Arquidiocese de Braga -

25 novembro 2016

O que nos une a todos

Fotografia

Discurso na abertura do I Fórum Missionário.

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O que nos une a todos

Ninguém deseja dias de negrume. Tentamos evitá-los de todos os modos. Causam-nos desconforto, ansiedade. Desconcertam-nos. Um dia, uma hora até, de escuridão parece uma eternidade. E é precisamente nesta dilatação do tempo que grandes figuras da Humanidade se questionam, e nos questionam, sobre a identidade que nos caracteriza. Respondermos à pergunta “o que nos une a todos?” apenas é possível na medida em que formos capazes de responder à exigente pergunta “quem sou eu?” ou, se preferirmos, “quem somos nós como povo?”.

Na Sagrada Escritura esta dinâmica é muito clara. Recordo, a título de exemplo, o Exílio da Babilónia. Durante 50 anos, os hebreus do Reino de Judá foram mantidos em cativeiro após um penoso processo de deportação. É neste arco de tempo que uma parte significativa do livro do Génesis é escrita. Um livro fascinante que nos desconcerta e nos confronta com os traços de identidade presentes em todos nós: a paixão, a pureza, a curiosidade e a fidelidade mas também, por outro lado, a inveja, a dor, a traição e o poder. 

Foram existindo, infelizmente, diversos outros cativeiros ao longo da nossa história. Penso, de modo particular, nos refugiados do Norte de África. A pobreza da nossa fraternidade e indiferença só é comparável à imensidão daquele mar transformado em cemitério. Será isto o que nos une? Mas recordo também o período negro da história recente da Humanidade que foi o Holocausto. Grandes escritores como Primo Levi, Imre Kertèsz ou Elie Wiesel, prémio Nobel da Paz, deixaram-nos testemunhos reais do quanto a crueldade humana pode confundir-se com o mais horrendo filme de ficção científica. E no meio desta ausência do sentido, Elie Wiesel dizia-nos: “sem memória, a nossa existência seria estéril e opaca, como uma cela de prisão na qual nenhuma luz penetra; como uma tomba que rejeita o vivente.  […] Para mim, a esperança sem memória é como a memória sem esperança”.

 

Pode descarregar o PDF na íntegra abaixo.


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