Arquidiocese de Braga -

24 dezembro 2022

Construindo o Presépio!...

Fotografia DACS

Cón. José Paulo Abreu

Reflexão sobre a construção do Presépio

\n

            Retorno à infância, onde o Natal é fantasia, a chaminé é promessa, o “sapatinho” é esperança, a noite é serena, a ceia é família, a sala é festa, a música é embalo e o presépio é decoração.

            Sim, de todos tenho saudades; de tudo; da crença no Menino Jesus (no meu tempo, mandava mais que o Pai Natal); da fé nos céus rasgados, que a cada casa faziam chegar prendas requisitadas em cartas que os carteiros não transportavam, ou em redações que as professoras não liam.

            No presépio me quero centrar. Quero construí-lo.

            A ideia é, primeiro, arranjar uma caixa, que o Menino precisa de abrigo, de um lugar onde acolher-se, de uma concha que O receba. Há quem diga que o “asilo” também pode ser o nosso coração, que a casa pode ser a nossa alma, que a moradia pode ser a nossa vida.

            Importante é também o musgo, verdinho, fresco, cheiro a terra, cor de esperança, que na terra deve o Menino encarnar, e nela se constroem as estradas para o encontro. Céu e terra – esse é o enlace; Deus e as criaturas – esse é o matrimónio; o infinito à procura da nossa insignificância – essa é a bondade de Deus.

            Uma grande folha de papel faz depois a sua aparição, juntamente com os guaches, verde, preto e branco. Salpica-se a folha com essas tintas, uma e outra vez, seguidas vezes. Vai ganhando a forma de rocha, de granito, de pedra. A folha, toda sarapintada, envolve depois a caixa – o musgo a servir de fixador, espreguiçando-se em várias direções.

            Luzinhas, muitas luzinhas (também aqui o musgo a fixar os fios). Que o Natal é luz, muita luz… Afinal, preparamo-nos para acolher a luz do mundo, o príncipe da luz, o Deus que destrói as trevas e nos chama para o Seu reino luminoso.

            Na caixa que se transforma em gruta, em caverna de granito, temos de colocar um Anjo… E ouve-se: Glória a Deus nas alturas – que Ele merece, é digno do nosso louvor, da nossa gratidão, do nosso reconhecimento e ação de graças… E paz na terra aos homens por Ele amados – que o Natal é paz, é harmonia, é reconciliação, é amor – o de Deus incarnado para connosco, o nosso para com Ele, o d’Ele e nosso para com todos (por milagre, transformados em irmãos).

            Canta, Anjo! Cantamos contigo! Cantamos todos: Glória a Deus nas alturas… e paz na terra aos homens por Ele amados.

            Colocamos agora a estrela, na caverna, ou por cima dela. É o nosso GPS. Indica o rumo. Orienta-nos o caminho. Marca o destino. Dá-nos a referência certa, para o encontro, para a gruta, para a festa.

            Venham lá os músicos, muitos violoncelos, violinos, ou muitas trompetes e oboés, muitos bombos, muitos cantores, de caras rosadinhas, de bochechas inchadas, soprando a “plenos pulmões”, cantando com a alma toda. Haja alegria. Natal é alegria. Jesus nasceu para que os dias sejam maiores, sejam melhores, mais sorridentes. Toquem todos. Toque a orquestra toda. Cantem todos. Cantemos todos. E a música transmita a mensagem: “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo. Senhor…”.

            A gente simples, claro, os pastores, os homens do campo, os de coração humilde… apareçam na festa. Ouçam bem: felizes os pobres em espírito; felizes os humildes; felizes os que agora choram… O Anjo está a dar a notícia… Coloquem-se as ovelhas a tiracolo; os galos na cesta; os frutos da terra desalinhem os toucados… Presépio, sem pobres, não é Presépio. Natal, sem pequeninos, não é Natal. Natal, sem os “menos”, não é grande.

            Se pousarmos uma folha de prata sobre o musgo, as pontas enfiadas debaixo dele, ganhamos um lago. Fica bem na nossa representação natalícia. Ajuda a refrescar. E a água é vida. Faz-nos recordar pescas milagrosas e chamamentos para a missão, travessias para a liberdade, o Espírito que pairava sobre as águas, o coração donde sai sangue e água… Jesus é vida. O Natal é vida. Celebra o surgimento, para a vida terrena, d’Aquele que nos chama à vida, nos recupera para a vida e nos quer com Ele na vida eterna.

            Vamos pensar agora no conforto, no essencial, que a ninguém queremos falte, que para todos - neste Natal – pedimos. Aquecemos o ambiente com o burrinho e a vaquinha, pois a noite vai fria, o gelo cobre a terra e até endurece muitos corações.

            E colocamos também as palhinhas na manjedoira. Para criar aconchego. Para esbater arestas. Para que o Menino se sinta bem – desejo com que cobrimos quem lê este texto, as nossas famílias, todos quantos estimamos, todos quantos conhecemos (ou não), os nossos conterrâneos ou os irmãos do mundo inteiro. Até os russos, E, com muito carinho, os ucranianos.

Bem-vindo, S. José. Transmites paz, serenidade, bondade, pureza, doçura. No silêncio, constróis. Com eficácia, proteges. És um colaborador que ninguém pode perder. Sem alaridos, nada falta a quem se coloca à tua sombra. Que delicadeza no trato com a tua esposa. Que meiguice no teu olhar sobre Jesus e sobre Maria. Que docilidade ao plano de Deus desenhado por entre sonhos… Assume o teu lugar na gruta, na vida da sagrada família que é tua, na vida da Igreja, na vida de todos nós.

            Mãe da Igreja, Mãe de Jesus e de todos nós, nós te louvamos, te bendizemos, te agradecemos o dom da tua vida, a tua docilidade, a tua humildade, a tua adesão ao querer de Deus. Por ti, o mundo conhece o Salvador. Por ti chegou o Redentor. Em ti, todas as promessas se cumpriram. És a Arca da Aliança. És a “Theotokos”, a Mãe de Deus. És a nova Eva: pela primeira, a rebelião; por ti, a obediência; pela primeira, a condenação, por ti, a salvação; pela primeira, a divisão, por ti, a reconciliação.

            Jesus, o lugar central do Presépio é teu. Vem. Deixa-te ficar. Ocupa a gruta, a manjedoira, melhor, ocupa o nosso coração. Revela-te a cada um de nós. Cura-nos. Recupera-nos. Cobre-nos com o Teu amor. Ensina-nos a lógica da entrega, do ofertório, da dádiva – ao Pai, e à humanidade. Inunda-nos do Teu Espírito. Jorra em nós tudo quanto o Teu Natal significa: paz, alegria, concórdia, perdão, fraternidade, amor.

            Vamos, finalmente, deixar que os reis magos vão ao Teu encontro. Vamos colocá-los também no Presépio, com ouro (homenagem à Tua realeza), incenso (tributo ao Deus que és) e mirra (símbolo do pó que somos). E vamos fazer coro com eles, louvando-Te, reconhecendo-Te como nosso Deus e Senhor, como Senhor do mundo, com o Messias enviado à humanidade para a redimir.

            Recebe, Jesus, o nosso carinho, o nosso abraço, o nosso amor. Recebe também a nossa vida - tributo maior que temos para Te dar e que, por Ti, queremos ver abençoada.

            A todos quantos povoam o Teu Presépio nos juntamos – um coro só, cantando: Glória a Deus nas alturas… e paz na terra aos homens de boa vontade.

            A todos… BOM NATAL!

 

Cón. José Paulo Abreu