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29 Set 2021
Arcanjo S. Miguel
Homilia na festa de S. Miguel
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Na festa do Arcanjo S. Miguel podemos formular uma pergunta. Quem são os anjos? Quem são os arcanjos? A Sagrada Escritura é muita parca em explicações. Não devemos, por isso, envolver-nos em tantas histórias que nada encerram de verdade bíblica. Basta que acolhamos o essencial. São descritos como seres incorpóreos, perfeitos, espirituais, criados por Deus no início do tempo da salvação para interpretarem uma dupla função. Serem servos de Deus, contemplando-O desde sempre, vivendo face a face, sempre disponíveis para acolher todos os Seus mandamentos, que acolhem com estima a respeito e os cumprem com dedicação extrema. São, por isso, espíritos que existem para Deus e com Deus. Mas, ao mesmo tempo, estão próximos de todos os homens a quem transmitem tudo quanto Deus lhes quer comunicar nos diversos momentos da vida. Vizinhos de Deus e vizinhos dos homens a quem comunicam os projectos de Deus. Vivem na contemplação e agem como mensageiros comunicadores das verdades.

Destes, uns são chamados anjos e outros arcanjos, de harmonia com a missão particular que Deus lhes confia. Compete-lhes transmitir aos homens de diferentes maneiras a vontade de Deus, tornando-se inspiradores para o que devem fazer e oferecendo a graça divina para que a possam realizar.

Estamos, ainda, a viver o ano de S. José. O Papa Francisco, há menos de um ano, ofereceu-nos uma Carta Apostólica, “Cum corde patris”, com coração de Pai, sobre S. José Padroeiro Universal da Igreja. Aí o apresenta como o homem justo, sempre pronto a cumprir a vontade de Deus, manifestada na sua lei, através de quatro sonhos. Em sonho, S. José ouviu o que o Anjo do Senhor lhe recomendava para realizar as tarefas que lhe havia confiado. No meio da dúvida e da perplexidade, Deus falava-lhe por intermédio dos anjos, para que aderisse a projectos que pareciam incompreensíveis.

Desde o ano passado, a Arquidiocese de Braga assumiu o encargo de dar à Igreja, na sua globalidade mas em todas as estruturas que a compõem, um rosto sinodal e samaritano. Temos um projecto grandioso a exigir todas as nossas capacidades mas ouvir quanto o Espírito Santo quer dizer à sua Igreja.

Agora sentimo-nos convocados pelo Papa Francisco para realizar uma experiência de sinodalidade.  Já tínhamos iniciado. A pandemia condicionou os nossos movimentos. Agora teremos de partir para esta aventura com renovada alegria e empenho eclesial. Sabemos que deveremos caminhar juntos e o Papa Francisco aponta um caminho solicitando a nossa presença nesta caminhada para uma Igreja Sinodal, através da redescoberta da comunhão, da concretização efectiva de uma participação e do exercício colegial na tarefa da missão. Comunhão, participação, missão, são os três pilares à volta dos quais se constrói uma Igreja Sinodal.

Sabemos que tudo se iniciará solenemente no dia 9 e 10 de Outubro em Roma e que no fim de semana seguinte iremos iniciar idêntica caminhada a partir da nossa Igreja Catedral. Todos, sacerdotes e leigos, estamos a ser convocados para acolher o que Deus pretende para a sua Igreja neste momento problemático. Sabemos que sendo tarefa de todos, terá de ser interpretado como dom e responsabilidade. Dom porque o projecto da Igreja não nos pertence. É Deus que nos quer comunicar e teremos de estar numa atitude de escuta, ouvindo os mensageiros celestes como S. José fez na sua vida. Não bastará esta atitude de acolher a mensagem que Deus quer comunicar. Isto vai trazer trabalho e exigir a responsabilidade de todos. Não sabemos para onde seremos conduzidos. Abrimo-nos ao Espírito e investimos todas as nossas capacidades e talentos. Não importa o que cada um dará. Fundamental é que dê tudo o que tem e é.

A nossa primeira atitude será disponibilizarmo-nos para uma conversão sinodal. Não somos donos da verdade. Poderemos saber muito mas não saberemos tudo. Só a humildade e disponibilidade para acolher tudo sem reservas permitirá que o Espírito fale. Sabemos que na Igreja ainda prolifera um acentuado clericalismo. Os sacerdotes ainda não conseguem acolher a Igreja como povo de Deus e temos leigos que nas suas comunidades interpretam a missão que lhes foi confiada com toda a autoridade e incapacidade para se abrirem a muita coisa que não conhecem. Vamos ter necessidade de nos deixar educar pelo Espírito. Não são os raciocínios, talvez bem elaborados depois de muito estudo e reflexão. Só o espírito saberá estruturar as verdadeiras opções e prioridades. Trata-se de um exercício a que não estamos habituados. Nunca poderemos ficar no confronto de ideias.

Nesta atitude de conversão, tenho a certeza de que vai custar muito a muita gente, teremos de interpretar um processo verdadeiramente participativo e inclusivo. Todos sem excluir ninguém são protagonistas. Ninguém se deve sentir dispensado e ninguém se pode considerar inútil. Todos tem o direito de falar e a Igreja tem o dever de escutar. Esta primeira fase do Sínodo é de escuta e consulta ao Povo de Deus. Esperam-se de todos ideias, sugestões, propostas, análises, criatividade e ousadia.

Na Arquidiocese de Braga gostaria que acontecesse um verdadeiro movimento a partir da constituição de grupos sinodais, onde todos são bem-vindos. Precisamos de praticantes e empenhados nos diversos movimentos, mas precisamos de convidar quem não nos considera ou hostiliza. Quem fala mal de nós e cria problemas à nossa vida eclesial. Queremos que livremente não recusem o seu contributo. Não devem ter medo de participar nem de falar. Serão ouvidos com toda a atenção e gratidão. Queremos aprender com eles e, quem sabe, rectificar o nosso modo de agir.

Se a participação é universal, os cristãos mais empenhados deverão aderir a este processo de escuta. Cada um tem um contributo especial e nunca pense que é insignificante. Com palavras bonitas ou numa linguagem simples e popular necessitamos que, juntos, elaboremos pistas e conceitos para enviar para o Santo Padre. Faz bem, de vez em quando, fazer um exame de consciência sobre o concreto das nossas comunidades. Estes meses até Abril terão de acontecer nesta felicidade de fornecer elementos ao Santo Padre para que, no exercício do seu poder petrino, os estruture e apresente como caminho a percorrer por toda a Igreja. A nossa colaboração, poderá marcar as orientações para a Igreja Universal.

São programáticas as palavras do Documento Preparatório: “A capacidade de imaginar um futuro diferente para a Igreja e para as suas instituições, à altura da missão recebida, depende em grande medida da escolha de encetar processos de escuta, diálogo e discernimento comunitário, em que todos e cada um possam participar e contribuir.” “A finalidade da primeira fase do caminho sinodal é favorecer um amplo processo de consulta, para recolher a riqueza das experiências de sinodalidade vividas, nas diferentes articulações e aspectos, envolvendo os Pastores e os fiéis das Igrejas particulares, em todos os diversos níveis, através dos meios mais adequados, em conformidade com as realidades locais específicas.”

Estamos, por isso, todos convocados para este amplo processo de consulta para recolher tudo o que possa facilitar a nossa vida em comunhão, o que provoque uma maior consciência participativa e sobretudo intuir caminhos novos para a missão.

Os nossos párocos saberão dar orientações concretas. Nenhuma paróquia, por pequena que seja, faltará à chamada. Acredito que começando sentiremos a força da nossa união em torno desta ideia de renovar a Igreja para que possa servir melhor a Humanidade deste tempo marcado por tanta desorientação. Se tudo se orienta para a missão, não podemos desconsiderar aqueles que Cristo privilegiou. Veio, sobretudo, para os pobres e os que andavam perdidos. Teremos de sair para suscitar encontros. Este diálogo de escutar as aspirações e de deixar questionar será fundamental.

Se queremos servir os marginalizados e os excluídos teremos de os colocar na órbita nas nossas relações prioritárias. Precisam de ser envolvidos, cativados. Com eles seremos uma Igreja samaritana que cuida das feridas. Das feridas reais e não daquelas que nós imaginamos. Há muita dor escondida que nunca foi escutada. A sinodalidade obriga-nos ao encontro com os gestos que o amor sugere para cuidar de todos.

Esta complementaridade entre a escuta e a acção conduzir-nos-á à concretização da sinodalidade. Não entramos num congresso de discussão. Procuramos ser fiéis ao Espírito, ouvimos o que nos sugere na escuta de todos e colocamo-nos no caminho das realizações de modo que no final desta fase do sínodo possamos ter efetivamente, uma igreja sinodal. Acredito que exercitemos na certeza de que a sinodalidade é a forma e o modo de ser Igreja hoje.

Nesta festa de S. Miguel, ainda no ano dedicado a S. José, confio-lhes este propósito de uma verdadeira caminhada sinodal. Aqui no arciprestado e em toda a Arquidiocese. Em comunhão com eles, rezo a oração pelo Sínodo. “Aqui estamos, diante de Vós, Espírito Santo: estamos todos reunidos no vosso nome. Vinde a nós, assisti-nos, descei aos nossos corações. Ensinai-nos o que devemos fazer, mostrai-nos o caminho a seguir, todos juntos. Não permitais que a justiça não seja lesada por nós pecadores, que a ignorância nos desvie do caminho, nem as simpatias humanas nos torne parciais, para que sejamos um em vós e nunca nos separemos da verdade.

Nós Vo-lo pedimos a Vós que, sempre e em toda a parte, agir em comunhão com o Pai e o Filho pelos séculos dos séculos. Amém.” 

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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