema poliédrico, porque toca tudo e todos, exigindo conversão. Neste sentido, trata-se de um tema multiforme e transversal, e para o abordar não será suficiente um pequeno retoque estético, mas será necessário redefinir a nossa identidade e a nossa missão.
Para participarmos com entusiasmo neste caminho sinodal, que está em marcha, será muito útil ler o Documento Preparatório, bem como o documento da Comissão Teológica Internacional, de 2 de março de 2018, intitulado “A sinodalidade na vida e na missão da Igreja”.
É interessante apercebermo-nos como a Comissão Teológica Internacional trabalhou, por assim dizer, nas premissas da sinodalidade, recordando que o Espírito do Senhor habita em cada fiel e na comunidade no seu conjunto; como consequência disto, todos têm o direito e o dever de participar com os seus próprios carismas na vida e na missão da Igreja. É precisamente isto que este documento sobre a sinodalidade, da Comissão Teológica Internacional, procura desenvolver; e por isso mesmo, trata-se de um ponto sem retorno na reflexão sobre o tema, uma base segura para proceder com reta intenção, um suporte confiável para todos os que se aventurarem na sinodalidade.
Na eucaristia de abertura do Sínodo, o Papa Francisco centrou a sua homilia em três potentes verbos para suportar a vida cristã e o processo sinodal: encontrar, escutar e discernir. “O encontro e a escuta recíproca – afirmou o Papa - não são um fim em si mesmos, deixando as coisas como estão”, já que, nesse caminhar escutando, nós próprios nos mudamos: “no fim, já não somos os mesmos de antes”.
Prestemos especial atenção no discernimento pastoral, que como afirma a Evangelii gaudium, n. 51, passa por: reconhecer, interpretar, escolher.
Reconhecer. A primeira passagem é do olhar e da escuta. Este olhar e esta escuta, cheios de solicitude e cuidado, devem centrar-se naquilo que as comunidades eclesiais de todo o mundo estão a viver.
Interpretar. A segunda passagem é regressar àquilo que foi reconhecido, recorrendo a critérios de interpretação e avaliação a partir de um olhar de fé, a partir da Palavra de Deus. Reconhecendo «que, na Igreja, convivem legitimamente diferentes maneiras de interpretar muitos aspetos da doutrina e da vida cristã» (Gaudete et exsultate, n. 43). Por essa razão, é indispensável assumir um dinamismo espiritual aberto.
Escolher. Nesta terceira fase de discernimento, é necessário examinar os instrumentos e as práticas pastorais, e cultivar a liberdade interior necessária para escolher os que melhor nos permitam alcançar o objetivo e abandonar os que se revelam menos capazes de o fazer. Esta passagem poderá identificar onde é necessária uma intervenção de reforma, uma mudança das práticas eclesiais e pastorais para as livrar do risco de ficarem cristalizadas.
Na peregrinação sinodal e a partir da dinâmica de discernimento, a Igreja e cada uma das suas comunidades, poderão encontrar um renovado e alegre entusiasmo apostólico, através de um caminho de conversão pastoral e missionária.
+Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga
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