Arquidiocese de Braga -

11 abril 2014

OPINIÃO: QUE LIÇÃO SE PODE TIRAR DA VIDA DE FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES?

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No arranque do ano jubilar das comemorações dos 500 anos do nascimento do arcebispo Frei Bartolomeu dos Mártires, torna-se interessante fazer uma resenha da vida, obra e feitos do denominado “santo do povo”, para relembrá-lo num atual período de alteraçõe

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No arranque do ano jubilar das comemorações dos 500 anos do nascimento do arcebispo Frei Bartolomeu dos Mártires, torna-se interessante fazer uma resenha da vida, obra e feitos do denominado “santo do povo”, para relembrá-lo num atual período de alterações no seio do cristianismo e da própria sociedade. Infelizmente a injustiça e a indiferença social têm vindo a aumentar com a crise económica, com a rápida globalização e a perda de valores sociais ou humanos. É caso para perguntar, para onde caminha a sociedade? 

A infância do arcebispo foi pautada pelo fervor religioso e pela dedicação ao estudo de Teologia e das Artes, em que muito contribuiu o seu convívio com elementos da ordem Dominicana. Nasceu de uma família humilde e até ao fim da sua vida manteve-se fiel às suas origens. A fama, o talento e as virtudes de Frei Bartolomeu dos Mártires chegaram à corte, e o infante D. Luís, irmão de D. João III, convidou-o para mestre do seu filho, D. António, que foi depois Prior do Crato.

Estava reservado ao arcebispo voos mais altos e desafiadores, como foi o caso da sua nomeação para o arcebispado de Braga. Em 1558 D. Frei Baltasar Limpo, até então arcebispo de Braga morre, sendo nestas circunstâncias necessário nomear outro arcebispo que substitua o falecido na mais antiga diocese do reino. A escolha do bispo requer um reconhecimento dos níveis de formação e carreira, no entanto, a escolha de Bartolomeu dos Mártires deveu-se a esses factores, mas também à necessidade de efectuar uma reforma na Igreja, como refere o seu hagiólogo Frei Luís de Sousa. 

O ponto alto da sua actividade religiosa é sem dúvida a participação no Concílio de Trento, em 1562-1563. Vários historiadores referem que o prelado adquiriu prestígio e fama em Trento, ficando na história as suas palavras: “os ilustríssimos e reverendíssimos cardeais precisam de uma ilustríssima e reverendíssima reforma” e “vossas senhorias são as fontes de onde todos os prelados bebem; necessário é portanto que a água seja limpa e pura”. Este é um momento de viragem no cristianismo e, por seu turno, as reformas discutidas no concílio vão ser aplicadas pelo arcebispo na diocese de Braga. Depois do concílio, o arcebispo procurou logo através da realização do Sínodo Provincial em 1566 impor as normas de Trento. 

Todavia, a relação entre arcebispo e cabido piorou, devido às reformas que o arcebispo queria impor, esbarrando no conservadorismo e comodismo das estruturas eclesiásticas da cidade. Portanto, o arcebispo foi o promotor da contra-reforma na diocese de Braga, e debateu-se com imensas dificuldades em pôr em práticas as normas de Trento, que destinavam-se essencialmente controlar e disciplinar o clero e a população em geral, no entanto não desistiu e levou a sua missão até ao momento em que as suas forças o permitiram. Os conflitos deram-se, sobretudo por dois motivos: o estabelecimento dos decretos do Concílio Provincial, e por causa das visitas pastorais nas freguesias de jurisdição do cabido. O cabido bracarense estava a lidar com um prelado corajoso e consciente da sua missão, e as dificuldades funcionaram como motivação para seguir a sua missão evangelizadora.

Recordar hoje Bartolomeu dos Mártires, é recordar um homem disciplinador, humilde, caridoso, que distribuía pão e esmola aos mais necessitados no Paço. As pessoas juntavam-se num pátio onde um sacerdote ensinava a doutrina e logo depois distribuía-se o pão. Ao relembrar esta figura tão marcante da história da Igreja, conscientemente, deposito esperança no actual chefe máximo da Igreja, o papa Francisco.

Jorge Manuel Dias Fernandes, in DM 11 de Abril de 2014