Arquidiocese de Braga -
11 setembro 2015
"Eu não acho que os jovens se estejam a afastar da Igreja. Eles nunca cá estiveram"

DACS
No âmbito da celebração do Dia Arquidiocesano do Catequista, o P. Luís Miguel Rodrigues - presidente da Comissão Arquidiocesana para a Educação Cristã - analisa a presença dos jovens na Igreja, destacando que eles “não se sentem acolhidos nas comunidades”
Este Sábado celebra-se o Dia Arquidiocesano do Catequista, que marca o arranque do ano catequético. Prevê-se a presença de 2500 a 3000 jovens catequistas no Sameiro, para as comemorações. O P. Luís Miguel Rodrigues, presidente da Comissão Arquidiocesana para a Educação Cristã, ressalva a importância de “estar com o Senhor”, nesse dia. Em entrevista à Arquidiocese, lamenta, ainda, a ausência dos jovens da Igreja e acredita que muitos vão para a catequese sem terem feito o “despertar religioso”.
Quais são os destaques na programação para o Dia Arquidiocesano do Catequista?
Este ano vamos ter uma primeira intervenção do P. Morujão, que nos vai ajudar a reflectir o que é anunciar o Evangelho, e depois um painel em que vamos ver como é que em alguns âmbitos se anuncia o Evangelho. O catequista, durante aquele dia, pode ir, e deve, visitar o Santíssimo, estar com Ele. Em simultâneo, iremos também ter as tendas de oração, workshops sobre catequese familiar e formação de agentes. Mas o mais importante é estar com o Senhor e preparar-se para estar com os irmãos depois de estar com o Senhor. Da parte da tarde vamos ter um concerto de oração com a Claudine Pinheiro.
P. Luís Miguel Rodrigues fala sobre a programação para o ano catequético
Uma vez que este é o Ano Missionário, coloco-lhe a questão: o catequista é um missionário?
Os catequistas são o maior grupo de voluntários que temos na Arquidiocese. Temos à volta de 8500. É o grupo de voluntários que tem maior procura pela formação, e é o grupo de agentes de pastoral a quem se pede mais. No geral são homens e mulheres generosos e que têm muito viva a consciência de que são anunciadores, de que são discípulos missionários, ou seja, que anunciam Jesus Cristo.
Esta semana, o Papa Francisco, no encontro "ad limina", referiu-se à "debandada da juventude". Por que é que acha que os jovens se estão a afastar da Igreja?
Eu não acho que os jovens se estejam a afastar, os jovens nunca cá estiveram. Nós temos uma ilusão, que com o facto de termos os jovens durante dez anos na catequese formamos discípulos de Jesus Cristo. Isso não acontece. Porque nós temos uma catequese num registo escolar, que é um arremedo, e fraco, da má escola. Nós importámos o modelo de organização escolar e depois aplicámos nele o itinerário catequético. Ora, muitos vieram para a catequese sem terem feito o despertar religioso, e depois estão aqui por algumas motivações, para fazer a primeira comunhão, estão aqui porque o pai manda, ou porque depois têm que fazer o crisma para que o senhor padre os deixe ser padrinhos. A catequese não é estar aqui para, é estar aqui porque, eu estou na catequese porque quero conhecer e seguir Jesus Cristo. Portanto, como nunca estiveram, depois é mais visível, porque depois do crisma nós não temos nada que os obrigue e então eles vão-se embora.
Mas por que motivo as iniciativas desenvolvidas para captar os jovens não têm surtido efeito?
O problema é que os jovens não se sentem acolhidos nas comunidades. Muitas vezes as nossas comunidades são muito rígidas e formais, não são comunidades onde o jovem se sinta acolhido e amado, onde possa fazer a experiência de sentir a ternura de Deus. Tem que entrar dentro daqueles esquemas que já lá estão, e não entra, e com razão, porque não é o esquema de vida deles, e a comunidade também não tem flexibilidade para os acolher e para deixar que sejam jovens.
E como é que essa questão poderá ser resolvida? A Arquidiocese tem preparada alguma intervenção para solucionar esse problema?
A formação da Pastoral Juvenil tem que ser uma aposta. Entendendo por formação dos agentes de pastoral, não o dotá-los de conteúdos cognitivos, mas sim ajudá-los a perceber a sua experiência de fé, a fazer uma leitura crente da sua experiência, para depois a poderem narrar. E este narrar a experiência de fé de um para outro, de coração a coração, implica acompanhamento e, sobretudo, disponibilidade. Não pode haver trabalho de evangelização, sobretudo na pastoral juvenil, de massas, tem que ser ao estilo de S. Paulo, um por um até ao fim. A nível da Arquidiocese está-se a fazer, há vários anos, uma proposta de formação de agentes de pastoral, mas não têm havido as solicitações necessárias, porque essa formação não é sentida como necessária.
Considera que chegou a hora de apostar na catequese familiar?
A catequese paroquial tradicional é a catequese na família. Do século XVI para a frente é que se começou a organizar esta catequese dita clássica - que não é clássica, é muito recente - de termos grupos por idades a aprender a catequese. Quando surge agora a catequese familiar, que mais do que catequese familiar deveríamos falar de catequese intergeracional, estamos a voltar ao que é a catequese na sua essência, porque a catequese por turmas e anos só funciona com meninos e meninas que pertencem a famílias que já estão inseridas na comunidade. Quando digo família, pode ser o papá e a mamã, isso era o ideal, mas às vezes também há pais que já não têm a capacidade de transmitir a fé aos filhos, porque já não a têm, então podem ser aqueles com quem a criança ou o adolescente tem laços de familiaridade, pode ser o tio, o avô, um amigo, um vizinho, alguém que socialmente já nos apoia e em quem nós reconhecemos valor, e esse é que nos apresenta Jesus Cristo. É um tu a tu, não há evangelização em massas. Em Portugal, neste momento, está-se a fazer um trabalho interessante de pegar nos primeiros seis anos de catequese e propor fazer-se a catequese em estilo de uma hora por semana, ou a catequese intergeracional apoiada na família, com diversos encontros, com fins de semana diferentes consoante a fase do mês em que estamos. Essa proposta custa muito a avançar porque põe a descoberto aquilo que é a grande fragilidade da catequese, que é a formação de agentes da pastoral catequética.
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