Arquidiocese de Braga -

O cónego João Aguiar Campos, antigo diretor do Jornal Diário do Minho e presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, morreu aos 73 anos, vítima de doença prolongada.

João Aguiar Campos nasceu a 23 de dezembro de 1949 na freguesia de S. João do Campo, concelho de Terras de Bouro, no seio de uma família grande (seis irmãos).

Sacerdote da Arquidiocese de Braga, trabalhou durante cerca de 40 anos na pastoral da Comunicação Social, nomeadamente como jornalista e director do Diário do Minho, Presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia e Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja Católica. Anos de intensa atividade profissional, de entrega e dedicação aos Media de inspiração cristã, em Braga, no Porto e em Lisboa.

João Aguiar Campos foi ordenado padre no dia 25 de março de 1973. Entre 1974 e 1976 frequentou o curso de Ciências da Informação na Universidade de Navarra, Espanha.

Em 1976 começou a trabalhar no jornal Diário do Minho, da Arquidiocese de Braga, onde foi diretor entre 1997 e 2005. Em 1981 iniciou funções na Rádio Renascença, tendo ocupado a presidência do Conselho de Gerência da emissora católica portuguesa entre 2005 e 2016.

Em 2011 foi nomeado diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, cargo que ocupou até abril de 2016.  A 5 de maio desse ano, o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais entregou-lhe de forma honorífica o prémio de jornalismo D. Manuel Falcão, juntamente com o cónego António Rego.

Em 2019, no Dia do Concelho de Terras de Bouro, a 20 de outubro, o Município condecorou-o com a Medalha de Mérito Ouro, numa cerimónia de homenagem no Museu da Geira - Núcleo Museológico de Campo do Gerês com a presença de individualidades civis, militares e religiosas e amigos e familiares do homenageado. 

Ao entregar a Medalha, num auditório repleto, o presidente da Câmara de Terras de Bouro, Manuel Tibo,  referiu-se ao padre João Aguiar Campos como um dos «mais notáveis e ilustres de Terras de Bouro» e apontou a «vida e força» do sacerdote como uma «inspiração» para os  terrabourenses.  

O cónego João Aguiar Campos, no discurso emocionado que proferiu, agradeceu o gesto e declarou que o concelho de Terras de Bouro não lhe devia nada e, por isso, nada tinha para lhe agradecer.

«Eu é que lhe devo tudo... Devo-lhe os caminhos onde corri descalço, a vida dos pardais, as águas puras, o chão dos currais. Devo-lhe a firmeza do carácter na força dos penedos. O amor alegre pelo trabalho, a capacidade de estar inteiro em cada circunstância. Devo-lhe a aldeia [S. João do Campo] que trago sempre dentro de mim!», declarou, então, o sacerdote.

Em 2020, em plena pandemia de covid-19, na XXIII Edição dos Galardões “A Nossa Terra”, João Aguiar Campos recebeu o “Galardão Carreira”, numa sessão no Altice Forum Braga.

Nesse mesmo ano e lugar foi distinguido com a Medalha Grau Ouro da Câmara Municipal de Braga. A mesma distinção foi atribuída, a título póstumo, ao cónego Fernando Monteiro, que foi Administrador da Empresa Diário do Minho (no tempo em que João Aguira Campos era diretor do jornal) e  presidente da Irmandade de São Bento da Porta Aberta.

Em 19 de janeiro de 2022, o Presidente da República condecorou o cónego João Aguiar Campos com o grau de Comendador da Ordem do Mérito, numa cerimónia restrita no Palácio de Belém, a qual contou com a presença de D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, e de D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e atual presidente do Conselho de Gerência do Grupo r/com, Renascença, Comunicação Multimédia.

Na ocasião, o antigo presidente da Rádio Renascença disse ter recebido a distinção com surpresa. «Senti-me confuso. Tanto que, um dia depois, devolvi a chamada para confirmar se não havia engano», escreveu o sacerdote na sua página pessoal.

Marcelo Rebelo de Sousa explicou a condecoração com o papel de João Aguiar Campos na Comunicação Social, como professor e como escritor.

Em 25 de março de 2023 João Aguiar Campos celebrou os 50 anos de ordenação sacerdotal na sua terra natal, S. João do Campo, numa eucaristia presidida pelo Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, e com a presença de familiares e amigos. Na ocasião, disse que gostaria de ser recordado como um homem que, nalgum momento, «alguma coisa de bem» fez para alguém. 

O padre João, como gostava de ser tratado, além da boa disposição que irradiava era um otimista confesso e nunca de furtava a escutar e a dirigir palavras de ânimo, de confiança, de alegria onde estivesse. Nem que fosse através do humor ou de anedotas, de que era exímio contador.

Dizia que foi a ruralidade da sua terra, S. João do Campo, e concretamente a «dureza» da serra no Gerês que determinou a sua maneira de ser, a sua maneira de levar a vida e também o uso de metáforas nos seus textos.

João Aguiar Campos tinha uma veia poética peculiar e uma escrita simples e muito cristalina que desenvolveu do contacto com a natureza e da sua missão como sacerdote: «Um padre deve ser um poeta de alguma forma porque ele vai-se encontrar com o mais íntimo da palavra».

Considerava-se como artesãs da aldeia que de farrapos e fios velhos, nos seus teares, faziam mantas bonitas, com muita cor. Os seus pensamentos, dizia, eram «suficientemente abertos» e também «provocantes»    de modo a interpelar, fazer refletir o leitor.

Dizia o cónego João Aguiar Campos que é no escuro que os nossos sentidos ficam despertos. Houve-se melhor, procuramos mais a luz e «as luzes pequeninas acendidas no escuro têm uma força enorme».

E com o passar da idade «apuramos mais os sentidos, porque aprendemos o vagar, aprendemos a não ser colecionadores sôfregos, nem de pessoas, nem de situações, aprendemos como um jogador de futebol a não correr atrás de todas as bolas, porque aprendemos a saber onde a bola vai cair. A experiência, a idade dá-nos esta sabedoria, este conhecimento das coisas».

João Aguiar Campos viveu parte da sua vida em Lisboa, onde assumiu durante mais de dez anos a presidência do Conselho de Gerência da Rádio Renascença. 

Em 2016, por razões de saúde, regressou a Braga e às suas raízes, passando a dedicar-se mais à escrita e fotografia, aquilo que mais gostava de fazer, numa linguagem bastante ligada à terra, metafórica e poética, com um objetivo claro: «A minha vocação é falar aos homens das coisas de Deus». 

Apesar da doença oncológica que nos últimos anos 'carregava', o cónego João Aguiar Campos nunca perdeu o sorriso nem a coragem e a esperança. «A doença é uma circunstância. É um momento e é realmente um espaço, também, da  nossa humanidade e da nossa relação com Deus», disse numa entrevista a Flávia Barbosa, quando questionado sobre o momento difícil que atravessava.

Em 2017, pressentindo que tinha pouco tempo de vida terrena à sua frente, escreveu, no seu livro “Circunstâncias”: «Ando a viver os segundos como se fossem longos pedaços de tempo; tanto que às vezes me calo para os ouvir contados no salto dos ponteiros».

Mas a ideia de morte, embora presente no seu dia a dia, não o inquietava e era por si encarada como uma passagem.

«A morte treina-se, é um culminar da vida e ela não tem poder nenhum para além do seu poder sobre o tempo. Ela fecha o capítulo visível e temporal; a vida não acaba mas transforma-se e eu quero transmitir a ideia de vida. Hoje esta ideia faz parte felizmente da pastoral da saúde», declarou, à Agência Ecclesia, aquando da publicação do seu livro “Morri Ontem” que escreveu com o propósito de colocar em reflexão temas como a amizade e a morte acompanhada. 

Comunicador nato, João Aguiar Campos partilhava com frequência as suas reflexões na rede social Facebook. Desses apontamentos divulgados on-line resultaram até dois livros: “Frangmentos” (reflexões soltas) e “InTemporal” (reflexões mais estruturadas).

E era através desta página on-line que se lhe conhecia também algum do seu humor, mesmo nesta última fase difícil da sua vida, em que numa das suas publicações escreveu:  «O humor ajuda a descomplicar… Há dias disse a alguns sobrinhos: “se quereis estar comigo, aproveitai agora! No dia do funeral não vos dirijo palavra e, no sétimo dia, nem apareço!”»

Em Braga mantinha, de alguma forma, uma ligação à aldeia onde nasceu, cultivando uma horta que, além de preencher o seu gosto pela terra, funcionava para si como um ginásio, respondendo às necessidades de alívio físico e psicológico perante os efeitos secundários dos tratamentos.  

O cónego João Aguiar Campos deixa um conjunto vasto de obras publicadas: “Intervalos”, “Encontros”, “Anseios”, “Transparências”,  “Circunstâncias” (2016), “Rio abaixo” (2017), “Descalço também se caminha” (2019), “Morri ontem” (2019), “Fragmentos” (2019), “InTemporal” (2021), “Flores de Feno” (2021) e “Cochichos” (2023) É ainda co-autor de “Acordar com Deus” e “Media, redes e comunicação: futuros presentes”.

Numa das suas últimas declarações, precisamente no dia em que celebrou as Bodas de Ouro sacerdotais, disse que o melhor elogio que lhe podiam fazer era dizer que o padre João, sendo um padre secular, tornou-se num místico de cada dia.

Sacerdotes da Arquidiocese de Braga, trabalhou durante 40 anos na pastoral da comunicação social, nomeadamente como jornalista e director do Diário do Minho, Presidente do Conselho de Gerência da Renascença e Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja Católica.

«Eu nasci sacerdotalmente em São João do Campo, cresci em São João do Campo e mesmo quando não vivi em São João do Campo, São João do Campo viveu sempre comigo», disse nas Bodas de Ouro Sacerdotais.