Arquidiocese de Braga -

28 agosto 2023

Mostrar Cristo na Igreja sinodal samaritana

Fotografia

934 anos da dedicação da igreja Catedral, Braga, 28 de agosto de 2023

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1. Ó Igreja, minha mãe

Um hino da Liturgia das horas, para a memória da dedicação de uma igreja, canta assim: «Eu te saúdo,/ Ó Igreja, minha mãe,/ Peregrino a caminho/ Da nova Jerusalém».

Com efeito, a igreja Catedral é o símbolo da «casa de oração para todos os povos» (Is 56,7). Esta é a casa de Deus e a casa do Seu Povo santo peregrino. Como na maioria das catedrais hoje entram turistas, peregrinos e fiéis. A igreja Catedral é a casa de todos e aberta a todos. «Na Igreja, há lugar para todos. (...) Todos, todos, todos. E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços» (Papa Francisco)

A comemoração dos 934 anos da dedicação da nossa Sé constitui uma oportunidade significativa para um olhar grato ao passado e conhecer melhor as nossas raízes no caminho sinodal samaritano. Uma fórmula lapidar de José Saramago no seu livro, Viagem a Portugal, sobre o Tesouro-Museu da Sé de Braga acentua o valor simbólico deste património humano, cultural e espiritual: «Se quem a Braga vai, ao museu não foi, Braga não conhece». 

2. Igreja, sacramento de Jesus Cristo

«A Igreja, toda a Igreja, só a Igreja, a de hoje como a de ontem e de amanhã, é o sacramento de Jesus Cristo. Para dizer a verdade, ela não é outra coisa que isto. O resto é apenas um mais. (…) A Igreja tem por única missão tornar presente Jesus Cristo no meio dos homens. Deve anunciá-lo, mostrá-lo, dá-lo a todos. O resto, voltamos a repetir, é só um mais» (H. de Lubac).

Na verdade, «em todas e de todas as Igrejas particulares resulta a Igreja católica, una e santa» (Lumen Gentium 23). E, como diz H. Legrand: «uma Igreja que entra em Sínodo é, antes de tudo, uma Igreja onde todos escutam o Evangelho». 

Um turista quando entra na nossa igreja Catedral não vai à procura de nenhum lugar, deixa-se encantar pela excelência da arte, pelas pedras, pelas madeiras e tenta informar-se o mais possível da história e das histórias deste lugar. 

O crente, pelo contrário, ao entrar sabe onde movimentar-se e orientar-se: para o altar, para o ambão, para a cátedra, para a capela do Santíssimo Sacramento, para uma imagem... Com o Cabido, queremos cuidar melhor destes lugares simbólicos do encontro com Cristo e mostrá-los na beleza da nobre simplicidade na celebração do culto divino.

A dinâmica conciliatória do princípio teológico de «que a lei da oraçãoestabeleça a lei da fé», isto é, lex orandi lex credendi, faz-nos encontrarna Liturgia, a fé da Igreja, porque a prática litúrgica foi a fonte da formação integral do Povo santo de Deus. A Igrejaacredita no que celebra. A celebração litúrgica é, por isso, a eloquênciaa fé, sob a forma orante. 

3. Os desafios depois da JMJ? Algumas notas no caminho sinodal

Hoje é também uma feliz ocasião para dar graças pela experiência única da Jornada Mundial da Juventude e olhar com esperança o futuro da vida eclesial, a partir dos dias inesquecíveis e irrepetíveis, antes e durante a JMJ Lisboa 2023.

Antes de mais uma enorme gratidão a todos os que tornaram belo o Evangelho na JMJ: aos Jovens; aos adultos na fé que os acompanham; ao Comitê Organizador Diocesano; a cada um dos 14 Comitê organizador Arciprestal; ao Presbitério; às autoridades autárquicas, académicas, forças de segurança e proteção civil; aos movimentos e grupos eclesiais; às famílias de acolhimento; aos voluntários e a todo o Povo santo de Deus peregrino nesta Arquidiocese.

a. Peregrinação. Os Jovens caminham 

A peregrinação é um dos mais antigos exercícios espirituais. O peregrino é alguém que caminha e espera o encontro. Para tal, partir significa perder os pontos de referência na esperança de ganhar tudo: «Então avante! Uma tradição medieval conta que quando os peregrinos se cruzavam no Caminho de Santiago, um saudava o outro exclamando “Ultreia” ao que este respondia “et Suseia”. Trata-se de expressões de encorajamento para prosseguir a busca e o risco da caminhada, dizendo-se mutuamente: “Vai mais longe e mais alto!” “Coragem, força, anda para diante!”» (Papa Francisco).

Romano Guardini escreveu muito sabiamente: «Só por amor se é peregrino. A comunidade deriva de um amor mais elevado. Mas esse amor convoca as suas melhores energias quando se eleva até Deus, quando se torna oração».

Da liturgia à caridade, da catequese à piedade popular e ao testemunho de vida, tudo na Igreja deve tornar visível e reconhecível o rosto de Cristo, a centralidade do mistério integral de Cristo. A audácia da esperança faz-nos peregrinos de novos caminhos e de novas linguagens na fidelidade e generosidade criativas do Evangelho, para que tenhamos vida abundante em Jesus Cristo e mais sinodalidade samaritana.

b. Do medo aos sonhos

«Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!» (Papa Francisco).

c. Adoração

Os jovens adoram a Eucaristia. Que impressionante o silêncio da vigília com o pão eucarístico!«Mas, para nos fiarmos dia a dia no Senhor e na sua Palavra, não bastam palavras, é necessária muita oração. Gostaria de fazer aqui uma pergunta, mas cada qual responde no seu íntimo: Como rezo eu? Como um papagaio, blá, blá, blá, ou adormentando-me diante do Sacrário, porque não sei como falar com o Senhor? Rezo? Como rezo? Apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm que a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor» (Papa Francisco). 

d. A espiritualidade do recomeçar

Os jovens que carregam a cruz. A cruz é o símbolo forte da Jornada Mundial da Juventude. O amor tem a forma de uma cruz.

É Jesus Cristo quem carrega a cruz da Sua Igreja. Juntos com Jesus Cristo sejamos a Igreja sinodal samaritana.

 

+ José Manuel Cordeiro