Arquidiocese de Braga -

1. Mãe que guarda em seu coração

«Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» (Lc 2, 48). Estas palavras de Maria manifestam a sua preocupação materna no cuidado e na educação de Jesus. Maria, ao dizer “teu pai” pensou em José. A maternidade de Maria física e espiritual percorre um caminho para a totalidade em Deus.

Jesus dá uma resposta à sua mãe algo desconcertante e misteriosa: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?». O texto de Lucas acrescenta: «mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração». 

Dizer que a Virgem santa Maria conservava todas as coisas no seu coração é dizer recordava, isto é, tornava presente ao coração e fazia memória de tudo o que o Seu filho dizia e fazia. Tudo o que é importante, conservamos no coração. Por isso, a Igreja reconhece: «Maria, que conservava no seu coração os mistérios da salvação, é morada do Espírito Santo, sede da sabedoria, imagem e modelo da Igreja, que escuta e dá testemunho da mensagem do Senhor» (Missal Romano).

De facto, os dois últimos mistérios que costumamos contemplar nos mistérios gozosos do Rosário, mesmo conservando o sabor da alegria antecipam já os sinais do drama. A apresentação no templo, com efeito, enquanto exprime a alegria da consagração, o velho Simeão, apresenta também a profecia do «sinal de contradição» que o Menino será para Israel e da espada que trespassará a alma da Mãe (cf. Lc 2, 34-35). Gozoso e ao mesmo tempo dramático é o episódio de Jesus, aos doze anos, no templo. 

Para Jesus, a prioridade fundamental a que tudo se subjuga, até a própria família, é o projeto de Deus Pai, o plano que Ele tem para cada pessoa. O Pai é o segredo vocacional de Jesus, de onde deriva toda a sua missão.

2. Fátima, coração de paz

A imagem da Senhora traz uma mensagem de graça e de paz para todos. O que é que a mensagem de Fátima tem a dizer ao mundo de hoje? Em Fátima confirma-se o Evangelho da Misericórdia e da Paz, a Palavra que muda o mundo, a começar pela conversão pessoal, pastoral e missionária, como nos convoca tão vivamente o Papa Francisco. Os pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, são testemunhas deste apelo à conversão e à penitência. 

A Senhora de Fátima é a Senhora Mensageira da Boa notícia do Evangelho da Esperança! Ela é exemplo de fé à escuta da Palavra de Deus, como a saudou o Papa, São Paulo VI: «Virgem ouvinte, que acolheu a Palavra de Deus com fé. (…) Na Virgem Maria tudo é relativo a Cristo e dependente dele». Maria tornou-se Mãe através do seu SIM. É a obediência de Nossa Senhora, modelo da Igreja, que abre a porta a Deus.

A Mãe do Coração é grande graça e luz para o nosso tempo, no qual as pessoas sofrem de mal do coração e muitas vivem na “globalização da superficialidade”.A indiferença é vencida pelo Amor. É comum dizer-se nas nossas conversas: «esta gente não tem coração! Como poderão fazer isso? (...) não nego que seja boa pessoa, mas falta-lhe alma (...) procuro alguém com quem falar de coração a coração (...)». Muitas vezes, quando falamos de uma pessoa boa até dizemos: «tem um grande coração». Por isso, para os discípulos missionários de Jesus Cristo: «nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração» (Gaudium et Spes 1).

Ao dizermos que é Mãe do coração, estamos a proclamar que a Virgem Santa Maria é a Mãe de Jesus Cristo. Este coração é, com efeito, um coração humano que arde de amor. Olhemos para a Mãe da sabedoria do Coração (cf. Sir 51, 18-24.27-30), que faz a vontade de Deus (cf. Mt 12, 46-50), que enviou o seu Filho, nascido desta Mulher admirável (cf. Gl 4, 4-7), o Deus connosco que faz novas todas as coisas (cf. Ap 21, 1-5). 

3. No coração da Jornada Mundial da Juventude (JMJ)

No coração da 37ª Jornada Mundial da Juventude, o nosso querido Papa Francisco faz-se peregrino de Fátima para rezar com os jovens doentes. Nesta JMJ, qual sacramento da fraternidade e da amizade, alargamos o horizonte da esperança e rezamos pelos jovens que estão a participar ativamente na JMJ em Lisboa, pelos jovens reclusos, pelos jovens deficientes, pela paz.

Os jovens e a paz caminham juntos. Os jovens desafiam-nos nos caminhos da ecologia integral, nos caminhos da fraternidade universal e da amizade social e nos caminhos sempre novos da aventura divino-humana de transformar os muros em pontes. Como Maria, aprendamos a ver com os olhos do coração e suplicamos-lhe: «esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei».

Caríssimos jovens, não volteis desta casa da Mãe da Paz e da JMJ sem fazer a pergunta: Que quer Deus de mim? Ou melhor, Senhor, que queres de mim?

Peregrinamos a Fátima e daqui partimos apressadamente para os caminhos da missão evangelizadora da Igreja sinodal e sejamos artesão da paz e da fraternidade.

O silêncio do coração é o lugar do encontro e da escuta! Felizes os que encontram neste lugar a Paz! «Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!» (Papa Francisco na UCP, Lisboa 3 de agosto de 2023).

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga