Arquidiocese de Braga -
31 maio 2025
Jornalistas são chamados a ser guardadores da esperança

DM - José Carlos Ferreira
Jornalista Rui Saraiva refletiu sobre a mensagem para o dia das comunicações sociais
O Arcebispo Metropolita de Braga defendeu ontem que, na complexidade do mundo em que vivemos, «os jornalistas são chamados a ser guardadores da esperança».
Esta foi uma das ideias que D. José Cordeiro deixou num encontro com os jornalistas para falar sobre a mensagem que o Papa Francisco escreveu para o 59.º Dia Mundial das Comunicações Sociais que se celebra amanhã, dia 1 de junho. A iniciativa contou com a reflexão do jornalista Rui Saraiva, da Voz Portucalense e correspondente da Radio Vaticana e do Vatican News em Portugal, sobre a mensagem que o Papa Francisco escreveu para este dia e que foi divulgada a 24 de janeiro, dia de S. Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, e tem por título “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”.
Falando à mesa do pequeno-almoço, D. José Cordeiro recordou que o primeiro encontro que o Papa Leão XIV realizou depois de cumpridas todas as formalidades da eleição de um Papa, foi com os jornalistas. «Num mundo que se sente sem Deus, sem religião, sem Igreja, é impressionante ver milhares de jornalistas a fazerem a cobertura deste acontecimento, tanto do funeral do Papa Francisco, como da eleição do Papa Leão XIV», disse.
O prelado encorajou os jornalistas a serem «artesãos da esperança e a construir esta paz desarmada em desarmante», reconhecendo que a tarefa não é fácil, nunca foi fácil, e nunca será fácil. «Por isso mesmo é que estamos aqui à volta desta mesa também a partilhar as problemáticas, mas sobretudo a encorajar-nos neste caminho de esperança e prosseguirmos como peregrinos de esperança», disse.
Àqueles que perguntam como é possível noticiar com esperança a desesperança, D. José Cordeiro responde: «é narrar num sentido positivo. Não circunscrever ao dramático, mas abrir sempre os horizontes de esperança, e que as pessoas, em cada dia, seja na leitura, seja no visionamento das notícias, possam aí ganhar novas motivações», salientou. O Arcebispo Metropolita de Braga chamou a atenção para o facto de, por vezes, haver coisas na Igreja que são difíceis de explicar, não porque haja secretismo, mesmo em processos complicados e difíceis, como as questões da proteção de menores ou dos adultos vulneráveis. «Mas, porque há respeito pelas pessoas. Não só pelas vítimas, mas por todas as outras pessoas, porque todos são pessoas. E é uma terra sagrada e nem sempre é fácil comunicar, escolher as palavras e não dar azo a outras interpretações. E, mesmo assim, num trabalho sinodal e de equipa, nem sempre é fácil, mas a nossa atitude é nesta Igreja de portas abertas sermos transmissores mansos e humildes da razão, da esperança que nos habita, concluiu D. José Cordeiro.
Papa pede uma comunicação amável, refletida e atenta
O jornalista Rui Saraiva sustenta que o Papa Francisco, na sua mensagem para 59.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, escrita e divulgada em janeiro, pede uma comunicação amável, refletida e atenta.
Segundo explicou em declarações à margem do encontro com os jornalistas promovido pelo Departamento Arquidiocesano da Comunicação, trata-se do princípio da atitude, isto é, como se parte para a relação com os órgãos de comunicação social. E, neste ano da Esperança, do Jubileu, o correspondente da Radio Vaticano, destaca na mensagem palavras como abertura, o sentido da amizade, uma comunicação que seja atenta e refletida. «Ou seja, partir sempre de um princípio de reflexão, perceber exatamente o que se quer dizer, mas que lance, e isso é o que vem logo a seguir, caminhos de diálogo. E, depois, uma atitude fundamental, que vai bucar à Carta de S. Pedro, que é partilhar com mansidão», salientou.
Para Rui Saraiva, trata-se de os cristãos serem capazes de serem mansos, e não sonsos, mas capazes de uma atitude que não seja criadora de um litígio, que seja de abertura e que seja capaz de criar pontes com aqueles com quem entra em diálogo.
«A Igreja, institucionalmente, desde sempre, no âmbito do Concílio Vaticano II, com estas mensagens e com o Dia Mundial das Comunicações Sociais, quis dar uma forte impressão digital da Igreja aos jornalistas. E o Papa, na própria mensagem, diz que os jornalistas são necessários. Eu creio que esta é uma mensagem também de esperança para aquilo que é a função dos jornalistas na sociedade contemporânea», sustentou.
Sobre o estado da Comunicação Social nos dias de hoje, o Papa na sua mensagem traça um olhar que manifesta as suas preocupações. Para Rui Saraiva, neste capítulo há duas palavras logo no início da mensagem a sublinhar e que manifestam a preocupação do Papa Francisco. Segundo sublinhou, são elas polarização e desinformação.
Informação tem de dar sinais de esperança
O responsável pelo Departamento Arquidiocesano de Braga da Comunicação afirma que a mensagem do Papa Francisco quer dizer aos jornalistas que, «no mundo tão polarizado, tão fragmentado, no mundo em guerra» a informação tem de ser bem cuidada, e, para além de objetiva, tem que dar sinais de esperança. «Eu acho que obriga os jornalistas, aos que trabalham nos órgãos de comunicação social, a um olhar atento, quase diria a um tomar de consciência sobre a sua missão no trabalho que desempenham como intérpretes da realidade», salientou o padre Paulo Terroso.
O sacerdote reconhece que o jornalista tem de dar notícias, sejam boas ou más. Contudo, sustentou, a Igreja pede que, nesta missão de informar, o jornalista tenha um olhar profundo e de interpretação sobre a realidade. «Nós podemos até falar do caso mais violento, ou das coisas mais desumanas. Mas, a forma como damos a notícia, como compreendemos esse acontecimento deve estar revestido de um valor que é a compreensão da dimensão humana, do uso da liberdade», sustentou.
Para o padre Paulo Terroso, «o jornalista, como intérprete qualificado da realidade e mediador de várias instâncias, precisa de ter esse cuidado que é informar e dar espírito crítico às pessoas, para que não seja simplesmente uma observação sobre a realidade, mas uma compreensão sobre a realidade», e daí vem a esperança, o uso cuidado das palavras e saber perguntar.
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