Arquidiocese de Braga -
25 outubro 2021
D. Aurelio García Macías: “Na liturgia não deve haver ideologia, apenas fé”
DACS com Vida Nueva Digital
Subsecretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos argumenta que uma hora de catequese semanal é insuficiente para a iniciação à vida cristã.
A 27 de Maio, o espanhol Aurelio García Macías foi nomeado pelo Papa Francisco subsecretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cargo que o levou à consagração episcopal. O sacerdote de 56 anos de Valladolid, que já leva seis anos neste dicastério do Vaticano, argumenta que a liturgia e a missão são “duas faces da mesma moeda”.
O que lhe pediu o Papa Francisco?
Depois da jubilação do Cardeal Sarah e da visita apostólica do Papa, iniciou-se uma nova etapa na Congregação. Pouco depois da publicação da minha nomeação como bispo, o Santo Padre telefonou-me, dizendo que sabia que eu queria voltar à vida pastoral, mas que precisava de mim mais alguns anos na Congregação. Pediu-me para continuar com o trabalho nesta Congregação que defende a reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano II. Depois das mudanças do prefeito e do secretário, deve ter pensado que eu poderia ser a pessoa certa como subsecretário porque estou no dicastério há seis anos, um como oficial e cinco como Chefe de Gabinete. É uma mudança de responsabilidade, mas sempre no âmbito da liturgia.
Como pode a liturgia contribuir para tornar realidade a “Igreja em saída” que o Papa deseja?
Uma das suas ideias teológico-pastorais chave é a “Igreja em saída”. A grande missão da Igreja é anunciar o Evangelho, com palavras e gestos. A liturgia fala de Deus; é uma experiência de perdão, de escuta, de oração, de paz... com os irmãos. Quando alguém vive verdadeiramente a liturgia, isso transforma-o e convida-o a sair para partilhar o que viveu, como os discípulos de Emaús. Não é por acaso que os santos da maior caridade tenham sido grandes contemplativos. A liturgia fala do “ser” dos cristãos; a missão manifesta o “fazer”. São dois lados de uma mesma moeda.
Os fiéis dão à liturgia o valor que ela merece?
Em geral, creio que não, porque falta uma iniciação vital à liturgia. Todo o crente deve ser iniciado nela. É uma dimensão que se vai descobrindo, cada vez mais, na catequese actual, que não deve ser apenas uma formação teórica ou académica, mas mistagógica. É algo muito diferente das aulas da escola. É uma iniciação à vida cristã. Além disso, hoje estamos habituados a ser os protagonistas de nós mesmos, da nossa própria vida. Porém, a liturgia fala do protagonismo de Deus, do deixar-se fazer, do “nós” eclesial. O “eu” utilitarista do pós-modernismo não entende que na celebração litúrgica é preciso deixar-se fazer por Deus e pelo “nós” eclesial. O crente deve ser ajudado a entrar nos sinais, nas palavras, nos silêncios... Assim, se não entrar na linguagem da liturgia, assistirá como um espectador mudo e alheado do que se celebra.
E a Igreja não oferece mais esta iniciação à vida cristã?
Dantes, não só a Igreja se ocupava disto, mas também a sociedade e a família. Somos a última geração religiosamente socializada. Hoje já não é assim. Na família isto acontece muito raramente e na sociedade é quase impossível. A Igreja faz o que pode: a catequese é apenas uma hora por semana, e não é suficiente; e é preciso ver se os pais ou filhos participam na missa dominical ou outras actividades na paróquia. Fui pároco durante 13 anos, de vila e cidade, e vi que os catequistas trabalham muito, entregam a sua vida com verdadeiro serviço e vocação, mas, às vezes, sem resultados proporcionais ao trabalho investido.
Entrevista de Darío Menor, publicada em Vida Nueva Digital a 23 de Outubro de 2021.
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