Arquidiocese de Braga -

17 novembro 2013

PARA SER IMAGEM DE JESUS

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Homilia na Eucaristia da Abertura Solene dos Seminários.

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Para ser imagem de Jesus

Homilia na Eucaristia da Abertura Solene dos Seminários

A proximidade do último domingo do Ano Litúrgico coloca-nos perante perspetivas escatológicas que parecem um motivo de terror e de temor. Sabemos, porém, o valor das palavras de Cristo que sublinham a força e coragem que nascem da atitude de perseverarmos até ao fim no projeto que Ele colocou, e coloca permanentemente, nas nossas mãos. Projeto sempre inacabado e que exige o nosso trabalho. S. Paulo recorda que se tudo é dom de Deus, o trabalho, no sentido material e espiritual, é encargo a que ninguém pode fugir. De cada um depende esta presença de Cristo no mundo como a verdadeira alternativa salvadora do mesmo mundo.

Daí que a única coisa que temos, como Igreja, para oferecer ao mundo é Cristo. É Ele o Salvador e indicador de rumos de salvação. Nós podemos e devemos ser Seus instrumentos mas teremos de nos deixar trabalhar, colaborando com a nossa vontade, para que Ele se forme em nós. Trabalho lento e persistente a exigir recomeços permanentes perante os desânimos ou quedas. Só que não podemos distrair-nos deste objetivo e sentido único.

O Seminário é essa oferta da Arquidiocese para que, quem o compõe, possa realizar esta aventura de deixar que “Cristo cresça e eu diminua”. É responsabilidade pessoal, no sentido de resposta a um chamamento personificado, único e irrepetível, e, por isso, repito, dirigido a cada um. Mas é também responsabilidade eclesial pelo esforço permanente que a Igreja, espalhada por todas as comunidades e constituída, a maior parte das vezes, por pessoas simples, pobres e humildes, mas extremamente generosas, faz para que a vida dentro do Seminário seja digna através da oração e da generosidade. Trata-se dum jogo que articula a gratidão a Deus e o reconhecimento da dádiva, alegre e responsável, de toda a Arquidiocese que o Seminário nunca pode esquecer.

Permitir que Cristo se forme para ser “Seu” sinal no mundo, passa, segundo a oração feita para esta semana, por um sonho e projeto que quotidianamente deve mostrar trabalho humano e espiritual. Trata-se de ser “imagem de Jesus”. Não imagens desfocadas ou compostas pela imaginação pessoal. Cristo é sempre Cristo e o “rosto” está no Evangelho a encarar como vida. Não nos podemos contentar com caricaturas ou visões pessoais que cada um interpreta seguindo uma vida medíocre ou repleta de frivolidades. A meta de Cristo é alta.

Depois de deixar-se trabalhar, em aliança dum trabalho a dois (a graça e a colaboração) emergem atitudes que se aprendem quotidianamente. A mesma oração é explícita: ver, amar e servir.

Como nunca, é necessário ser capaz de ver o mundo, onde e a quem iremos servir, com os lhos de Jesus. Existem outras perspetivas e enquadramentos. Sabemos que na concorrência não ganhamos. Só devemos ter este olhar e saber que, à partida, é de compaixão para que tenhamos paixão no ministério. O ver não é inerte ou curioso. É ver para entrar em jogo numa atitude comprometida.

Só o amor nos afirma. Ele tem muitas características. Importa que os sentimentos de Cristo passem por tudo quanto somos e fazemos no contacto com as pessoas. Se o mundo moderno acredita no emotivo, nós mostramos os sentimentos dum Cristo que sofre com quem sofre e se alegra com quem se alegra, “fazendo-se um” com cada um colocando aí aquele amor de Cristo que fixa os olhos nas pessoas para testemunhar a Sua presença nos variados momentos que pintam a história das mesmas, das famílias, das empresas, etc.

Se todos os sentimentos de Cristo devem ser descobertos e treinados, tudo se sintetiza no caminho do serviço. Não se trata dum mero voluntariado exercido ocasionalmente. Os olhos são um apelo permanente, não ao exercício do poder, mas à simplicidade de gastar a vida, reconhecendo-nos filhos dum único Pai. Os marginais e os das periferias estão aí à nossa espera, e convida-los para o “almoço” da nossa vida não é ser imagem de Cristo?

Neste dia em que todas as paróquias recordam os Seminários, pensemos no povo da Arquidiocese a quem Cristo quer oferecer a Sua presença. Veremos que o discurso do evangelho de hoje não é catastrófico. É alerta para que acordemos para a felicidade de servir o mundo, em nome de Cristo, e como Arquidiocese que pretende ver o mundo para o amar, servindo-o como Jesus.

† Jorge Ortiga, A.P.

Seminário Conciliar de Braga, 17 de novembro de 2013.