Arquidiocese de Braga -

12 junho 2024

Seguir a voz da consciência pode salvar vidas

Fotografia Fundação Aristides de Sousa Mendes

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga celebra o Dia da Consciência e recorda Aristides de Sousa Mendes

A Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga associa-se à comemoração do Dia da Consciência, celebrado no dia 17 de junho de cada ano, em homenagem a Aristides de Sousa Mendes. O cônsul de Portugal em Bordéus começou, nesse dia, em 1940, a salvar a vida de dezenas de milhares de pessoas que pretendiam escapar às tropas nazis que tinham invadido a França. Eram muitos judeus, mas “Aristides não fazia, nunca fez, distinções. Pobres, ricos, médicos, judeus, republicanos, monárquicos, todos eram merecedores de viverem” [1]. Concedeu-lhes os vistos que lhes permitiram escapar do país, atravessar Espanha e chegar a Portugal. Ter contrariado as ordens que recebera, em nome das vidas que se impunha resgatar, fez com que fosse afastado da carreira diplomática e passasse a viver em condições económicas dramáticas.

O Dia da Consciência começou a ser assinalado em 2020, estimulado pelo Papa Francisco, que considerou que o patrono deveria ser Aristides de Sousa Mendes por, justamente, ter decidido “seguir a voz da consciência” e salvado “a vida de milhares de judeus e outros perseguidos” [2]. O Papa Francisco aproveitou o exemplo do cônsul de Portugal em Bordéus para instar a “que a liberdade de consciência possa ser respeitada sempre e em todo o lugar e que cada cristão possa dar exemplo de coerência, com uma consciência recta e iluminada pela Palavra de Deus”.

“A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social”, indica a Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo actual [3].

Ao dedicar o Dia da Consciência a Aristides de Sousa Mendes, enaltece-se eloquentemente a liberdade de consciência e a singular relevância de a respeitar sempre que os valores da humanidade o imponham. Movido pela fidelidade aos valores do Evangelho, o diplomata português tomou a firme decisão de salvar vidas, o que lhe valeu ter sido condenado – ele e a família – ao ostracismo e à miséria pelo regime de Salazar.

“Mesmo que me destituam, só posso agir como cristão, como me dita a minha consciência”, afirmou o diplomata, acrescentando: “Se estou a desobedecer a ordens, prefiro estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus” [4].

Se a acção de Aristides de Sousa Mendes é considerada como “a maior acção de salvamento empreendida por uma pessoa individual” [5], importa recordar outros portugueses que, nesses anos de terror, também escutaram a voz da consciência sem medo: os diplomatas Carlos Sampaio Garrido, embaixador de Portugal na Hungria, e Alberto Teixeira Branquinho, encarregado de Negócios em Budapeste, que salvaram muitas centenas de pessoas; o padre Joaquim Carreira, reitor do Pontifício Colégio Português em Roma, que deu abrigo a dezenas de judeus e antifascistas; e o operário Joseph de Brito Mendes, imigrante português em França, que – com a sua mulher, Marie-Louise Brito-Mendes – escondeu a filha dos judeus polacos seus vizinhos.

Em 2024, neste nosso mundo atormentado pela crise climática, pela pobreza e pela miséria, por conflitos e por guerras, que tantas migrações forçam; desassossegado pela possibilidade de uma intensificação bélica, culminando no uso de armas nucleares; receoso quanto às consequências nefastas de possíveis desenvolvimentos da Inteligência Artificial; outros homens e mulheres há, em múltiplos cantos do planeta, a seguir os exemplos dos que, em tempos mais sombrios, se comprometeram a salvar vidas. Fazem-no frequentemente correndo riscos. Mas nem sempre é necessária muita coragem. Basta, tantas vezes, que a consciência dite a cada um que, indo contra a corrente, interrompa os ciclos que fomentam o ódio, razão primeira de tantas vidas destroçadas.

 

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga

12 de Junho de 2024

 

 

 

[1] e [4] Miriam Assor – Aristides de Sousa Mendes. Um justo contra a corrente. Guerra e Paz, 2009

[2] https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html

[3] https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-06/papa-francisco-audiencia-geral-liberdade-consciencia-respeitada.html

[5] https://fundacaoaristidesdesousamendes.pt