Arquidiocese de Braga -

15 julho 2025

As férias: um período essencial para a saúde psicológica dos sacerdotes

Fotografia Vatican News

Vatican News - Jean Charles Putzolu

Precisam de ser ouvidos, escutados e não renunciar a um tempo de descanso necessário.

Estes meses de verão na Europa são propícios ao descanso para a maioria das pessoas que podem tirar férias. Isto é verdade para todos e também para os sacerdotes, cuja vocação está frequentemente, e erradamente, associada a uma disponibilidade 24 horas por dia, 365 dias por ano. O descanso, o distanciamento, o relaxamento são momentos necessários para recarregar energias, para quebrar também um ritmo por vezes pesado para muitos sacerdotes, sobretudo aqueles que são responsáveis por várias paróquias, por vezes muito distantes umas das outras. Não estão imunes a episódios de fadiga ou depressão. Embora a esmagadora maioria viva bem o seu ministério sacerdotal, cerca de 2% dos 6300 sacerdotes ativos em França não estão imunes ao esgotamento, e 67% consideram que enfrentam uma sobrecarga de atividades, de acordo com um estudo realizado em 2020 pela Igreja de França.

Então, como ajudar aqueles que normalmente apoiam os seus fiéis, neste período de férias? Este é o tema da nossa entrevista com D. Benoit Bertrand, bispo de Pontoise, da região de Île-de-France, em França, que conduziu um estudo sobre a saúde dos sacerdotes.

Dom Benoît Bertrand, infelizmente, este é um assunto que tem vindo a surgir com frequência nos últimos anos. Os padres são seres frágeis e podem ser vítimas de depressão, solidão e isolamento. Felizmente, o verão é também para eles um período de férias para retemperar energias. Podemos falar de uma certa forma de sofrimento dos padres?

É certo que alguns deles apresentam cansaço, fragilidades, expressões de lassidão e também sofrimento, num contexto que pode ser angustiante. Passámos por uma grave crise sanitária que gerou muita preocupação. Há também todo o contexto internacional, as provações que afetam a vida da Igreja e, por vezes, os escândalos que deixam evidente a tristeza e o desconforto. Há toda uma série de causas que podem levar a uma forma de mal-estar no corpo dos sacerdotes. Em Itália, recentemente, um jovem padre decidiu pôr termo à sua vida. Quero manifestar aqui a minha proximidade com os padres e bispos, com o povo de Deus, com a diocese italiana de Novara, de onde era originário este jovem jesuíta.

São João Paulo II enfatizava o carácter exigente do ministério sacerdotal; Francisco pediu aos padres que fossem felizes; Leão XIV evocou recentemente as alegrias e as fadigas dos sacerdotes. Em suma, pode um sacerdote em sofrimento psicológico transmitir a alegria do Evangelho?

Bem sabemos que se um sacerdote não estiver bem na sua vida pessoal, espiritual, física ou psicológica, provavelmente não será muito feliz no seu ministério e isso terá consequências para as comunidades cristãs. Foi por isso que os bispos de França, em 2020, solicitaram uma pesquisa objetiva sobre a saúde física, moral e psicológica dos padres. Precisávamos de fazer um balanço dos 6.300 padres diocesanos em atividade em França para destacar os principais fatores determinantes deste estado de saúde. O objetivo era propor ações preventivas e proporcionar alguns meios nas dioceses para que os bispos e todo o povo de Deus prestassem mais atenção à saúde física e psicológica dos sacerdotes.

Cinco anos após este estudo, é possível medir a eficácia das medidas recomendadas?

Antes de analisarmos as medidas, avaliámos os fatores determinantes: excesso de peso, obesidade, riscos de dependência de álcool ou tabaco. Em seguida, traçamos linhas de prevenção e deteção. Globalmente, a grande maioria dos sacerdotes em actividade, mais de 90%, reconheceu estar de boa saúde física. O que nos alertou foi que quase dois em cada dez sacerdotes apresentam sintomas depressivos e que 2% dos sacerdotes diocesanos estão em situação de esgotamento. De seguida, o estudo revelou que 40% dos padres apresentam uma taxa de realização pessoal bastante baixa. Tudo isto alertou os bispos. A primeira linha de ação proposta foi comunicar esta investigação, apresentá-la aos sacerdotes, aos bispos e a todo o povo de Deus. De seguida, através de um trabalho com os conselhos presbiteral e episcopal, realçamos a importância do tempo de descanso e do acompanhamento médico regular por um médico assistente, que nem todos os sacerdotes têm hoje. Organizamos momentos de sensibilização e informação sobre o stress, a depressão, o burnout, a sua deteção e diagnóstico. Mas o que é muito importante é simplesmente estar à escuta dos padres. Que o bispo, o vigário-geral, a autoridade local reserve tempo para ir ao seu encontro, nas suas casas, nos seus presbitérios, e passar tempo com eles. Reiteramos a importância do acompanhamento espiritual, das fraternidades entre padres. Realçamos também a necessidade de sensibilizar o povo de Deus para os sacerdotes que lhes são confiados.

O acompanhamento dos padres é, na minha opinião, uma tarefa prioritária para os bispos.

Os leigos também têm uma responsabilidade para com os sacerdotes? Os sacerdotes cuidam das almas do rebanho de Deus. Mas, em troca, será que esse rebanho de Deus cuida deles?

Os sacerdotes são extremamente disponíveis, dedicados, admiráveis na escuta de muitas pessoas, jovens e adultos, e quem os escuta? Têm muito pudor, muitas vezes. São homens discretos, que por vezes têm dificuldade em expressar fragilidades, sofrimentos ou dificuldades. Nas paróquias, nas capelanias, os leigos podem, evidentemente, ser atenciosos, vigilantes, fraternos com os seus sacerdotes, convidando-os de vez em quando para um jantar frugal, permitindo-lhes relaxar, disponibilizando-se também para os ouvir. Muitos cristãos, católicos e famílias prestam atenção à sua paróquia, mas é ainda necessário que o sacerdote se deixe acolher e aceite partilhar quando encontra dificuldades.

Os bispos também enfrentam estas situações, com risco de depressão, por exemplo?

Claro! Não somos heróis. Pode haver fenómenos de fadiga entre os bispos, em qualquer idade. Pode haver desgaste após muitos anos de ministério, por vezes até de ministério muito difícil ou muito intenso. Pode haver também momentos na vida de uma diocese em que é necessário enfrentar uma grande dificuldade, uma grande tensão, um drama a gerir, uma provação a ultrapassar. O bispo pode necessitar de acompanhamento. A conferência episcopal propôs visitas de bispos feitas por outro bispo e leigos que vêm por algum tempo para ouvir, encontrar o bispo, visitá-lo, encontrar os seus colaboradores para o ajudar na sua missão episcopal.

Muitas vezes pensamos que o sacerdote tem total disponibilidade, todos os dias do ano, devido à sua vocação. Isto é uma pressão sentida?

Sim, é verdade. A nossa vida é dedicada a Deus, é dedicada ao povo de Deus. Mas a patologia da dedicação é a fadiga, o esgotamento ou a depressão. Precisamos de aprender a dizer não. E dizer não é difícil. Isto transmite uma imagem negativa de nós próprios. Ora, queremos transmitir uma imagem agradável e positiva. No entanto, por vezes, é preciso ter a coragem de dizer: “Ouçam, peço desculpa, mas agora não é possível. Veremos isso daqui a quinze dias, um mês, dois meses”. É também necessário que as pessoas aceitem esta resposta negativa. Na maioria das vezes, os padres e os bispos querem responder favoravelmente aos pedidos e, por vezes, de forma muito rápida, sem discernimento. Quando nos fazem um pedido importante, é preciso ter a simplicidade de celebrar uma missa e não responder demasiado depressa à questão colocada.

As férias fazem geralmente muito bem. O Francisco não costumava tirar muitas. João Paulo II e Bento XVI recarregavam energias nas montanhas do norte de Itália, e Leão XIV retira-se durante duas semanas em Castel Gandolfo. É importante para um padre, um bispo, ter precisamente estes momentos de férias, de distanciamento?

Não saberia responder por todos. De qualquer forma, para mim, é muito importante.

Quando era superior do seminário, dizia aos seminaristas, com um toque de humor, que quem não descansa cansa os outros. Por isso, penso que o descanso, o relaxamento e a recarga de energias são absolutamente essenciais para qualquer pessoa que tenha a possibilidade de tirar férias. Um padre que saiba descansar e descontrair é um padre que se dedicará melhor à sua comunidade e ao povo de Deus.