Arquidiocese de Braga -

26 abril 2023

‘Grupo Vita’ assumiu hoje a aposta na prevenção primária e no apoio às vítimas

O anúncio da criação do Vita foi feito no dia 20 de abril
Fotografia ECCLESIA

Ecclesia

Novo organismo quer assumir “papel pioneiro”, apostando na intervenção terapêutica e na prevenção

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O ‘Grupo Vita’, novo organismo para o acompanhamento de casos de abusos sexuais na Igreja Católica, presidido pela psicóloga Rute Agulhas, assumiu hoje a aposta na prevenção primária e no apoio às vítimas.

“Pretende-se agora criar respostas especialmente pensadas para as vítimas, mas também para os agressores, focado na intervenção terapêutica e ainda na prevenção”, disse a coordenadora, na conferência de imprensa de apresentação, que decorreu em Lisboa

O grupo de acompanhamento das vítimas de abuso sexual, no contexto da Igreja Católica em Portugal, é constituído por especialistas em diversas áreas e vai funcionar de forma autónoma, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores.

Entre outras ações, está prevista a elaboração de um “Manual de Prevenção” para a Igreja Católica em Portugal

Rute Agulhas, que integrava até agora a Comissão Diocesana de Lisboa, falou da violência sexual como “um problema de saúde pública, pela sua elevada prevalência e também pelo seu impacto negativo”.

A especialista destacou que este é um “fenómeno transversal” a diversos contextos, entre eles o da Igreja Católica, com especial prevalência “no contexto intrafamiliar”.

“Ao apostar na criação de respostas específicas para vítimas e agressores, e ainda em programas e estratégias de prevenção primária, pensamos que a Igreja assume um papel pioneiro, em Portugal, de relevo e de elevada responsabilidade social”, sustentou a coordenadora.

O novo grupo assumiu-se como “temporário”, com um horizonte de pelo menos três anos, e apresentou-se como organismo “isento e autónomo”.

Rute Agulhas assumiu como “grandes objetivos” “proteger” as vítimas e “prevenir” recidivas ou situações abusivas, através de quatro áreas centrais de atuação: “acolhimento, acompanhamento, formação e investigação”.

A partir de 22 de maio passa a estar disponível uma linha telefónica, exclusiva para denúncias de abuso na Igreja, “atuais ou antigas”, através do número 915 090 000, bem como um endereço eletrónico – [email protected].

As denúncias serão encaminhadas para as “autoridades de investigação competentes”, civis, penais e canónicas.

O grupo vai criar uma “bolsa de profissionais especializados”, para intervenção junto das vítimas de abusos, assegurando ainda “encaminhamento” para uma rede de profissionais que oferece apoio psicológico, psiquiátrico, social ou jurídico, além de apoio espiritual.

A apresentação do novo grupo contou com a presença do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, que destacou a escolha de pessoas com “competências suficientes e necessárias” para enfrentar as questões ligadas aos abusos sexuais.

O bispo de Leiria-Fátima evocou a Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, que apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, e entregou aos responsáveis católicos de Portugal uma lista com nomes de alegados abusadores, no dia 3 de março.

“As conclusões a que chegou causaram muito impacto, a começar por nós”, assumiu o presidente da CEP, falando numa “realidade dramática” que a Igreja Católica quer enfrentar com “determinação” e “tolerância zero”.

D. José Ornelas reforçou a ideia que tinha deixado a 20 de abril, no final da Assembleia Plenária da CEP, apontando a uma “nova fase”, após o estudo da CI, com um novo grupo que visa assegurar “competência e capacidade operacional”.

“Este grupo tem todo o apoio (…) da Igreja em Portugal, no seu conjunto, que quer fazer um caminho”, concluiu.