Arquidiocese de Braga -

23 junho 2025

Opinião

As crianças e o mesmo Deus, para todas!

Susana Magalhães e Rui Vieira

Lembrando este mês como uma ode às crianças, foi esse o mote do convite que nos dirigiram para escrever este artigo de opinião. É a pensar nelas que escrevemos este texto. E quando falamos no plural queremos mesmo incluir todas as crianças, as que vivem em nós, as que vivem connosco, as que partilham a mesma rua, a mesma cidade, o mesmo país, as que vivem em todos os lugares do mundo.

Vai parecer que fugimos do tema, mas desenganem-se. A vida, a liberdade, a dignidade, a paz que queremos para todas as crianças é transversal à grande maioria dos temas: religião, cultura, política, geopolítica, migração, economia, .... Todos estes temas são intrínsecos à vida em comunidade e aquilo que defendemos e praticamos, pode ser a rocha ou a areia que sustenta a casa comum, que assegura a comunhão entre todos.

As decisões e medidas tomadas para qualquer uma das áreas referidas impactará a vida de todos, dos mais pequenos aos graúdos, ao dia de hoje e no futuro. Naturalmente, queremos que essas atitudes, essas medidas, respeitem e dignifiquem as “nossas” crianças (filhas(os), amigos(as), sobrinhas(os), netos(as), vizinhas(os), alunas(os), …). Propomos algo simples: ao defender posições, políticas, preocupemo-nos também com as crianças dos outros, independentemente do credo, da cor, do género, da língua e das características de cada um.

Vivemos tempos exigentes, de intolerância, de discursos populistas, reações exacerbadas, impulsionadas por preconceitos e medos difundidos. Também já disseminados por jovens e adolescentes, o que parece esmorecer quem deve reagir, mas não percamos a esperança no diálogo, no encontro, preenchido de fé, perseverança e consciência.

Não nos calemos perante estes discursos. O diálogo com o outro também pode ser oração. Somos chamados a intervir, a ser ponte. Abrir o caminho do diálogo inter-religioso é importante para perceber que há muito em comum na forma como procuramos chegar a Deus e que as diferenças existentes devem ser valorizadas pelo que transmitem de liberdade, identidade e diversidade.

Lembremos o discurso do Papa Francisco, em 2024, no Encontro Inter-Religioso com jovens durante a viagem apostólica a Singapura: «Se começardes a discutir: “A minha religião é mais importante do que a tua...”, “A minha é a verdadeira, a tua não é verdadeira...”. Para onde é que isso vos leva? Para onde? Alguém pode responder? [Responde um: “Destruição”]. É isso. Todas as religiões são um caminho para nos aproximarmos de Deus. E faço esta comparação: são como línguas diferentes, diversos idiomas, para chegarmos lá. Mas Deus é Deus para todos. E porque Deus é Deus para todos, todos nós somos filhos de Deus. “Mas o meu Deus é mais importante do que o vosso!” Será que isto é verdade? Só há um Deus, e nós, as nossas religiões são linguagens, caminhos para chegar a Deus.»

Sejamos esta aproximação, este exemplo junto dos mais novos. Quanta riqueza há em ver as crianças a brincarem juntas, independentemente da forma ou do local onde elas e os pais rezam, daquilo que vestem ou comem. Sejamos exemplo, dando o primeiro passo, no trabalho, na comunidade, na família ou entre amigos, mostremos uma atitude acolhedora e compreensiva ao procurar o diálogo, a interação, o conhecimento sobre os outros. Como disse Mia Couto «Todos sabemos que esse outro caminho poderia começar, por exemplo, pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e de outro lado, aprendemos a chamar de “eles”.»

 

Susana Magalhães e Rui Vieira, CMAB