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31 Out 2015
A memória do limite e o olhar do infinito
Mensagem para a Solenidade de todos os Santos e comemoração de todos os fiéis defuntos
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Li recentemente a Memória do limite, um livro do Luciano Manicardi, monge do Mosteiro de Bose, Itália, que por diversas vezes esteve connosco em Braga. Um livro intenso e que me ajudou a preparar-me espiritualmente para a Solenidade de todos os Santos e a comemoração de todos os fiéis defuntos que se aproximam.

Diz Manicardi que a consciência da morte é constitutiva da natureza humana e que, a partir dela, o Homem aprende a relacionar-se com os seus pares e com o mundo. Existe na vida um limite, uma meta, um momento que escapa ao nosso domínio e que nos obriga a encontrar um sentido para as nossas opções. Esse limite é a morte, ou a “certeza da morte”, como escreveu Santo Agostinho.

Esta certeza começa, todavia, em diversos quadrantes, a ser questionada. Penso, em particular, no mundo da saúde e nas empresas dedicadas à estética. Instituições que amiúde tentam prolongar ou romper os limites impostos pela natureza do corpo humano. Mas, não será um corpo envelhecido, qual memória transparente do tempo, um hino à beleza humana? Como aliar o recurso a terapêuticas, muitas vezes exageradas, a esta alegria da partida para uma vida plena? A saúde e a bioética são, hoje, disciplinas que merecem a mais cuidada atenção da sociedade e da Igreja.

A morte assusta-nos. Não a controlamos. Por vezes aparece de improviso e atinge quem menos esperamos. Mas, vigiar é o verbo do limite. Diz o Senhor “Vigiai porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25, 13). O que significa vigiar? Vigiar é um verbo de acção, uma atitude de observação atenta. Vigiar é estar vivo para uma realidade.

Ao longo já de três anos, temos vindo a reflectir sobre a identidade cristã. Um dos pilares do cristianismo, como bem sabemos, é a ressurreição. Assim, vigiar é preparar-se antecipadamente e observar, ainda que de modo incompleto, aquilo que está para lá do limite humano da morte: a ressurreição. Esta rasga a temporalidade do imediato, abre-nos à vida eterna e faz-nos crescer na compreensão do sofrimento.

É precisamente o critério da vida eterna que ilumina o nosso tempo presente. Graças a ele temos a certeza de que, quando rezamos pelos nossos familiares e amigos que partiram, estamos a dialogar com irmãos ressuscitados, com irmãos que agora fazem parte de Deus. E nós formamos com eles uma comunhão orante dos Santos, segundo a linguagem de Paulo. Rezamos uns pelos outros. Por isso, quando visitarmos as campas dos nossos irmãos, lembremo-nos que elas representam, por um lado, o lugar do descanso mas, por outro lado, a antecâmara da vida.

Sei que a morte é, na sua experiência mais profunda, um mistério. Muitas vezes, o silêncio, a oração e a presença humilde são os únicos instrumentos que temos à nossa disposição para amparar os mais abatidos. Recordo nas minhas orações os pais que perderam os seus filhos, os esposos separados e o amigo que desapareceu prematuramente. Mas, neste ano em particular, rezo pelas vítimas da guerra e pelos refugiados que perderam a vida no mar e na terra.

Creio, por isso, que, não obstante a sua dureza, a morte deve fazer-nos mais humanos, lembrando-nos o nosso limite, a nossa condição itinerante. Mas deve também fazer-nos mais divinos, mais santos e lembrar-nos da Vida que nasce ao terceiro dia. 

Que os Santos e Santas de Deus rezem agora por nós.


1 de Novembro de 2015

+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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