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14 Jul 2019
Um coração semelhante ao Seu
Homilia nas Ordenações Sacerdotais
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A liturgia do último Domingo alertava-nos para uma verdade incontestável da qual nem sempre temos consciência. “A messe é grande e os trabalhadores são poucos” (Mt 9,37). Uma verdade no tempo de Cristo mas que actualmente assume uma acuidade relevante.

O dia das ordenações é momento para darmos graças a Deus pelo dom das vocações que Ele nos oferece e que são cuidadas pelas nossas equipas de formação dos Seminários, a quem a Arquidiocese está sempre grata, pelo trabalho realizado mas sobretudo pela paixão que colocam no discernimento e acompanhamento vocacional. Dando graças, não podemos fugir à verdade de uma Arquidiocese que se depara com dificuldades para responder às solicitações das comunidades. São muitas as necessidades e todos temos de nos sentir comprometidos. Somos cada vez menos sacerdotes e as actividades pastorais são mais diversificadas e complexas. É importante que ninguém ignore esta realidade.

Os números não são tudo na vida da Igreja. No seu pragmatismo, tornam-se interpelações que não podem ser ignoradas. Deixo hoje apenas alguns dados para tirarmos conclusões.

Actualmente somos 372 sacerdotes diocesanos, 340 a residir na Arquidiocese e 32 a residir fora. Temos, ainda, a colaborar connosco 7 sacerdotes das dioceses de Angola e 15 religiosos de diversas Congregações. A trabalhar na Arquidiocese somos 340 de Braga e 22 (de Angola e de Institutos Religiosos), o que perfaz 362. Quanto aos párocos, somos 310 diocesanos mais os 12 de fora.

Um dado importante é que 22 sacerdotes de Angola ou dos Institutos Religiosos têm ao seu encargo 35 paróquias. É de prever que os Religiosos continuem com as 13, mas os de Angola, que neste momento coordenam 22 comunidades, podem deixar-nos de um momento para o outro.

Em termos de média etária, temos 119 sacerdotes com menos de 50 anos, 140 entre 50 e 75 anos e 116 com mais de 75 anos. A média etária em 2012 era 58,86 anos e hoje é de 65,31 anos.

A estes dados teremos de acrescentar que existe, todos os anos, um deficit de cerca de 10 sacerdotes entre os que morrem e os que são ordenados. Isto significa que daqui a cinco anos serão ainda mais os sacerdotes com 75 anos e o número dos sacerdotes rondará os 322.

Uma homilia em dia de ordenações terá de conduzir a uma séria reflexão. Não podemos cair em alarmismos e nunca permitiremos um clima de desmotivação. Sabemos que caminhamos para uma realidade sociológica totalmente diferente. O tempo corre veloz e lança alertas para que as comunidades se convençam desta realidade e se abram a novas soluções. Não poderemos continuar na lógica de ter um padre por cada paróquia. Existem várias hipóteses a ponderar e todos, de um modo sinodal, terão de aportar as suas reflexões, criando um clima de mudança e fazendo tudo com serenidade e sentido positivo. Também os sacerdotes não poderão continuar com esquemas tradicionais. Somos menos e as forças físicas diminuem. Teremos de, com alegria e dedicação, encontrar caminhos que não dependem apenas do Arcebispo e dos órgãos diocesanos. Deus está com a Sua Igreja. O Espírito sugere caminhos de organização pastoral diferentes. Não podemos fazer de conta e esperar que os outros resolvam os problemas do amanhã.

Um pormenor que emerge sempre é o das celebrações dominicais e dos sacramentos. É fácil acomodar-se à situação correndo esfalfadamente no intuito de responder aos desejos de todos. Importa mudar!

Sabemos que a liturgia “é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força” (SC 10). De entre as acções litúrgicas, a Eucaristia é aquela que maior expressão tem nas nossas comunidades paroquiais e que marca o seu ritmo. É, por isso, compreensível que alterações relativas aos hábitos celebrativos, instituídos nas comunidades, sejam de difícil assimilação. Contudo, não podemos ignorar as implicações dos números antes apresentados. Não estamos a conseguir uma renovação do clero que nos permita manter as práticas e costumes que até há bem pouco tempo se observavam com facilidade. Esta é a grande verdade!

As comunidades precisam de estar conscientes destas mudanças e dóceis à acção do Espírito Santo, que guia a Igreja de Jesus Cristo. Devem perscrutar novas formas de organizar a celebração e vivência do Domingo. A este dado acresce o facto que o sacerdote deve celebrar apenas as Eucaristias determinadas pelo Código do Direito Canónico. Havendo grave necessidade pastoral, que consiste em não privar um grupo considerável de fieis de participar na Eucaristia, o Bispo diocesano pode autorizar o sacerdote a celebrar duas ou três eucaristias nos Domingos e festas de preceito (Cf. Cân. 905 §2). Celebrar mais do que três eucaristias nos Domingos ou festas de preceito é uma possibilidade que está vedada ao sacerdote e que o Bispo diocesano também não pode autorizar. Acresce ainda que a eucaristia é o local onde a comunidade se reúne, o que não se compadece com a escassez de tempo para acolher as pessoas e disponibilidade interior para preparar e viver convenientemente os mistérios sagrados.

Não podemos ignorar que cada vez são mais os sacerdotes a quem se confiam muito mais do que três paróquias, o que impede que todas as paróquias tenham celebração eucarística ao Domingo. Mas há outras possibilidades a considerar: a articulação com as missas Vespertinas, a Celebração Dominical na ausência do presbítero, confiando a presidência a leigos devidamente preparados; e, não menos importante, a efectiva articulação das unidades pastorais e consequente deslocação dos fiéis dentro das mesmas. Poderá ser custosa para muitos e impossível para alguns. Por aqui passa a consciência eclesial, de pertença à Igreja, que poderá exigir sacrifícios mas sempre na alegria de que “não podemos viver sem o Domingo“, ou seja, sem eucaristia. Pregamos em demasia a obrigação da prática dominical. As coisas não acontecem por imposição. Importa uma redescoberta do que significa ser discípulo de Jesus, onde a paixão pelo encontro fraterno e comunitário acontece como prioridade no meio de possíveis actividades.

O discípulo não consegue viver sem uma relação íntima com o mestre. Não me tenho cansado de insistir na prioridade “do ser” sobre “o fazer”. Em primeiro lugar experimentamos o dom do amor e só depois mostramos o que ele significa para nós. Convido novamente a que leiam a Carta Pastoral “Uma alma para o corpo da Igreja”.

Enfrentamos muitos problemas. Creio que, parte deles, decorrem da falta de uma espiritualidade devidamente estruturada que não se separa da vida mas cresce no meio das vicissitudes do peregrinar humano, dos enigmas, perplexidades e interrogações. Com espiritualidade tudo se ultrapassa. Sem ela, a vida retrocede. E se outrora a espiritualidade era uma espécie de aventura solitária, hoje ninguém progride se não se empenhar numa espiritualidade colectiva, “do nós“ como diz o Papa Francisco. Crescemos juntos e definhámos no individualismo por mais esforço que façamos.

O Evangelho de hoje apresenta-nos um doutor da lei, conhecedor de tudo quanto estava escrito, a fazer perguntas para experimentar Jesus. Aos seus conhecimentos Jesus acrescenta “Faz e viverás”. Explicitou, deste modo, “o fazer” na desafiante parábola do Samaritano. Isto faz-me pensar na extrema importância “do saber” aliado ao “ser”. Dito de outro modo, o “saber” sem “fazer” é quase inútil, são pensamentos sem resultados concretos. Também não me canso de pedir aos sacerdotes e leigos um compromisso concreto no saber.

Não seremos capazes de progredir sem uma sólida formação permanente e abrangente. Com menos activos, teremos de fazer ainda melhor, o que exige uma perspicácia que só o estudo consegue garantir. Limitar-se a repetir é fácil. Ousar caminhos novos só é possível com reflexão e estudo.

Para “ser” necessitamos de “saber” e o “saber” conduz-nos ao “fazer” numa contínua reciprocidade. Os outros devem “ver as obras que meu Pai do céu diz para fazer”. A Palavra de Deus é oferecida de modo a ser vivida. Na parábola do Evangelho, Jesus incita o doutor da lei “a passar da ortodoxia estéril à ortopaxis”. 

Não existe verdadeiro culto quanto este não se traduz no serviço ao próximo. O samaritano teve compaixão. Os outros dois viram mas os corações permaneceram fechados. Poderemos conhecer toda a Sagrada Escritura, todos os textos e rubricas litúrgicas, toda a teologia sistemática e compêndio de pastoral, mas se formos meros espectadores, ignorando o sofrimento humano, não estaremos em sintonia com o Coração de Jesus que tem compaixão, sofre connosco, aproxima-se, identifica-se.

O caminho mais credível da evangelização são os gestos concretos, gratuitos, como aqueles que o Bom Samaritano nos testemunha. Quando estes não acontecem, a pregação é falsa e a vida dos evangelizadores torna-se um engano que não convence ninguém. O Samaritano não pergunta. Não quer saber o que aconteceu. Viu a necessidade e com toda a prontidão oferece ajuda.

Perante o cenário das nossas comunidades, e olhando para a realidade do nosso presbitério, pedimos, na proximidade da primeira festa de S. Bartolomeu dos Mártires, a 18 de Julho, a causa da renovação da Arquidiocese.

Damos graças a Deus por todos os presbíteros que vivem com paixão o seu sacerdócio, agradecemos às equipas formadoras dos seminários que nos oferecem, anualmente, este dom, assim como aos pais dos novos sacerdotes. Com S. Bartolomeu dos Mártires sejamos um só coração e uma só alma que se entrega a Deus, que quer conhecer o dom da Palavra e fazer da sua vida um testemunho da bondade de Deus.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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