Arquidiocese de Braga -
11 maio 2025
Diaconia total por causa do Evangelho

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na Ordenação de 4 Diáconos e ação de graças pela eleição do Papa Leão XIV, 11 de maio de 2025
1. Paz, sacramento da Páscoa
A palavra de Deus hoje proclamada, e por isso palavra que se torna viva e eficaz em nossos corações, é uma palavra que nos conforta.
Num tempo de incertezas, com guerras que ainda não terminaram (Síria, Iémen, Ucrânia, Faixa de Gaza) e outras que parecem já estar a despontar (entre Índia e Paquistão); ou com a instabilidade económica a pairar e a ameaçar nova recessão financeira; num tempo de decisões para o nosso país, que nos convoca à participação informada, exercendo o direito e o dever de votar, a liturgia da Igreja para o IV Domingo da Páscoa assegura-nos Deus como fonte da paz e da serenidade.
Ouvimos na segunda leitura: “Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais terão fome nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles. (...) E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos”. A Paz é sacramento do caminho de Páscoa.
2. Vocação e Esperança
Por seu lado, no Evangelho, Cristo apresenta-Se como o Pastor que conhece cada um pelo nome e caminha à frente, indicando-se a Si mesmo como o caminho a seguir. Não nos conduz a lugar qualquer, mas “às fontes de água viva”.
Deus não nos abandona; no seu coração, essa fonte que nunca se esgota, há amor para todos.
Discernir a vocação é estar atento a uma voz que vem de dentro, que nos impele a mergulhar no mais íntimo de cada um de nós, para aí descobrir o lugar onde Cristo se revela.
Desta certeza de que na vida nunca estamos sós, desta confiança de que Deus está sempre connosco, brota a alegria, que o Salmo 99 que hoje cantamos proclama, aquela alegria que só Deus pode dar; aquela alegria que vem de dentro,de nos sabermos queridos e amados pelo Pai em todos os momentos da vida.
Vocação e esperança andam juntas. Para este Dia Mundial de Oração pelas vocações, o Papa Francisco deixou uma clarividente mensagem: «o Senhor, que conhece o coração do homem, não nos abandona na insegurança; pelo contrário, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança».
Na verdade, «uma viagem nunca inicia com a partida, mas bem antes, ao pensá-la e ao prepará-la; por outras palavras, perguntar-se porque realizar tal viagem. Será esta motivação a motivar e a determinar a meta. Quando um homem não sabe para onde navegar, nenhum vento lhe é favorável – dizia Séneca – e, por isso, não pode partir» (E. Bianchi).
A consciência vocacional conduz-nos, esperançados, ao encontro pessoal e vivo com Jesus Cristo, o bom e o belo Pastor. Camões lembra num dos seus sonetos: «metido tenho a mão na consciência, / e não falo senão verdades puras/ que m’ensinou a viva experiência». Por isso, a vocação é a resposta que damos ao amor de Deus, o menos mal possível.
3. Por causa do Evangelho
Caríssimos Bruno Pinto, Carlos Abreu, Carlos Ferreira, Diogo Antunes: escolhestes como mote para a vossa ordenação diaconal uma frase de Paulo na 1.ª Carta aos Coríntios: «tudo faço por causa do evangelho» (9, 23). O Evangelho deve ser a vossa causa; nada mais vos deve inquietar a não ser anunciar o Evangelho, fazer experiência com Jesus Cristo vivo que transforma.
E a vida de cada pessoa transforma-se pelo serviço. Esse é o único poder, a única autoridade que o Evangelho nos dá: servir. A vida vale a pena e é bem vivida quando nos dispomos a servir emCristo. Ele é o único modelo a imitar.
O ministério diaconal está particularmente ligado ao serviço e ao amor. Daqui a pouco prometereis exercer esse ministério com humildade e caridade, servindo Cristo no altar e nas pessoas e lugares onde Ele habita. Ser fiel a estas promessas tornar-vos-á livres, disponíveis para aquilo que Cristo vos pedir.
Ouso repetir-vos algumas das primeiras palavras que o Papa Leão XIV proferiu após a sua eleição como sucessor de São Pedro: «Deus ama-nos, Deus ama a todos, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e entre nós, sigamos em frente. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede».
Jesus Cristo é o bom e belo pastor que não abandona as suas ovelhas. É pastor e a missão da Igreja é Dele, nós somos seus diáconos, servidores do Servidor: «É essencial fazê-lo, primeiramente, na nossa relação pessoal com Ele, no empenho em percorrer um caminho quotidiano de conversão. Mas depois também, como Igreja, vivendo juntos a nossa pertença ao Senhor e levando a todos a sua Boa Nova (cf. Conc. Vat. II, Const. Dogm. Lumen gentium, 1). [...] «desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado (cf. Jo 3, 30), gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar» (Leão XIV).
Em nome do presbitério e do Povo de Deus que peregrina na Arquidiocese de Braga, desejamos ao Papa Leão XIV as mais fecundas bênçãos para o seu ministério Petrino. Muito obrigado pelo seu SIM à cruz florida e à missão evangelizadora. Que o Espírito Santo o iluminesempre no serviço ao Evangelho da Esperança.Pode contar com a nossa oração e a nossa total participação e comunhão para continuarmos a construir «uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher a todos», qual sacramento do mistério pascal de Cristo total.
Escutar e seguir Jesus e voltar constantemente a Ele é o nos torna fiéis e felizes. Sim, o imperativo terno e firme: «segue-me» são as primeiras e últimas palavras de Jesus a Pedro e a todos os discípulos missionários. Que Deus nos conceda este dom da graça, na terna companhia de Santa Maria de Braga, Mãe da Igreja e dos nossos santos Arcebispos e padroeiros.
+ José Manuel Cordeiro
Arcebispo Metropolita de Braga
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