Arquidiocese de Braga -

16 fevereiro 2004

Alexandrina de Balasar - Biografia

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Mons. Silva Araújo

\nAlexandrina de Balasar - a alegria na dor - Apresentação Esta é uma biografia da Venerável Alexandrina Maria da Costa escrita para quem tem pouco tempo para ler. Pretendo, com ela, dar uma ideia do que foi a vida da que o povo, antecipando-se ao juízo da Igreja, «canonizou» como «Santinha de Balasar». Destaco as principais linhas da sua espiritualidade: a devoção a Jesus – ao seu «querido Jesus» -- expressa através da Santíssima Eucaristia e do amor para com a Sua presença no sacrário; a devoção a Nossa Senhora, a quem carinhosamente chamava «Mãezinha»; a forma como soube viver o sofrimento, unindo-o ao de Jesus e fazendo dele um instrumento de redenção; o amor para com os outros, sobretudo para com os pecadores e os mais carenciados economicamente. Não a conheci pessoalmente. O que escrevo, é fruto do que li e do que ouvi a quem com ela privou. É minha intenção despertar o interesse por um conhecimento mais profundo do testemunho que nos deu e da mensagem que nos transmite, o que pode ser feito através de livros como os que indico na bibliografia. Silva Araújo Há quase cem anos... Alexandrina Maria da Costa, segunda filha natural de Ana Maria da Costa, (que veio a falecer em 24 de Janeiro de 1961), nasceu na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, em 30 de Março de 1904, uma Quarta-feira Santa. Foi baptizada em 2 de Abril, «Sábado de Aleluia». Pregada ao leito desde 1925, por mielite na coluna dorsal, faleceu em 13 de Outubro de 1955. A Congregação para as Causas dos Santos declarou-a Venerável por decreto de 12 de Janeiro de 1996. A mãe era analfabeta. «Num período de solidão, escreve Gabriele Amorth («Por detrás de um sorriso», pag. 15-17), tinha-se enamorado de António Gonçalves Xavier, que saltitava entre Portugal e o Brasil. Grávida da Deolinda – a irmã mais velha da Alexandrina, nascida a 21 de Outubro de 1901 – António declarou que estava disposto a casar com ela assim que voltasse do Brasil, o que não veio a acontecer. «Abandonada pelo esposo pouco antes do casamento, suportou com dignidade o peso da família e educou as filhas com fortaleza e diligência segundo as leis de Deus e da Igreja, dando-lhes admiráveis exemplos de oração e de prática da caridade, sobretudo para com os doentes», lê-se no «Decreto sobre as virtudes» de Alexandrina. Ainda sobre a mãe, «que se soube resgatar tão plenamente dos erros cometidos», escreve Gabriele Amorth: «Mulher de muita oração e laboriosidade, manteve uma conduta exemplar e soube dar uma óptima formação às filhas. Viveu sempre pobre, mas nunca deixou de ajudar quem era mais pobre do que ela, até ao ponto de se arruinar. Ajudava os doentes e era chamada para os assistir até de noite. Assistia aos moribundos, recitava as orações, vestia os mortos. A sua caridade era tal que o Pároco dizia dela: ‘Quando morrer, toda a Paróquia vai sentir a sua falta’. Pensemos na intensidade de oração que sustinha os dias pesados de Ana Maria. Levantava-se cedíssimo, arrumava a casa e às 5 horas entrava na igreja, da qual tinha as chaves. Quando, às 7 horas, começava a Missa, ela já tinha rezado duas horas de joelhos, diante do Santíssimo Sacramento». A fim de poder frequentar um pouco a escola (aprendeu a ler e a escrever, mas não fez qualquer exame), em Janeiro de 1911 a Alexandrina foi, com a irmã Deolinda, para casa da família do carpinteiro Pedro Teixeira Novo, na Póvoa de Varzim, onde esteve até ao fim de Julho de 1912 e onde fez a primeira comunhão. A Deolinda fez o exame de terceira classe. Regressada a Balasar, passou a viver no lugar do Calvário, numa casa que a mãe, Ana Maria, recebera duma tia, como sinal de gratidão pela assistência contínua prestada durante a sua doença. Quando completou os doze anos um camponês dos arredores pediu-a para criada de servir. A mãe autorizou, mas pôs condições: que o amo a mandasse à missa todos os domingos e a confessar-se uma vez por mês. Além disso, deveria deixá-la ir a casa todos os dia de festa, para que pudesse continuar sob a vigilância materna e assistir às funções da igreja. Nunca, absolutamente, poderia o amo deixá-la sair de noite. O contrato não durou muito tempo, diz Humberto Pascoal («Sob o Céu de Balasar», pag. 12). Acabou ainda não tinham passado cinco meses. «O patrão, homem colérico, exigia da pequena um trabalho muito superior às suas forças, e além disso era um tanto desbocado na linguagem». A partir de então, a Alexandrina, além dos serviços domésticos dedicou-se também aos trabalhos do campo. Aos 13 ou 14 anos ganhava, na agricultura, um salário idêntico ao da mãe. Aos treze anos, encarrapitada em cima de um carvalho a apanhar folhas para os animais, caiu pesadamente no solo, tendo ficado imóvel por algum tempo. Prosseguiu o trabalho mas alguns meses após a queda começou a sentir grande fadiga, pelo que, aos 14 anos e quatro meses, com a saúde seriamente ameaçada, abandonou para sempre as lides do campo e passou a trabalhar de costura, em casa, ajudada por algumas aprendizes. Ainda aos doze anos foi nomeada catequista da paróquia e integrou o coro das raparigas. Um dia, tinha ela 14 anos, no Sábado Santo de 1918, quando se encontrava em casa em companhia da irmã e de uma amiga, Rosalina Gonçalves de Almeida, mais velha que as duas, surgiram três indivíduos que as quiseram assaltar. Enquanto a irmã e a companheira se escaparam como puderam, para fugir e defender a sua virgindade a Alexandrina atirou-se de uma janela, da altura de quatro metros. Caiu pesadamente no quintal e, quando se quis levantar, não podia. Uma dor aguda trespassava-lhe a espinha. A doença de que padecia, em resultado da queda, agravara-se. Passado pouco tempo assaltaram-na fortes dores na coluna e viu-se então constrangida a ficar de cama às temporadas, alternando com espaços de relativa saúde. Aos 21 anos, em 14 de Abril de 1925, com a doença agravada, recolhe à cama, para não mais se levantar durante os 30 anos que ainda viveu neste mundo. A irmã Deolinda tornou-se sua enfermeira e secretária, enquanto a mãe continuava a trabalhar fora, para prover ao sustento da casa. Por volta de 1930 ofereceu-se como vítima pelos Tabernáculos abandonados e pela salvação dos pecadores, por intermédio da Virgem Maria. Um dos homens que quiseram assaltar as três meninas reconheceu mais tarde o seu erro, tendo declarado ao P. Humberto Pascoal: (A Alexandrina) «é uma santa. E está nesta cama por minha culpa!». Em 1933 a Alexandrina obteve licença para que pudesse ser celebrada a Eucaristia no seu quarto de enferma, o que aconteceu pela primeira vez em 20 de Novembro desse ano. A partir de 1938 sofreu a paixão de Cristo. O que foi a sua vida narra-o ela mesma no seu diário, escrito em parte pelo próprio punho e em grande parte ditado à irmã, Deolinda. Refira-se, a propósito dos seus escritos, que as cartas dirigidas ao P. Mariano Pinho, seu primeiro director espiritual, entre 1933 e 1942, compreendem 1269 folhas dactilografadas. Os documentos que estiveram na posse do P. Humberto Pascoal e abrangem os anos de 1944-55 somam mais de 1.100 páginas, entre diários e cartas dirigidas a várias pessoas. Desde 27 de Março de 1942 até à morte, em 13 de Outubro de 1955, durante treze anos e sete meses, viveu em completo jejum e total anúria (supressão da formação da urina). O seu único alimento foi a Comunhão eucarística. Em 13 de Outubro de 1953 Jesus explicou-lhe: «Tirei-te a alimentação. Fiz-te e faço-te viver só de mim para provar claramente aos homens o meu poder, a minha existência». Este caso foi rigorosamente examinado por diversos médicos, quer em casa da doente quer durante um internamento na Casa do Refúgio de Paralisia infantil da Foz do Douro, entre 10 de Junho e 20 de Julho, onde esteve durante quarenta dias e quarenta noites, sob uma vigilância apertadíssima, de noite e de dia. O Médico Dr. Gomes de Araújo escreveu então um relatório onde se pode ler: «É para nós inteiramente certo que, durante os quarenta dias de internamento, a doente não comeu nem bebeu; não urinou nem defecou, e esta circunstância leva-nos a crer que tais fenómenos possam vir a produzir-se de tempos a tempos. Não podemos duvidá-lo. Há neste caso estranho tais pormenores, que pela sua importância fundamental de ordem biológica, com a duração da abstinência de líquidos e da anúria, nos tornam suspensos, aguardando que uma explicação faça a necessária luz». A Doente sentia fortemente os estímulos da fome e da sede, mas se lhe davam nem que fosse uma só gota de água, vomitava-a imediatamente. Nestas condições, porém, teve força para rezar, cantar, falar com as visitas durante horas a fio e teve todos os meses as menstruações até aos 47 anos de idade, declarou o Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo, que foi seu médico assistente desde Janeiro de 1941 até à morte, em 1955. Não sendo caso único, este jejum faz lembrar situações idênticas vividas com a Beata Ângela de Foligno, que passou doze anos sem tomar alimento algum; Santa Catarina de Sena, que assim viveu durante oito anos; Santa Ludovina, que passou assim 28 anos; Teresa Newmann, que esteve em jejum durante 36 anos. Em 1944 inscreveu-se na Pia União dos Cooperadores Salesianos. A Alexandrina faleceu, como escrevi, em 13 de Outubro de 1955, às 20h30. Em 7 de Janeiro desse ano Jesus tinha-lhe dito: «Para ti já não há mais sofrimentos que inventar». Depois advertiu-a: «Minha filha, é o teu ano. Confia em mim. Eu não falto àquilo que prometo. As minhas promessas de Senhor supremo e omnipotente estão para se realizar. O céu é teu. Lá em cima continuarás a tua missão». Começou por ser sepultada no cemitério paroquial. De harmonia com a sua vontade ficou com o rosto voltado para a igreja, a fim de poder «ver» o sacrário. Os seus restos mortais foram transladados em 18 de Julho de 1978 do cemitério para uma capela entretanto preparada na igreja paroquial. Na agonia e morte teve a assistir-lhe Mons. Mendes do Carmo, professor do Seminário da Guarda e antigo Reitor do Colégio Português em Roma. Direcção espiritual Na vida de Alexandrina foi de grande importância a actividade de dois dos seus directores espirituais: o jesuíta Mariano Pinho e o salesiano Humberto Pascoal. Em meados de Agosto de 1933 o P. Mariano Pinho fez em Balasar um tríduo de pregações. Visitou então Alexandrina, que lhe pediu para a dirigir espiritualmente. A Enferma obedecia em tudo ao Director, de harmonia com o que Jesus lhe disse num dos colóquios que tinha com Ele: «Obedece em tudo ao teu Pai espiritual. Não foste tu que o escolheste; fui eu que to enviei». Acontecimentos de vária ordem, onde a intriga e o falso zelo se misturaram, privaram-na deste Director, que veio a escrever o livro «No Calvário de Balasar», em Junho de 1944. Em 8 de Setembro de 1944 assumiu oficialmente a direcção de Alexandrina o P. Humberto Maria Pascoal, do seminário salesiano de Mogofores. Ordenou à Doente que, semana a semana, escrevesse tudo o que lhe sucedia, elaborando uma espécie de diário, pelo menos resumido, de que resultaram mais de quatro mil páginas dactilografadas. Num êxtase, em 20 de Setembro de 1944, Jesus aprovou esta decisão do Director espiritual dizendo-lhe: «Escreve tudo e entrega tudo a quem se interessa de ti e da minha causa. É quanto basta». Como a Alexandrina tinha dificuldade em escrever, a maior parte dos textos foram por ela ditados à irmã, Deolinda, que foi sua secretária, enfermeira, assistente, confidente, enquanto a mãe trabalhava fora de casa. Algumas vezes lhe serviu de secretária a Dr.ª D. Irene Dias de Azevedo, médica. Para escrever as cartas e o diário, a Alexandrina preferia a quinta-feira, dia da instituição da Santíssima Eucaristia. É que, sentindo muita dificuldade tanto em escrever pelo próprio punho como em ditar, encontrava assim maneira de demonstrar com factos o seu amor a Jesus na sagrada Eucaristia. O sue médico assistente, Dr. Manuel Augusto de Azevedo, tomou apontamentos de muitos dos êxtases da Serva de Deus, que testemunhou. O P. Pascoal, que partiu para a Itália em 1948, veio a ser o primeiro biógrafo da Serva de Deus. O P. Alberto Gomes, por sua vez, foi confessor ordinário da Doente desde 1942 até à sua morte. Sofrimento redentor A Alexandrina foi uma pessoa marcada pelo sofrimento, que soube amar cristamente, oferecendo-se como vítima pelos pecadores do mundo inteiro. Os sacerdotes e o Papa tiveram também lugar nas suas intenções. Sofrendo de mielite comprimida da medula, os membros da Alexandrina foram paralisando progressivamente e por fim a atrofia dos músculos foi tal que a impediu de qualquer movimento. Tinha a preocupação de sofrer em silêncio. Só ao Director espiritual e, em parte, à Deolinda dava a conhecer o muito que sofria. Aos outros não contava nada. Escreveu no diário: «Jesus, quero esconder a minha dor. Chore o meu coração dia e noite, se assim quiserdes, mas estejam alegres os meus olhos e sorriam os meus lábios». «Sorrio a todos, enquanto a alma chora. Mostro-me feliz e alegre, mas a minha felicidade está só no sofrimento e em fazer a vontade de Deus». Desde o dia em que se ofereceu como vítima, repetiu sempre esta oração: «Ó Jesus, põe-me nos lábios um sorriso enganador, para que eu possa esconder aos outros todo o martírio da minha alma; basta que só tu conheças o meu sofrimento». Procurou em tudo seguir a vontade de Jesus, que lhe propôs como programa de vida: sofrer, amar, reparar. A partir de 3 de Outubro de 1938 até 27 de Março de 1942 (num total de 182 vezes) sofreu a paixão de Jesus, reproduzindo-se nela, à sexta-feira, uma por uma, as dores do Senhor, desde o Horto das Oliveiras até ao último suspiro na cruz. «Na manhã do dia 2 de Outubro de 1938, afirma, disse-me Nosso Senhor que eu iria passar por toda a Sua santa Paixão, do Horto ao Calvário, só não chegaria ao ‘Consumatum est’. Seria a primeira vez no dia 3 e, depois, ficaria a passar pela Paixão todas as sextas-feiras, de pouco depois do meio-dia às três horas». Os sofrimentos tinham início na quinta-feira, aumentavam durante a noite e manhã seguintes e culminavam durante três horas, desde as 12h00 até às 15h00. De 27 de Março de 1942 em diante continuou a viver a Paixão até à morte, mas de uma forma invisível, sem qualquer sinal exterior. Sendo completamente paralítica, algumas vezes Deus permitia que se levantasse sem o auxílio de ninguém e que os seus pés, habitualmente dobrados em arco, ficassem em posição normal. Na semana da paixão de 1942 começou a ter êxtases às três horas da tarde, em todas as sextas-feiras e no primeiro sábado de cada mês. Muitos desses acontecimentos foram testemunhados pelo já citado Dr. Manuel Augusto de Azevedo. A duração dos êxtases públicos rondava pela meia hora. Nesse estado, a Alexandrina falava de maneira clara e perfeita, podendo escrever-se tudo o que dizia, ou o que Jesus dizia por ela. O tema era sempre o mesmo: reparação. Muitos dos êxtases exprimiam-se através do canto, conservando-se algumas gravações no arquivo paroquial de Balasar. O êxtase de 29 de Agosto de 1941 foi filmado e a película conserva-se no mesmo arquivo. Durante os êxtases ficava sempre insensível ao mundo externo e também se tornavam insensíveis os seus membros. Na Sexta-Feira Santa de 1942, em 3 de Abril, entrou pela segunda vez na morte mística, que durou dois anos. Durante ela sentia o corpo reduzido a cinzas. Sobre o que era a paixão sofrida por Alexandrina pode ler-se uma pormenorizada descrição nos livros «Venerável Alexandrina», pags. 102-119, e «Por detrás de um sorriso», pag. 55-64. Além das dores que lhe causavam a mielite e as frequentes cólicas renais, a partir de 1946 teve que ser também colocada sobre tábuas, porque já não suportava o leito macio: todo o corpo parecia desconjuntar-se. Mas a Alexandrina foi provada também por sofrimentos de ordem moral. Foi atormentada pelo demónio – o «cochino», como lhe chamava -- que, em Julho de 1937, não contente de lhe torturar a consciência e de lhe dizer coisas obscenas, a deitava da cama abaixo, tanto de noite como a qualquer hora do dia, e a atirava contra os cantos do quarto. Foi objecto de violentos assaltos externos, tendo-se chegado a autêntica possessão diabólica e havendo necessidade de recorrer aos exorcismos. O demónio aproveitava o afluxo de visitas para a convencer de que era tudo falso e ela andava a enganar as pessoas. Em 1933 a família passou privações -- «foi um período não só de pobreza, mas de verdadeira miséria», diz Gabriele Amorth -- originadas por problemas de ordem financeira. A mãe tinha ficado fiadora de uma dívida de um dos irmãos. Expirado o prazo sem que o irmão conseguisse pagar, Ana Maria teve que vender as poucas terras que possuía e foi obrigada a hipotecar a casa para obter um empréstimo. «Naquele tempo, refere a Alexandrina, eu já não tinha nenhum apego às coisas deste mundo; mas ainda assim sofria bastante ao ver que tudo aquilo que tínhamos não bastava para pagar as dívidas que minha mãe tinha contraído, tornando-se fiadora de pessoas amigas. Eu logo disse aos meus que antes queria perder tudo, até ao último ceitil, do que deixar de pagar. Muitas vezes me veio a faltar o alimento substancioso que precisava, mas sofria tudo em silêncio. Nunca pedi aquilo que não tínhamos em casa; assim, os meus familiares estavam persuadidos que tudo fosse do meu agrado, e já não sofriam tanto. Se me ofereciam alguma coisa, logo a entregava à minha irmã, que naquele tempo andava bastante adoentada, fazendo este raciocínio: ‘já que eu não posso curar, que ao menos a Deolinda consiga passar melhor’. Assim passaram seis anos de lágrimas e tristezas. Não houve na família um momento de paz e serenidade. Por fim Jesus ouviu a minha oração. Uma boa senhora veio de longe trazer alívio às nossas penas; e se as provas não terminaram completamente, foi só por minha timidez. Não tive coragem de revelar toda a nossa dívida; mas aquela senhora deu-nos uma quantia tão avultada que nos salvou de vendermos a nossa casa». Assim se evitou que a casa fosse vendida em hasta pública. Na Sexta-Feira Santa de 1942, em 3 de Abril, entrou pela segunda vez na morte mística, que durou dois anos. Durante ela sentia o corpo reduzido a cinzas. A primeira morte mística tinha acontecido entre as 03h00 e as 03h30 de 7 de Junho de 1936. Em 20 de Outubro de 1944 começou a sofrer a paixão mística de Jesus, bem mais dolorosa do que a paixão física. Principiou com uma visão intelectual da cruz, em que ela, e Jesus nela, se sentiu levantada sobre o Calvário. Esta paixão íntima reproduziu-se nela durante 11 anos com uma intensidade impressionante. Jesus tinha-lhe dito um dia: «Dá-me as tuas mãos, que as quero cravar comigo; dá-me os teus pés, que os quero cravar comigo; dá-me a tua cabeça, que a quero coroar de espinhos, como Me fizeram a Mim; dá-me o teu coração, que o quero trespassar com a lança, como Me trespassaram a Mim; consagra-me todo o teu corpo, oferece-te toda a Mim, que te quero possuir por completo». Em 1945 começou a ter problemas nos olhos, tornando-se-lhe a luz cada vez mais insuportável. Ficou quase cega e foi obrigada a viver na obscuridade do quarto, onde duas cortinas muito escuras impediam que a luz entrasse pelas janelas. Também não foi sem sofrimento que aceitou as mudanças de director espiritual. No testamento que fez deixou expressa a vontade de a sua sepultura ficar rodeada de martírios, para significar que tendo em vida amado a dor, a continuará a amar depois da morte. Em 27 de Julho de 1947 escrevia: «Levei a minha vida a sofrer e levarei o meu Céu a amar e a pedir a Jesus por vós, ó pecadores. Convertei-vos e amai a Jesus, amai a Mãezinha. Vinde, vamos todos para o Céu. Se sentísseis, por algum tempo, os martírios que por vós sofri, estou convencida de que não pecaríeis mais. E se conhecêsseis o amor de Jesus, então morreríeis de dor por O terdes ofendido!». No modo como viveu o sofrimento podem destacar-se diferentes etapas. Primeiro, alimentou a esperança da cura, fazendo com esse objectivo promessas e novenas. Em 1928 quis participar numa peregrinação a Fátima, com a esperança de se curar, mas foi dissuadida de o fazer pelo médico e pelo pároco, devido ao seu estado de saúde. Depois, procurou aceitá-lo, amá-lo e uni-lo ao sofrimento redentor de Cristo. Do desejo da cura, escreve Gabriele Amorth, passou à aceitação da sua cruz e, por fim, à alegria do sofrimento que a levará aos cumes mais altos da vida mística. Compreendeu que a sua missão era o sofrimento e intuiu que o sofrimento oferecido a Jesus tem um grande valor redentor. «Todos os dias peço sofrimentos, disse, e sinto grande consolação espiritual nas horas em que sofro mais, porque tenho muitas coisas para oferecer a Jesus». O Dr. Manuel Augusto Dias de Azevedo decidiu estudar clinicamente o seu caso a fundo, recorrendo por vezes a colegas seus. Um destes, o neurologista Gomes de Araújo, confirmou ser a doença de Alexandrina uma mielite medular comprimida, acrescentando que se devia excluir absolutamente a hipótese de histerismo. Definiu a Doente «psiquicamente perfeita, normal, inteligente, afectiva e volitiva. Tem, acrescentou, a expressão viva, perfeita, afectuosa, boa, meiga, sincera, sem pretensões, natural. Nas suas respostas não tem hesitações. É inteligente, subtil. Não é exaltada nem muito pronta a dar conselhos. Tem um ar de bondade espontâneo». No depoimento que fez em 1967 no processo diocesano informativo para a beatificação -- citando, para o confirmar, pareceres dos doutores Gomes de Araújo e Carlos Lima -- o Dr. Manuel Azevedo afirmou com segurança que «a causa principal da mielite tinha sido o salto da janela». Colóquios com Jesus A partir de 6 de Setembro de 1934 a Alexandrina passou a ter colóquios frequentes com Jesus, em mil aparições durante 22 anos. O que Jesus lhe dizia ditava-o à irmã Deolinda, à Professora de Balasar, ao P. Humberto Pascoal. Desde aquele dia Jesus apresentou-se-lhe sob vários aspectos e, algumas vezes, com o seu Coração cercado de raios de amor. Devoção ao Santíssimo Sacramento A Alexandrina tinha uma grande devoção ao Sacrário, a qual lhe foi estimulada por Jesus: «Como Maria Madalena, também tu escolheste a melhor parte. Escolheste amar-me nos Sacrários, onde me podes contemplar não com os olhos do corpo, mas com os olhos da alma e do espírito. Eu encontro-me lá em corpo, alma e divindade, como no céu. Escolheste quanto há de mais sublime». Viveu dominada pelo ideal eucarístico. «Pertence-me esta missão: dar almas a Jesus, viver alerta na Eucaristia, alerta sempre, alerta com Jesus. Como borboleta em volta da chama, como pastor vigilante pelo seu cordeiro». Esta devoção fez com que o seu dia-a-dia fosse uma oração incessante, com uma particular união a todas as missas que se celebram dia e noite, e em adoração diante de todos os sacrários do mundo, onde Jesus está presente. A mesma devoção eucarística levou-a a privilegiar a quinta-feira, «o dia em que o Senhor instituiu o SS. Sacramento». Em duas sextas-feiras consecutivas do mês de Setembro de 1955, como faltasse o sacerdote na paróquia, recebeu a comunhão pela mão dos Anjos. No testamento que fez treze anos antes de morrer deixou dito: «Desejo ser sepultada, se for possível, com o rosto voltado para o sacrário da nossa Igreja; pois como em vida sempre desejei unir-me a Jesus sacramentado e olhar para o sagrado Tabernáculo, assim também depois da minha morte desejo continuar a velá-lo, conservando-me voltada para ele. Sei que com os olhos do meu corpo já não verei a Jesus, mas desejo ser colocada naquela posição, para lhe demonstrar o amor que sinto pela sagrada Eucaristia». Em 2 de Novembro de 1933 pôde, pela primeira vez, participar na Eucaristia celebrada no seu quarto. E durante mais de 13 anos, como disse já, desde 27 de Março de 1942 até à morte, a Sagrada Eucaristia foi o seu único alimento. Devoção a Nossa Senhora Depois de Jesus, o seu grande amor era Nossa Senhora, a quem chamava «querida Mãezinha» e a quem dizia todos os dias: «Ó Mãezinha, abri-me os vossos santíssimos braços, tomai-me sobre eles, estreitai-me ao vosso santíssimo Coração, cobri-me com o vosso manto e aceitai-me como vossa filha muita amada, muito querida, e consagrai-me toda a Jesus. Fechai-me para sempre no seu Divino Coração e dizei-Lhe que O ajudais a crucificar-me, para que não fique no meu corpo nem na minha alma nada por crucificar... Ó Mãezinha, fazei-me humilde, obediente, pura, casta na alma e no corpo. Fazei-me um anjo; transformai-me toda em amor, consumi-me toda nas chamas do amor de Jesus». Em 1934 inscreveu-se entre as Filhas de Maria. Celebrava com particular devoção o mês de Maio e os primeiros sábados de cada mês. Foi uma grande defensora da devoção ao Imaculado Coração de Maria. Em 30 de Julho de 1935, depois da Comunhão, Jesus disse-lhe: «Pelo amor que tens à minha bendita Mãe, comunica ao teu Director que assim como a Margarida Maria pedi que a humanidade fosse consagrada ao Coração Divino, assim agora te peço a ti que o mundo seja consagrado ao Coração Imaculado de minha Mãe Santíssima». A partir de então ofereceu-se como vítima com esta finalidade. Numa carta enviada ao P. Mariano Pinho, com data de 10 de Setembro de 1936, a Alexandrina transmite novo recado de Jesus: «Manda, filhinha, já dizer ao teu pai espiritual que espalhe já, que faça chegar aos confins do mundo que este flagelo (a revolução comunista em Espanha, anota o P. Pinho) é um castigo... Eu vou dizer-te como será feita a consagração do mundo à Mãe dos homens e minha Mãe Santíssima. Amo-A tanto! Será em Roma, pelo Santo Padre, consagrando a Ela o mundo inteiro e depois pelos Padres em todas as igrejas do mundo, sob o título de Rainha do Céu e da Terra, Senhora da Vitória. Se o mundo corrompido se converter e arrepiar caminho, Ela reinará e a vitória por Ela será ganha. Vai, minha filha, não haja receios que os meus desejos sejam cumpridos». E em Setembro de 1938 o Senhor disse-lhe: «Como sinal de que é minha vontade que se consagre o mundo ao Coração Imaculado da minha Mãe, far-te-ei sofrer a minha paixão». Mais tarde acrescentou: «Sofrerás isto até que o Papa consagre o mundo a Maria». Em Setembro de 1936 o P. Mariano apresentou o pedido ao Cardeal Eugénio Pacelli, que viria a ser o Papa Pio XII, e em Maio de 1937 e ainda depois em 1939 a Santa Sé mandou examinar a doente de Balasar e a questão da consagração do mundo. Dois dos sacerdotes que trataram deste caso, por ordem da Santa Sé, foram o P. António Durão, S. J, e o Cónego Manuel Pereira Vilar. No fim do retiro que fizeram em Maio de 1938, os Bispos portugueses apresentaram este pedido ao Santo Padre. A consagração veio a ser feita por Pio XII, eleito Papa em 2 de Março de 1939. Em 31 de Outubro de 1942, por ocasião do encerramento das festas jubilares de Fátima, fez o acto de consagração do mundo em língua portuguesa e repetiu-o em língua italiana em 8 de Dezembro. Na fórmula da consagração usou os títulos já revelados a Alexandrina: «Rainha do mundo, Rainha da paz, Senhora da Vitória ou Vencedora das grandes batalhas, Mãe do Universo». Além disso, aquele Papa instituiu a festa de Nossa Senhora Rainha, em 31 de Maio. Também decretou que, por essa ocasião, todos os sacerdotes renovassem a consagração do mundo a Maria. Relacionando isto com o pedido de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, saliente-se que a esta Religiosa foi confiada a mensagem de pedir ao Santo Padre a consagração somente da Rússia e não do mundo. Segundo narra no seu diário, em 6 de Maio de 1955 apareceu-lhe o Imaculado Coração de Maria pedindo penitência e reparação. O amor a Nossa Senhora também fez da Alexandrina uma grande apóstola do rosário. Balasar e Fátima Umberto Pascoal, no livro «Fátima e Balasar – duas terras irmãs», estuda em pormenor os pontos de convergência existentes entre a Mensagem de Fátima e aspectos fundamentais da vida de Alexandrina Maria da Costa. A Alexandrina recebeu o encargo de pedir a consagração do mundo ao Coração de Maria. À vidente Lúcia a Senhora pediu na noite de 13 para 14 de Junho de 1929 a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, na sequência de um anúncio feito em 13 de Julho de 1917. A Doente de Balasar ficou pregada ao leito no mesmo ano em que a Santíssima Virgem pediu à Irmã Lúcia a prática dos primeiros sábados. Faleceu no aniversário da última aparição de Fátima, em 13 de Outubro de 1955. Como os Videntes de Fátima, também a Alexandrina possuía uma grande devoção à Santíssima Eucaristia, tendo-se consagrado aos Sacrários eucarísticos para reparar as profanações e o abandono em que é deixado Jesus. Balasar foi um revelação eloquentíssima do amor do Coração de Jesus e do Coração Imaculado e Doloroso de Maria. A Alexandrina foi uma grande devota do Rosário, tendo escrito no seu diário, em 1 de Outubro de 1949: «Veio a Mãezinha; cobria-A um manto branco e doirado; tomou-me para os seus braços, acariciou-me e enrolou-me nas minhas mãos o Rosário que pendia das suas e deu-me e enrolou-me nas minhas mãos a cruz que o rematava, depois de a beijar: -- Minha filha, eu sou a Virgem do Rosário. Estou contente contigo por aconselhares a rezarem ao menos o Terço em minha honra. Continua: é devoção de salvação. O mundo agoniza e morre no pecado. Quero oração, quero penitência. Enrola, minha filha, neste meu Rosário os que amas e são teus, porque também eu os amo e Jesus os ama». Na manhã do dia da sua morte, 13 de Outubro de 1955, Alexandrina foi visitada por um grupo de pessoas amigas, a quem disse: «Adeus, até ao Céu. Não pequem! O mundo não vale nada. Isto já diz tudo. Comunguem muitas vezes! Rezem o Terço todos os dias!». Também a Alexandrina, como os Pastorinhos, dedicou a sua vida à conversão dos pecadores. Também a Alexandrina viveu profeticamente o drama das guerras, particularmente da guerra civil de Espanha e da segunda guerra mundial. Também a Alexandrina teve uma grande devoção ao Papa, tendo escrito uma longa carta a Pio XII, em 1943, quando Hitler havia já preparado tudo para raptar o Santo Padre, assegurando-lhe que nada lhe aconteceria. Prática da Caridade Não tendo bens de fortuna, com as ajudas que lhe davam a Alexandrina não deixava de fazer bem aos outros. No livro de Ismael Matos, pag. 20-21, pode ler-se: Intercedeu junto de Deus pela colocação de muitas pessoas que lhe agradeciam por cartas. Conseguiu a colocação, em fábricas, de chefes de família, pobres, cheios de filhos, vivendo na maior miséria... Distribuía muitas esmolas aos necessitados e não deixava sem socorro os que lhe batessem à porta. Para os pobres, sem habitação, dava-lhes socorro monetário e conseguia abonadores para a construção de suas casas que, se não fosse ela, nunca possuiriam. Internou em Casas da Providência doentes e crianças para educação. Obteve a entrada, em Ordens Religiosas, de crianças de ambos os sexos, para serem educadas, onde fizeram os seus estudos. Protegia, com mensalidades monetárias, várias pessoas que já tinham tido recursos, mas que estavam na miséria. No Natal e na Páscoa distribuía roupas ou calçado a todos os necessitados da freguesia. Aos órfãos vestia-os, para não sentirem a falta de seus pais. Não consentia que a família negasse esmola aos pedintes e dava dinheiro para medicamentos. Conseguiu, pelo seu conhecimento, madrinhas para estudantes. Quando chegasse ao seu conhecimento alguma precisão de pessoas envergonhadas, logo lhes enviava socorro em roupas ou em comidas. Conta Gabriele Amorth que após a morte do pai das duas irmãs, Gonçalves Xavier, que tinha abandonado as filhas e a mãe destas para casar com outra mulher, esta, consciente do mal que tinha feito quando se intrometeu entre os dois namorados, pediu para ser recebida por elas. A Alexandrina convenceu a mãe a acolhê-la e ajudou o seu meio irmão. Nos diários de Alexandrina pode ler-se: «A esmola, e a caridade bem praticada é a base de todas as coisas. Nada há que ajude o espiritual como auxiliar no material, quando este é necessário. Ai quanto bem se podia fazer às almas, matando-lhes a fome, cobrindo-lhes o corpo, e encobrindo-lhes tantas misérias. E não merece Jesus tudo isto?». «Quero praticar o bem, quero que todos os meus actos levem em si toda a bondade e doçura. Não posso saber que os pobrezinhos têm fome e não têm com que se cobrir. Não posso saber que os meus semelhantes estejam em grandes aflições, sejam elas quais forem. O meu coração, apesar de ser tão mau, sofre, morre por não poder desfazer-se em pão, agasalhos, conforto e alegria, consolação e bálsamo para quantos sofrem. Jesus, amo a todos e a todos quero consolar por vosso amor». Processo de Beatificação A convite do então Arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, o P. Humberto Pascoal começou a tratar do processo de beatificação em 1965. Oficialmente, o processo sobre a fama de santidade e heroicidade das suas virtudes foi iniciado pela Cúria Arquiepiscopal de Braga em 1967, tendo-se registado o testemunho de quarenta e oito pessoas que a conheceram. Tal processo encerrou em 1973, tendo toda a documentação que lhe diz respeito passado para a respectiva Congregação romana, onde, em 21 de Maio, foram abertas as duas caixas de escritos e testemunhos. Em Dezembro de 1976 foram aprovados todos os seus escritos. Em 1977 a Congregação para a Doutrina da Fé deu o «nada obsta» para tratar da causa. O decreto de introdução da causa de beatificação na respectiva Congregação romana foi assinado pelo P. Humberto em 31 de Janeiro de 1983. Falecido este Sacerdote em 1985, passou a ocupar-se da causa o P. Luís Fiora, Postulador Geral dos Salesianos. Em 1991 foi apresentado à Congregação para as Causas dos Santos, pelo Relator, um grosso volume chamado «Estudo acerca das Virtudes». Em 1996 foi declarada Venerável, pela Congregação para as Causas dos Santos, mediante o decreto que se transcreve: «No dia 23 de Maio de 1995 realizou-se, com êxito feliz, a Reunião Peculiar dos Teólogos Consultores. A seguir, Cardeais e Bispos, em Sessão Ordinária, no dia 7 de Novembro do mesmo ano, sendo Relator da Causa o Ex.mo Senhor Arcebispo Pedro Alberti Ottorino, declararam que a serva de Deus Alexandrina Maria da Costa praticou, em grau heróico, as virtudes teologais e as cardeais que lhe são anexas. Apresentada, finalmente, ao Sumo Pontífice João Paulo II uma cuidadosa relação pelo abaixo assinado Pró-Prefeito, Sua Santidade, recebendo e aprovando os votos da Congregação para as Causas dos Santos, ordenou que fosse exarado o Decreto sobre a heroicidade das virtudes da Serva de Deus. O que, depois de fielmente observado, e tendo sido convocados, no presente dia, o Pró-Prefeito, o Relator da Causa, o Secretário da Congregação e os restantes que de costume devem ser convocados, e estando todos presentes, o Beatíssimo Padre declarou: «Consta, no caso presente e para o efeito de que se trata, que a Serva de Deus, Alexandrina Maria da Costa, Virgem secular, Membro da Associação dos Cooperadores S.D.B, praticou, em grau heróico, as virtudes teologais, Fé, Esperança e Caridade, tanto para com Deus como para com o próximo; bem como as virtudes cardeais, Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança e as que lhe são anexas. Mandou que este decreto se tornasse de direito público e ficasse exarado nas actas da Congregação para as Causas dos Santos». Roma, 12 de Janeiro de 1966. Alberto Bovone, Arcebispo titular de Cesareia da Numídia, Pró-Prefeito Eduardo Nonac, Arcebispo Titular de Luna, Secretário. O Arcebispo Primaz, D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga, constituiu em 7 de Março de 2002 um tribunal encarregado de estudar a possível cura miraculosa, por intermédio da Serva de Deus Alexandrina Maria da Costa, de uma senhora de Esmeriz, Vila Nova de Famalicão. Foi curada em 1995, após 12 anos de sofrimento. Fizeram parte desse tribunal: Cónego Doutor Manuel Fernando de Sousa e Silva, juiz delegado; P. Dr. António José Fernandes de Carvalho Arieiro, juiz delegado adjunto; Cónego Dr. Guilherme Frederico Malvar Fonseca, promotor de justiça; P. Dr. António de Oliveira Gomes, notário; P. Manuel Joaquim de Sousa Lobato, notário «ad casum»; Monsenhor Dr. Joaquim Moisés Rebelo Quinteiro, vice-postulador e colaborador do P. Pasquale Liberatore, postulador geral dos Salesianos e desta causa. Durante esta fase diocesana do processo a cura foi avaliada pelo médico João Rafael Garcia e por dois especialistas em neurologia, João Manuel Leite Ramalho Fontes e Carolina Lobo do Almeida Garret. De harmonia com o parecer que posteriormente emitiram os médicos da Santa Sé, consideraram-na «um facto que não se pode explicar natural ou cientificamente». O processo documental foi fechado e lacrado na Casa Episcopal de Braga, em 1 de Outubro de 2002, durante uma sessão presidida pelo Arcebispo D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga. No dia seguinte foi enviado para Roma e em 20 de Dezembro de 2003, como disse no princípio, foi promulgado o decreto que abre caminho à beatificação. Bibliografia Amorth, Gabriele, Por detrás de um sorriso – Alexandrina Maria da Costa. Edições Salesianas, Porto, 1994. Matos, P. Ismael, Alexandrina de Balasar. Edição do «Cavaleiro da Imaculada». Porto, 1971. Pasquale, Humberto, Sob o Céu de Balasar, Edições Salesianas, Porto, 1983. Idem, Venerável Alexandrina, 6.ª edição, Edições Salesianas, Porto, 1998. Idem, Fátima e Balasar – duas terras irmãs, Edição do «Cavaleiro da Imaculada». Pinho, Mariano, No Calvário de Balasar, Edições Paulinas, 1963.